São Paulo, domingo, 19 de outubro de 2008

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Crítica/série

Série histórica expõe EUA hoje

"John Adams" encena o processo de Independência do país aos olhos de um de seus protagonistas

SYLVIA COLOMBO
DA REPORTAGEM LOCAL

Em momento de tanta turbulência política e econômica, é no mínimo curioso reparar no fato de que as séries mais celebradas nos Estados Unidos hoje oferecem, justamente, uma reflexão sobre a história do país.
Grandes vencedoras do último Emmy, em setembro, "Mad Men" retrata as transformações sociais dos anos 60, por meio do mundo da publicidade, enquanto "John Adams" conta a história do personagem homônimo, um dos mais importantes "founding fathers" (pais fundadores) da nação.
Baseado em livro de David McCullough que venceu um Prêmio Pulitzer, "John Adams" começa a ser exibido no Brasil na próxima terça-feira (21). A série, em sete capítulos, vê o nascimento do país aos olhos de um dos protagonistas do processo de Independência.
Paul Giamatti encarna o papel principal. A crítica do "New York Times" disse que o ator, usando roupas de época -calças justas no tornozelo e peruca- ficou parecido com Shrek. Não deixa de ser verdade, mas o chiste não compromete sua boa atuação num papel difícil.
Adams (1735-1826), duas vezes vice-presidente (de George Washington) e segundo presidente dos EUA, tinha uma personalidade complexa. O herói nacional foi também um inseguro homem provinciano e um vaidoso intelectual. Ficou para a história como um dos responsáveis pelo nascimento dos EUA e pelos caminhos que o país tomou nos seus primeiros 50 anos de vida.
A série começa em 1770, quando Adams, advogado de Massachusetts, toma a iniciativa de defender oficiais britânicos acusados de assassinar cinco civis, no que ficou conhecido como Massacre de Boston. O clima em sua Província era de confronto contra os ingleses.
E a absolvição dos soldados por ele lograda foi mal recebida entre seus compatriotas. É então que somos apresentados às principais características do personagem. Fundar a pátria, sim; afrontar a lei, jamais.
Ao julgamento, seguem-se a participação do político no processo que resulta na Independência dos EUA, seu período como enviado a países estrangeiros para obter o respaldo à jovem nação, o tempo de vice-presidente, depois presidente, até 1826, o ano de sua morte. Seriados históricos são condenados a ter de obedecer, mesmo que apenas em linhas gerais, à própria história.
E, já que não se pode inventar suspense ou ação onde estes não existem, a série, como a vida real, tem altos e baixos. Por conta disso, os primeiros capítulos, quando a tensão pré-Independência é latente e a figura de Adams começa a crescer diante do próprio destino, são infinitamente mais interessantes que os seguintes.
Do quarto episódio em diante, os EUA são uma jovem nação, e o personagem dialoga com companheiros e a influente esposa, Abigail (Laura Linney), sobre o que fazer para consolidar a nação. Em termos de espetáculo, então, a série perde força. Mas, de todo modo, propõe questões com as quais os EUA se debatem até hoje.
Especialmente sobre como lidar com sua imagem junto ao resto do mundo.


JOHN ADAMS
Quando: estréia hoje, às 19h45; exibida às terças, no mesmo horário
Onde: na HBO
Classificação indicativa: não informada
Avaliação: bom


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