|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
LIVROS/LANÇAMENTOS
"O ESCÂNDALO POLÍTICO"
Caso Clinton/Lewinsky motivou John B. Thompson
Sociólogo aborda fenômeno que abala vidas públicas
CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
ESPECIAL PARA A FOLHA
Escândalos políticos não
chegam a ser novidade em lugar nenhum do mundo. Mas eles
nunca tiveram tanta visibilidade
como nos últimos 20 anos. Não há
melhor exemplo do que o caso
Bill Clinton/Monica Lewinsky,
que ocupou a imaginação de bilhões de pessoas durante meses
no final da década de 90.
Foi esse episódio que motivou o
sociólogo britânico John B.
Thompson, professor da Universidade de Cambridge, a escrever
"O Escândalo Político", que na
edição brasileira tem um interessante e oportuno prefácio em que
o tradutor, o psicólogo Pedrinho
Guareschi, tenta fazer aplicações
das teorias de Thompson ao país.
Thompson classifica os escândalos em sexual, financeiro e de
poder. Todos são políticos porque
a enorme exposição que lhes é dada, quando envolve ocupantes de
cargos públicos, tem implicações
claras no desempenho do governo e no processo eleitoral, como o
caso Lewinsky demonstrou.
Diversos presidentes americanos antes de Clinton tiveram casos extraconjugais sem que a opinião pública, que os desconhecia,
se importasse. O que singularizou
o episódio Clinton foi o fato de
que ele se tornou absolutamente
público. Ademais, diz Thompson,
os escândalos políticos envolvem
o comportamento de pessoas
consideradas exemplares em assuntos fundamentais de moralidade social. Por isso, eles se tornam centrais no debate coletivo.
Thompson tem, como muitos
intelectuais críticos, a tendência
de exagerar o papel dos meios de
comunicação de massa na sociedade contemporânea. Deixa de
lado outras variáveis importantes,
o que simplifica demais a análise.
Por exemplo: o presidente François Mitterand também tinha
uma amante, tão reconhecida do
público que até foi ao seu enterro,
mas a França nunca deu muita
bola ao caso, embora ele não fosse
secreto. Talvez por a França não
ter passado por uma experiência
puritana tão intensa como a dos
EUA, esse tipo de incidente não se
torna um escândalo político.
Thompson conclui que "a cultura do escândalo político dificilmente facilitará a tarefa de criar
uma forma de democracia mais
forte e inclusiva". Felizmente, da
conclusão ele não extrai nenhuma
receita autoritária como frequentemente alguns de seus colegas
sugerem, como a instituição de
práticas de controle público sobre
o conteúdo jornalístico divulgado
pelos meios de comunicação.
Ao contrário, o autor chega até a
realçar aspectos positivos do fenômeno do qual é crítico, resultantes da reflexão coletiva que esses assuntos provocam. Os americanos, no episódio Clinton/Lewinsky, por exemplo, foram obrigados a rever seu puritanismo e o
colocaram, na hierarquia dos valores comuns da nação, abaixo do
pragmatismo, já que absolveram
o presidente devido ao seu bom
desempenho administrativo.
Mesmo quem não concorda
com as conclusões de Thompson
haverá de reconhecer o alto grau
de sofisticação intelectual de seu
trabalho. O tema, relevante, é tratado com uma abordagem metodológica séria, documentação farta e detalhada (ainda que praticamente limitada ao universo anglo-americano) e originalidade.
Além de tudo, com estilo que, se
não chega a ser atraente, ao menos não incorre no "sociologuês"
que com frequência afasta leitores
leigos de idéias instigantes. Não
foi à toa, nem imerecidamente,
que esse livro conquistou alguns
dos mais importantes prêmios
das ciências sociais no mundo.
Carlos Eduardo Lins da Silva é diretor-adjunto de Redação do jornal "Valor"
O Escândalo Político
Autor: John B. Thompson
Editora: Vozes
Quanto: R$ 38 (328 págs.)
Texto Anterior: Palestra: Curso aborda HQs e comunicação visual Próximo Texto: "O Demolidor de Presidentes" Historiadora traça retrato psicológico de Carlos Lacerda Índice
|