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Crítica/"Nascido e Criado"
Pablo Trapero assina faroeste na Patagônia
DO CRÍTICO DA FOLHA
Não há cineasta que não
queira fazer seu faroeste. O de Pablo Trapero é "Nascido e Criado", que
parece à primeira vista uma homenagem à beleza magnífica e
solitária da Patagônia.
Talvez por isso o início do filme pareça tão burocrático: um
casal feliz de designers, com
uma filha feliz, trabalha e vive
feliz na cidade. Nesse ambiente
de filme publicitário, eles viajam, mas aí acontece um imprevisto, e o carro, jogado fora
da estrada, explode.
Sobrevivente da tragédia e
sentindo-se culpado pelo acidente, Santiago (Federico Esquerro) vai morar na Patagônia. Sabemos que a distribuição
demográfica da Argentina é estranha: quase todo mundo em
Buenos Aires e depois muito
campo. Sabemos que Borges,
seu maior escritor, cantou em
verso e prosa as virtudes da
pampa. A Patagônia fica com a
glória de ter produzido seu
atual presidente da República.
É lá, no frio aparentemente
eterno do lugar, que Santiago se
refugia. Trabalha em um pequeno aeroporto, onde os vôos
são pouco mais que episódicos
(e realizados quando as condições de tempo se mostram favoráveis), dedica-se à caça com
os amigos, a jornadas pelas estradas geladas, a andanças a cavalo. Não há imagem no longa
que não seja a face visível de sua
depressão.
A rigor, estamos diante de
um desses filmes sem história,
ou com apenas um fio de história. Talvez o mais emocionante
seja o episódio envolvendo a
morte da mulher do Cacique,
um dos amigos de Santiago.
Caubóis do gelo
Neste filme, o que importa é
menos um acontecer do que a
descrição a mais fiel possível do
modo de vida desses caubóis do
gelo. Portanto, interessa o encanto que podem nos transmitir as imagens que buscam dar
conta dos gestos e palavras que
constituem o cotidiano dos
personagens.
Nisso, o filme é irretocável.
Quem buscar o essencial no desenvolvimento da trama pode
se decepcionar: ela soa extremamente arbitrária. Mas essa
não é, visivelmente, a preocupação de Trapero: a vida de faroeste, sim.
(INÁCIO ARAUJO)
NASCIDO E CRIADO
Direção: Pablo Trapero
Quando: hoje, às 21h40, na Cinemateca; seg., às 18h40, no Unibanco
Arteplex; sáb., dia 27, às 15h50, no
Cine Bombril
Avaliação: ótimo
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