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BIA ABRAMO
O melhor programa de domingo
"Família Soprano" concentra e amplifica as melhores qualidades das séries americanas
DESDE O o início do mês, a Warner está prestando uma espécie de serviço para quem
gosta de teledramaturgia de qualidade - e tem TV por assinatura. "Família Soprano" vem sendo reprisada
desde o primeiro episódio da primeira temporada aos domingos.
Já foram os primeiros cinco, mas
ainda não é tarde para ver (ou rever)
a série, uma das melhores de todos
os tempos. Parece exagero, mas "Soprano" concentra e amplifica as melhores qualidades dos seriados norte-americanos. Justamente aquelas
que, para alguns espectadores brasileiros, sumiram das telenovelas e
não têm dado mostras de voltar.
Em primeiro lugar, os episódios
mostram uma enorme competência
técnica. Empenhar tempo e gente altamente qualificada nas séries é um
traço da produção televisiva norte-americana, capaz de fazer mesmo as
piores séries parecerem boas. "Soprano" vai além do padrão e trata cada episódio com um cuidado de ourives. Nenhum detalhe escapa.
Em segundo, há o roteiro. Vocês
sabem qual é o mote e já o viram uma
versão cinematográfica. Tony Soprano, um homem de meia-idade
casado e com filhos, procura terapia
depois de algumas crises de ansiedade. Tony é um executivo estressado
do subúrbio -só que, em vez de administrar uma companhia qualquer,
seu negócio é a máfia de New Jersey.
David Chase, o roteirista, em vez
de explorar simplesmente o inusitado da situação, passou as seis temporadas da série no fio da navalha transitando entre a normalidade e a humanidade do personagem e o fato de
ele estar "do outro lado" da lei. Homem ordinário e comum, Tony vive
os dramas ordinários e comuns da
vida contemporânea; ao mesmo
tempo, ele está na margem -ou será
que o crime tornou-se o centro?
Junte a isso a situação de fazer terapia com uma mulher, ou seja, além
da ação falar por si, o personagem
tem de falar sobre si, o tempo todo, e
ouvir sobre si, mas agora a partir de
um outro (ou uma outra, neste caso),
com ponto de vista diverso. Poderia
ser um festival de platitudes e tiradas moralizantes; em vez disso, há
um embate entre mundos que se estranham e se reconhecem ao mesmo
tempo, conduzido por dois seres inteligentes.
E, por fim, há aquela qualidade
meio imponderável dos seriados. É
uma espécie de charme, algo que está no elenco, nas piadas e jogos verbais, na ambientação e na incrível
capacidade que os norte-americanos têm de levar para a ficção a crônica dos hábitos, das falas e das modas da vida americana. No caso de
"Soprano", vista de cabeça para baixo - e, talvez por isso, mais real.
biabramo.tv@uol.com.br
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