São Paulo, domingo, 19 de outubro de 2008

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BIA ABRAMO

O melhor programa de domingo

"Família Soprano" concentra e amplifica as melhores qualidades das séries americanas

DESDE O o início do mês, a Warner está prestando uma espécie de serviço para quem gosta de teledramaturgia de qualidade - e tem TV por assinatura. "Família Soprano" vem sendo reprisada desde o primeiro episódio da primeira temporada aos domingos.
Já foram os primeiros cinco, mas ainda não é tarde para ver (ou rever) a série, uma das melhores de todos os tempos. Parece exagero, mas "Soprano" concentra e amplifica as melhores qualidades dos seriados norte-americanos. Justamente aquelas que, para alguns espectadores brasileiros, sumiram das telenovelas e não têm dado mostras de voltar.
Em primeiro lugar, os episódios mostram uma enorme competência técnica. Empenhar tempo e gente altamente qualificada nas séries é um traço da produção televisiva norte-americana, capaz de fazer mesmo as piores séries parecerem boas. "Soprano" vai além do padrão e trata cada episódio com um cuidado de ourives. Nenhum detalhe escapa.
Em segundo, há o roteiro. Vocês sabem qual é o mote e já o viram uma versão cinematográfica. Tony Soprano, um homem de meia-idade casado e com filhos, procura terapia depois de algumas crises de ansiedade. Tony é um executivo estressado do subúrbio -só que, em vez de administrar uma companhia qualquer, seu negócio é a máfia de New Jersey.
David Chase, o roteirista, em vez de explorar simplesmente o inusitado da situação, passou as seis temporadas da série no fio da navalha transitando entre a normalidade e a humanidade do personagem e o fato de ele estar "do outro lado" da lei. Homem ordinário e comum, Tony vive os dramas ordinários e comuns da vida contemporânea; ao mesmo tempo, ele está na margem -ou será que o crime tornou-se o centro?
Junte a isso a situação de fazer terapia com uma mulher, ou seja, além da ação falar por si, o personagem tem de falar sobre si, o tempo todo, e ouvir sobre si, mas agora a partir de um outro (ou uma outra, neste caso), com ponto de vista diverso. Poderia ser um festival de platitudes e tiradas moralizantes; em vez disso, há um embate entre mundos que se estranham e se reconhecem ao mesmo tempo, conduzido por dois seres inteligentes.
E, por fim, há aquela qualidade meio imponderável dos seriados. É uma espécie de charme, algo que está no elenco, nas piadas e jogos verbais, na ambientação e na incrível capacidade que os norte-americanos têm de levar para a ficção a crônica dos hábitos, das falas e das modas da vida americana. No caso de "Soprano", vista de cabeça para baixo - e, talvez por isso, mais real.

biabramo.tv@uol.com.br


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