São Paulo, sexta-feira, 19 de outubro de 2007

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Crítica/"Invasores"

Releitura de clássico da ficção científica aposta na barbárie

Longa com Nicole Kidman e Daniel Craig é baseado em livro de Jack Finney

JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA

Cada geração de americanos precisa exorcizar sua paranóia com uma versão cinematográfica diferente do livro "Invasores de Corpos", publicado por Jack Finney em 1954.
A primeira (1956), de Don Siegel, um clássico da ficção científica B, chamou-se no Brasil "Vampiros de Almas". Depois vieram as versões de Philip Kaufman (1978), Abel Ferrara (1993) e agora a de Oliver Hirschbiegel (de "A Queda -°As Últimas Horas de Hitler").
Em todos esses filmes, bem diferentes entre si, formas de vida alienígena assumem aparência humana, tomando o lugar de pessoas comuns para dominar a América e o planeta.
Em "Invasores", a psiquiatra Carol (Nicole Kidman), de Washington, percebe mudanças perturbadoras no comportamento de alguns pacientes e familiares. Fatos estranhos pipocam em todo o país, sobretudo na extensa área por onde se espalharam destroços de um ônibus espacial acidentado.
O cientista Ben (Daniel Craig), amigo e pretendente da divorciada Carol, não tarda a juntar as peças do quebra-cabeças e concluir que seres invasores estão se apossando de corpos humanos e formando aos poucos uma nova humanidade, robotizada e apática.
O contágio se dá por qualquer fluido vital (sangue, saliva etc.) e se completa quando a vítima cai no sono.
A partir daí, temos, por um lado, um eficiente thriller convencional, com os habituais suspenses, perseguições e a apoteose de destruição antes do final feliz, e por outro lado uma discussão filosoficamente pobre e politicamente repulsiva sobre o que é que caracteriza o ser humano.
Nas versões anteriores, a primeira delas realizada no auge da Guerra Fria, o que se teme é o aniquilamento de valores como a vontade individual, a afetividade e o raciocínio crítico. Aqui, o perigo é a perda das tendências agressivas e destrutivas do homem.
Enquanto o mundo está dominado pelos invasores, os EUA retiram suas tropas do Iraque e investem bilhões na cura da Aids, as guerras cessam, os países cooperam uns com os outros. Pela ótica do filme, isso é sinal de que algo está errado.
Quando tudo volta ao "normal", um personagem comenta ao ler o jornal: "Mais 83 mortos no Iraque. Quando é que isso vai acabar?". A resposta que "Invasores" induz o espectador a dar é: "Tomara que nunca". Se você não acredita, vá e veja por conta própria.


INVASORES
Direção:
Oliver Hirschbiegel
Produção: EUA, 2007
Com: Nicole Kidman, Daniel Craig
Onde: estréia hoje nos cines Bristol, Unibanco Arteplex e circuito
Avaliação: regular


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