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Nelson Motta descreve o Rio de 1960
Escritor mostra as mudanças de costumes em trama situada na Copacabana de sua adolescência
LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO
Nelson Motta, 62, voltou à
adolescência para escrever seu
novo romance, que está chegando às livrarias. "Ao Som do
Mar e à Luz do Céu Profundo"
se passa na Copacabana em que
vivia o escritor, em 1960 e 61, na
transição do Brasil de Juscelino Kubitschek para o de Jânio
Quadros.
"O país de JK era otimista,
com a tecnologia chegando, a
TV. Jânio era o contrário disso:
um cara feio, mesquinho, mal
vestido, moralista. Essa mudança drástica no ambiente era
um cenário interessante", diz
Motta, jornalista, produtor
musical e colunista da Folha.
Com uma leveza que procura
transmitir o clima de um Rio
bem diferente do de hoje, o livro mistura três núcleos. Um é
o de uma família de classe média que entra em crise depois
que se descobre que a mulher
está traindo o marido, um coronel do Exército, com um delegado de polícia. "É o núcleo
rodrigueano, da minha paixão
por Nelson. Todo dia você
comprava a "Última Hora" e tinha uma "A Vida Como Ela É"
fresquinha, pingando sangue,
com aquele submundo de adultérios e garçonnières", explica.
Outro, do qual Motta fala
com conhecimento de causa, é
o de jovens que desfrutavam
dos sinais da revolução sexual,
com os namoros ousados e os
biquínis. Há cenas picantes.
"Antes, ninguém via mulher
nua nem em fotografia."
O terceiro núcleo são pai e filha norte-americanos que vêm
morar no Rio e se apaixonam
por um cotidiano hedonista,
com praia, futebol e Carnaval.
"O Carnaval tinha uma importância infinitamente maior
do que tem hoje. Valia tudo.
Pais de família se vestiam de
mulher, e havia bailes à tarde
para os casados", conta.
O lança-perfume, então muito popular, tem papel fundamental na trama -que não é
policial, ao contrário dos outros dois romances do autor.
Ele ressalta a proximidade entre classes sociais, com o filho
da empregada sendo criado na
casa da patroa, e esta passando
uns dias no barraco da empregada. "A favela era um lugar sujo, pobre, mas pacífico. Não era
festivo como no "Orfeu Negro"
[filme de Marcel Camus que levou a Palma de Ouro em Cannes], mas não era de bandido."
Motta não considera sua visão idealizada: "Mostro a caretice das pessoas e o desconforto com banhos de cuia e falta de
luz. Não sou nostálgico, porque
fiz de tudo na vida. Não tenho
saudade de nada", diz.
AO SOM DO MAR E À LUZ DO CÉU PROFUNDO
Autor: Nelson Motta
Editora: Objetiva
Quanto: R$ 36,90 (282 págs.)
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