São Paulo, quinta-feira, 19 de outubro de 2006

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Mônica Bergamo

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DORI CAYMMI

Matuiti Mayezo/Folha Imagem
Dori Caymmi, 63 anos, que fará três shows na capital paulista


"Paulo César é o que me resta"

Há 16 anos morando em Los Angeles, Dori Caymmi, 63, está no Brasil para shows, três deles nos dias 26, 27 e 28, no teatro Fecap. Dori, que vai comemorar nos shows a parceria de 37 anos com o músico Paulo César Pinheiro, dispara: "Fui informado do CD do Caetano, que é mais rock, e, já sem ouvir, sou contra". Ele estava na casa da família em Pequeri (MG), com o pai, Dorival Caymmi, quando falou à coluna.

 

FOLHA - Como o senhor vê a cultura brasileira?
DORI CAYMMI -
O que me entristece no Brasil é essa perda da nacionalidade, com ritmos e imitações americanas, como rap, reggae, funk.

FOLHA - Não são manifestações positivas?
DORI -
Não, isso é comodismo. Isso tudo é expressão da cultura afro-americana e afro-jamaicana. O próprio ministro da Cultura [Gilberto Gil] é um apologista do Bob Marley. Dizer que isso é cultura brasileira é um problema sério. É omissão.

FOLHA - O que é cultura brasileira?
DORI -
Vejo cultura brasileira nesses 500 anos nossos. É o folclore, a influência dos portugueses e holandeses, whatever. É o que o africano fez na Bahia: o afoxé, a capoeira, o samba de roda. Nós todos temos influências, mas é preciso aplicar uma dose de Brasil.

FOLHA - O que o senhor acha da produção brasileira hoje? Caetano Veloso e Chico Buarque, por exemplo, que acabam de lançar CDs.
DORI -
Fui informado do CD do Caetano, que é mais rock, e, já sem ouvir, eu sou contra. Ele é uma das pessoas que eu mais gosto. Mas é polêmico, porque gosta de fazer esse tipo de coisa. Prefiro lembrar do Caetano pelas coisas que ele já fez, e não pelas coisas que ele pretende fazer pra mídia. Transformar rock'n roll em cultura e chamar de brasileira, me cansa a beleza. Sabe, o Paulo César Pinheiro é o que me resta neste país. Ele é uma espécie de muleta para suportar esse empobrecimento cultural e essa tentativa burra de globalização musical.

FOLHA - Então, o senhor avalia mal a produção musical do Brasil?
DORI -
Eu tenho fama de pegar pesado com a cultura do Brasil. Mas já disse e repito: o presidente gosta de Zezé Di Camargo & Luciano, o ministro da Cultura gosta de Bob Marley, ou seja, a música do Brasil não deve ir bem, entende? As pessoas devem me achar um arrogante, mas eu convivi com a geração do meu pai, Tom Jobim, João Gilberto. E agora está difícil formar uma nova geração de brasileiros brasileiros.

FOLHA - Há algum nome?
DORI -
A resposta da minha geração está dada pelo Chico Buarque. Os shows estavam esgotados em SP e o preço não era popular, não. Ele não faz show em Sesc da vida. Estava num lugar grande, cobrando uma fortuna. Acho ótimo. É uma mostra clara de que a música do Brasil é viável. Já no caso do Caetano e do Gil, há uma controvérsia: eles fazem tudo para agitar, estão sempre a favor da corrente. Adotam funk, reggae, são padrinhos disso. Acho perigoso. A música brasileira vai parar no museu.

BAILE
A eventual vitória de Lula deve dar início a uma dança das cadeiras no Itamaraty. Um dos primeiros que deve bailar é Roberto Abdenur, hoje na embaixada de Washington, por causa de divergências com o ministro Celso Amorim, das Relações Exteriores.

BENTO BRASILEIRO
O presidente Lula enviou uma carta ao papa Bento 16, que visitará Aparecida em meados do próximo ano. Lula colocou o governo à disposição para que o papa visite outras cidades do Brasil.

SEM HORAS
A campanha do presidente Lula usou de novo o argumento de excesso de agenda para não participar de entrevista. Dessa vez, foi no programa "Altas Horas", da Globo. A previsão era que Lula e Alckmin participariam do mesmo programa, que vai ao ar no sábado. Seriam entrevistados na sexta, por uma platéia de jovens no estúdio da Globo em SP. A assessoria do tucano já havia confirmado. A de Lula respondeu só na segunda e alegou problemas de agenda. Resultado: nenhum dos dois participará do programa.

FRIA
Horas antes da divulgação da pesquisa Datafolha mostrando Lula 19 pontos à frente de Geraldo Alckmin, circulava no comitê tucano, em Brasília, o relatório com o tracking diário feito pelo Ibope para o PSDB. A diferença entre os dois nesta sondagem, feita pelo telefone, era de apenas cinco pontos.

ROLETA
A Prefeitura de SP prepara nova blitz nos bingos da cidade. Quinze estabelecimentos, sem licença para funcionar, devem ser fechados a partir de hoje.

LAÇO
Recém-separado de Débora Bloch, Olivier Anquier passou oito dias com a filha, Julia, na Argentina. Voltou anteontem para SP. "Meu trabalho é aqui, mas minha casa é no Rio. Vejo as crianças com freqüência."

CIRANDA
Brad Pitt e Sharon Stone vão contracenar no filme "Dirty Tricks", de Ryan Murphy. Gwyneth Paltrow -ex-namorada de Pitt- também está no elenco do longa.

CURTO-CIRCUITO

DOUGLAS ANDREGHETTI e João Carlos Camargo organizam coquetel para lançar o Wine Club Brasil, hoje, no Baretto.
OS REPRESENTANTES do prêmio D&DA Global Awards serão recebidos na agência F/Nazca, no Ibirapuera, amanhã.
PAULO VENANCIO FILHO faz a palestra "Alegorias Parangolé", hoje, às 20h, na galeria Paulo Paulo Kuczynski.
A CANTORA MARIANA AYDAR apresenta show do CD "Kavita 1" no Studio SP, na Vila Madalena, amanhã, a partir da 1h.
O DJ ARGENTINO RICKY Ryan comanda a Festa do Branco, com house music, hoje, no clube Lotus, no Brooklin Novo.
O PROJETO "UMA HORA Antes" realiza palestra e apresenta concerto de Heitor Villa-Lobos, hoje, na Sala São Paulo.


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