São Paulo, quinta-feira, 19 de outubro de 2006

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Nelson Motta descreve o Rio de 1960

Escritor mostra as mudanças de costumes em trama situada na Copacabana de sua adolescência

LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO

Nelson Motta, 62, voltou à adolescência para escrever seu novo romance, que está chegando às livrarias. "Ao Som do Mar e à Luz do Céu Profundo" se passa na Copacabana em que vivia o escritor, em 1960 e 61, na transição do Brasil de Juscelino Kubitschek para o de Jânio Quadros.
"O país de JK era otimista, com a tecnologia chegando, a TV. Jânio era o contrário disso: um cara feio, mesquinho, mal vestido, moralista. Essa mudança drástica no ambiente era um cenário interessante", diz Motta, jornalista, produtor musical e colunista da Folha.
Com uma leveza que procura transmitir o clima de um Rio bem diferente do de hoje, o livro mistura três núcleos. Um é o de uma família de classe média que entra em crise depois que se descobre que a mulher está traindo o marido, um coronel do Exército, com um delegado de polícia. "É o núcleo rodrigueano, da minha paixão por Nelson. Todo dia você comprava a "Última Hora" e tinha uma "A Vida Como Ela É" fresquinha, pingando sangue, com aquele submundo de adultérios e garçonnières", explica.
Outro, do qual Motta fala com conhecimento de causa, é o de jovens que desfrutavam dos sinais da revolução sexual, com os namoros ousados e os biquínis. Há cenas picantes. "Antes, ninguém via mulher nua nem em fotografia."
O terceiro núcleo são pai e filha norte-americanos que vêm morar no Rio e se apaixonam por um cotidiano hedonista, com praia, futebol e Carnaval. "O Carnaval tinha uma importância infinitamente maior do que tem hoje. Valia tudo. Pais de família se vestiam de mulher, e havia bailes à tarde para os casados", conta.
O lança-perfume, então muito popular, tem papel fundamental na trama -que não é policial, ao contrário dos outros dois romances do autor. Ele ressalta a proximidade entre classes sociais, com o filho da empregada sendo criado na casa da patroa, e esta passando uns dias no barraco da empregada. "A favela era um lugar sujo, pobre, mas pacífico. Não era festivo como no "Orfeu Negro" [filme de Marcel Camus que levou a Palma de Ouro em Cannes], mas não era de bandido."
Motta não considera sua visão idealizada: "Mostro a caretice das pessoas e o desconforto com banhos de cuia e falta de luz. Não sou nostálgico, porque fiz de tudo na vida. Não tenho saudade de nada", diz.


AO SOM DO MAR E À LUZ DO CÉU PROFUNDO
Autor:
Nelson Motta
Editora: Objetiva
Quanto: R$ 36,90 (282 págs.)


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