SILVANA ARANTES
DA REPORTAGEM LOCAL

"Vivir para Contarla", primeiro volume (entre três previstos) das memórias do escritor colombiano Gabriel García Márquez é um fenômeno editorial.
Lançado no último dia 10, simultaneamente nos países de língua espanhola, o livro vendeu 300 mil exemplares na Espanha, em oito dias. "Num país de 35 milhões de habitantes, é espantoso", diz Claudio López, editor da obra. Ele prepara nova tiragem para a próxima semana.
Na Colômbia, um caminhão que transportava exemplares para o interior do país na véspera do lançamento foi roubado. A carga foi redirecionada e vendida na capital a leitores mais afoitos.
No México, a segurança no transporte dos livros foi reforçada. Na Argentina, as livrarias abriram lista de reserva uma semana antes do lançamento.

Traduções
As edições em italiano e em alemão de "Vivir para Contarla" são as únicas que devem ficar prontas ainda neste ano, num universo previsto de 35 traduções.
O lançamento brasileiro está garantido pela Record, mas ainda sem data definida. A Livraria Cultura programa para daqui a duas semanas a venda de exemplares importados, a R$ 77,76 cada um. Na Fnac, a previsão é oferecer o volume em janeiro, a R$ 109.
A tradução ao português deverá ser feita pelo escritor Eric Nepomuceno, que já traduziu outros quatro livros de Gabriel García Márquez, de quem é amigo.
"Traduzir o Gabo é sempre um prazer, mas essa terá um encanto extra, por eu ter acompanhado o início desse livro, os desvios, as idas e vindas", diz.
Nepomuceno conta que em 89 Márquez lhe falou pela primeira vez da idéia de escrever sua autobiografia. O editor López diz que o autor de "Cem Anos de Solidão" trabalhou ininterruptamente em "Vivir para Contarla" nos últimos dois anos, quando seu câncer linfático já havia sido diagnosticado.
O livro, que compreende infância e juventude do autor, teve nove versões, e outras 400 mudanças foram introduzidas na versão final. Editor e autor prevêem que o segundo volume das memórias esteja pronto em 2004.

Decisão
Na primeira página de "Vivir para Contarla" depara-se com Gabo aos 23 anos de idade, tomando a decisão que considera a mais importante de sua carreira.
"Quer dizer: de toda a minha vida", diz, oferecendo a chave de suas memórias. Vida e obra de Gabriel García Márquez são uma coisa só. Razão pela qual ele descreve sua primeira "vivência de escritor" como a revolta por ter as fraldas sujas no berço novo. "Não se tratava de um preconceito higiênico, mas de uma contrariedade estética" é a explicação.
Nas 579 páginas do livro, o leitor reconhecerá fatos, personagens e paisagens que García Márquez transpôs para a ficção. E será brindado com a revelação de mais de um segredo, para concluir com Gabo que "a vida não é o que se viveu, mas o que se recorda e como se recorda para contá-la".


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