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"O DEMOLIDOR DE PRESIDENTES"
Historiadora traça retrato psicológico de Carlos Lacerda
GILBERTO FELISBERTO VASCONCELLOS
ESPECIAL PARA A FOLHA
Este é o melhor livro sobre
Carlos Lacerda (1914-1977), o
jornalista e político que derrubou
Getúlio Vargas (54) e Jango (64).
A historiadora Marina Gusmão
traça um retrato psicológico de
quem investe contra todos os rivais, a começar por seu pai, Maurício Lacerda, que era comunista e
com quem brigou no episódio da
separação de sua mãe.
Depois veio a birra com Luis
Carlos Prestes. Sua desavença
passional com Vargas só começou em 1943, que se segue no pós-morte, atribuindo um caráter
apócrifo à "Carta Testamento" de
1954; mas o ressentimento maior
de Carlos Lacerda foi ter sido expulso do Partido Comunista Brasileiro em 1939, com a pecha de
traidor, delator e falsário.
Detalhe: o nome Carlos Frederico de Lacerda, homenagem feita
pelo seu pai, é a mistura de Karl
Marx com Friederich Engels.
Com a saída traumática do partidão, ficou sem trânsito no meio
da intelectualidade de esquerda,
sendo até expulso da casa de Álvaro Moreira e Eugênia Moreira.
A tese de Marina Gusmão, retomando a abordagem psicanalítica
de Gondin da Fonseca, é que Lacerda encarou o partidão como
mãe que o rejeitou. Vargas foi seu
pai projetado como demônio.
Julgando-se vítima, Lacerda
não perdoou a aliança do partidão com Vargas, isto é, o Prestes
"queremista". Isso tudo em meio
à automistificação de homem
providencial, herói, mártir, cuja
obsessão era ser presidente da República. Pela via do golpe. Aliás, o
golpismo é o que define a sua personalidade política.
É famosa a formulação dele sobre o retorno de Vargas: "O sr.
Getúlio Vargas senador não deve
ser candidato à Presidência. Candidato, não deve ser eleito. Eleito,
não deve tomar posse. Empossado, devemos recorrer à revolução
para impedi-lo de governar".
Lacerda tinha tesão no golpe de
Estado. Na década de 40 brigou
com o poeta Jorge de Lima, com o
pintor Portinari, com o jornalista
Samuel Wainer. Na década de 40
se aproximou dos EUA, difamou
o cineasta Orson Welles, se indispôs com Ary Barroso, foi contra a
construção do estádio Maracanã,
fundou o jornal "A Tribuna da
Imprensa" bancado pela Standart
Oil para atacar o nacionalismo e a
criação da Petrobras.
Detratou o Iseb (Instituto Superior de Estudos Brasileiros), em
ideólogo do capital estrangeiro e
das oligarquias rurais. Governador do Rio, recebeu ajuda financeira oriunda da Aliança para o
Progresso, ganhou o apodo de
"meta-mendigos" e em 64, sintonizado com a CIA, derrubou João
Goulart sobre quem dizia que era
"dono de um cabaré em São Borja" e explorador de prostituta.
Acabou cassado pelos militares.
Morreu desiludido. Não chegou à
Presidência da República.
Gilberto Felisberto Vasconcellos é
professor de ciências sociais da Universidade Federal de Juiz de Fora (MG) e autor de "Glauber Pátria Rocha Livre" (Senac), entre outros
O Demolidor de Presidentes
Autor: Marina Gusmão de Mendonça
Editora: Codex
Quanto: R$ 39 (384 págs.)
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