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FOTOGRAFIA
Chico Albuquerque ganha tributo no MIS-SP, que exibe fotos comerciais e imagens do filme "É Tudo Verdade"
MIS expõe pioneiro da imagem publicitária
EDER CHIODETTO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Quando a fotografia publicitária
começou a ser efetivamente praticada no Brasil, em 1949, ela tinha
um estilo inventivo e romântico
que denotava a época e o seu criador, o cearense Francisco Albuquerque (1917-2000). Imagens
pioneiras, além de retratos e ensaios, podem ser vistos a partir de
hoje na "Retrospectiva Chico Albuquerque" no MIS paulistano.
Filho de um bancário que tinha
a fotografia e o cinema como hobbies, Chico Albuquerque, o primogênito de nove filhos de Adhemar Bezerra Albuquerque, estreou no cinema -um documentário sobre açudes- aos 15 anos
por recomendação do pai, que
não pôde se desligar do banco para aceitar um convite de direção.
Seu Adhemar montou depois,
em 1934, um estúdio fotográfico
para Chico. Aos 17 anos, era um
profissional da área, um dos poucos naquela época em Fortaleza.
Em 1942, o cineasta Orson Welles
foi ao seu estúdio e o contratou
para fazer o still de "É Tudo Verdade", rodado em parte no Ceará.
O filme, porém, ficou inacabado. Segundo uma das versões, o
cineasta teria recebido uma maldição de um pai-de-santo indignado pelo não-pagamento da sua
participação no filme. Supersticioso, Welles nunca mais quis levar o filme adiante. As fotografias
de Albuquerque desapareceram.
Seu filho, Ricardo Albuquerque,
no entanto, conseguiu reencontrar algumas na Cinemateca Brasileira há pouco tempo. Parte delas está na mostra.
Albuquerque se mudou para o
Rio em 1945 e, logo em seguida,
para São Paulo, onde montou seu
estúdio. Em 1949, foi convidado a
fazer a primeira campanha publicitária para a Johnson & Johnson.
Até então, a publicidade era feita por ilustrações. As poucas fotos
utilizadas em campanhas vinham
do exterior. Pelos relatos deixados
por Albuquerque, assim como
ocorre hoje, raramente os fotógrafos tinham liberdade para
criar nesse ramo. Ele recebia um
layout elaborado por publicitários ou por um diretor de arte.
A falta de modelos num mercado que inexistia foi outro problema que Albuquerque resolveu colocando filhos e amigos para posarem em campanhas da Singer e
Aero Willys, por exemplo.
Vista agora, a publicidade feita
nos anos 50 nos leva a uma reflexão sobre os caminhos que a fotografia publicitária tomou. Nas fotos de Albuquerque, geralmente
em preto-e-branco e sem retoques, as pessoas parecem de verdade, com imperfeições incorporadas. Há um enfoque mais na família do que na individualidade.
Na última campanha, realizada
em 2000, ano de sua morte, para
uma linha de lingerie, o corpo da
mulher passa da sugestão sensual
para a conotação sexual. A família
desaparece e em seu lugar surge
apenas o fragmento do corpo feminino, que já não parece ser real,
mas uma criação espontânea da
informática. Sinal dos tempos.
Além da publicidade, o trabalho
de Albuquerque merece ser revisitado também pela qualidade de
seus belos retratos em preto-e-branco, nos quais se destacam os
da atriz Odete Lara, do artista Geraldo de Barros e da escritora
Lygia Fagundes Telles, entre outros, nos quais ele demonstra total
domínio dos jogos de contrastes e
da direção de seus retratados.
Outro destaque é a bela série
"Mucuripe", de 1952, feita durante férias no Ceará, na qual ele retratou jangadeiros. Está sendo
exibida em Roquefort, na França.
A maior parte dos originais de
Albuquerque foi doada para o
MIS nos anos 80. Sem estrutura
para preservar adequadamente
cromos e negativos, uma parte
importante desse material se deteriorou e outra está em situação
precária. Seu filho, junto da direção do MIS, negocia para que o
Instituto Moreira Salles faça a restauração do acervo. Medida mais
que importante para o patrimônio visual do país.
Retrospectiva Chico Albuquerque
Quando: de ter. a dom., das 12h às 20h.
Até 27 de novembro
Onde: Museu da Imagem e do Som (av.
Europa, 158, SP, tel. 0/xx/11/3062-9197)
Quanto: entrada franca
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