São Paulo, sexta-feira, 19 de outubro de 2007

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Crítica/"Nascido e Criado"

Pablo Trapero assina faroeste na Patagônia

DO CRÍTICO DA FOLHA

Não há cineasta que não queira fazer seu faroeste. O de Pablo Trapero é "Nascido e Criado", que parece à primeira vista uma homenagem à beleza magnífica e solitária da Patagônia.
Talvez por isso o início do filme pareça tão burocrático: um casal feliz de designers, com uma filha feliz, trabalha e vive feliz na cidade. Nesse ambiente de filme publicitário, eles viajam, mas aí acontece um imprevisto, e o carro, jogado fora da estrada, explode.
Sobrevivente da tragédia e sentindo-se culpado pelo acidente, Santiago (Federico Esquerro) vai morar na Patagônia. Sabemos que a distribuição demográfica da Argentina é estranha: quase todo mundo em Buenos Aires e depois muito campo. Sabemos que Borges, seu maior escritor, cantou em verso e prosa as virtudes da pampa. A Patagônia fica com a glória de ter produzido seu atual presidente da República.
É lá, no frio aparentemente eterno do lugar, que Santiago se refugia. Trabalha em um pequeno aeroporto, onde os vôos são pouco mais que episódicos (e realizados quando as condições de tempo se mostram favoráveis), dedica-se à caça com os amigos, a jornadas pelas estradas geladas, a andanças a cavalo. Não há imagem no longa que não seja a face visível de sua depressão.
A rigor, estamos diante de um desses filmes sem história, ou com apenas um fio de história. Talvez o mais emocionante seja o episódio envolvendo a morte da mulher do Cacique, um dos amigos de Santiago.

Caubóis do gelo
Neste filme, o que importa é menos um acontecer do que a descrição a mais fiel possível do modo de vida desses caubóis do gelo. Portanto, interessa o encanto que podem nos transmitir as imagens que buscam dar conta dos gestos e palavras que constituem o cotidiano dos personagens. Nisso, o filme é irretocável.
Quem buscar o essencial no desenvolvimento da trama pode se decepcionar: ela soa extremamente arbitrária. Mas essa não é, visivelmente, a preocupação de Trapero: a vida de faroeste, sim. (INÁCIO ARAUJO)

NASCIDO E CRIADO
Direção:
Pablo Trapero
Quando: hoje, às 21h40, na Cinemateca; seg., às 18h40, no Unibanco Arteplex; sáb., dia 27, às 15h50, no Cine Bombril
Avaliação: ótimo


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