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Desenhado no Brasil
Designers, críticos, curadores e professores selecionam o melhor do design gráfico no Brasil, dos miolos até as capas
MARIO GIOIA
DA REPORTAGEM LOCAL
Dois livros referenciais do
design gráfico mundial que acabam de chegar ao Brasil foram
o ponto de partida para que
profissionais ouvidos pela Folha comentassem quais, para
eles, são os melhores projetos
gráficos feitos no país.
"BiblioGráfico - 100 Livros
sobre Design Gráfico" e "História do Design Gráfico" inspiraram André Stolarski, Chico Homem de Melo, Daniel Trench,
Guto Lacaz, Rafael Cardoso e
Ricardo Ohtake a analisar também capas que se tornaram
marcos da área.
Melo e Stolarski escolheram
o "Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa", da editora
Objetiva, de 2000, como um
projeto gráfico "total".
"Foram 15 anos de pesquisa
rigorosa, incluindo o projeto de
uma fonte especial para o livro
[criada por Rodolfo Capeto].
Houve uma detalhada escolha
de papel, impressão e acabamento", diz Melo, professor de
design na FAU-USP (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo
da Universidade de São Paulo).
"O projeto gráfico é impecável e uma verdadeira engenharia visual. O papel permite a
edição de um volume de 3.000
páginas com uma relativa leveza e facilidade de consulta",
avalia Stolarski, ex-diretor de
design do MAM-Rio (Museu de
Arte Moderna do Rio).
Ohtake, diretor do Instituto
Tomie Ohtake e curador de várias mostras da área, destaca
Victor Burton, autor do projeto
gráfico do dicionário.
"Há excepcionais projetos
dele além do "Houaiss", como
"Missão Francesa" e "O Negro
na Fotografia Brasileira do Século 19'", comenta ele.
Cardoso, historiador e professor de design na PUC-Rio,
frisa a importância de nomes
mais antigos -Fernando Correia Dias, em "Nós", de Guilherme de Almeida, em 1917; e Tomás Santa Rosa, em "O Anjo",
de Jorge de Lima, em 1934.
"Correia Dias é o primeiro
grande nome do design de livros no Brasil. O livro tem uma
elegante diagramação. Já "O
Anjo" é um prenúncio de uma
grande transformação gráfica
que viria nas décadas seguintes", afirma ele.
Cardoso ainda lembra das capas produzidas por Eugênio
Hirsch e Bea Feitler, nos anos
60. "Hirsch revolucionou as capas de livro antes de qualquer
um falar em pós-modernismo."
Trench, professor de design
na ESPM (Escola Superior de
Propaganda e Marketing) e autor de projetos como a revista
"Serrote", também lembra das
capas de Feitler.
"A coleção "Antologia Poética" se pauta pela tipografia. O
excerto do conteúdo do livro na
capa revela o que é particular
em cada volume."
Trench enumera projetos recentes que tiveram papel importante no desenvolvimento
da área no país, como o de "Bartleby, o Escrivão", de Hermann
Melville, criado pela designer
Elaine Ramos. "É um livro-objeto. Há uma íntima relação entre forma e conteúdo. O leitor
deve se esforçar, rasgar as páginas e desamarrar o livro para
conhecer o personagem que
"acha melhor não"."
Lacaz, artista plástico e designer, cita "O Perfeito Cozinheiro das Almas deste Mundo", de Oswald de Andrade,
projeto fac-similar de Frederico Nasser, em 1987.
"O miolo é impresso em cores especiais e está repleto de
colagens artesanalmente aplicadas", conta ele, que também
destaca os livros de Monteiro
Lobato desenhados por André
Le Blanc, no fim dos anos 40.
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