São Paulo, segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Desenhado no Brasil

Designers, críticos, curadores e professores selecionam o melhor do design gráfico no Brasil, dos miolos até as capas

MARIO GIOIA
DA REPORTAGEM LOCAL

Dois livros referenciais do design gráfico mundial que acabam de chegar ao Brasil foram o ponto de partida para que profissionais ouvidos pela Folha comentassem quais, para eles, são os melhores projetos gráficos feitos no país.
"BiblioGráfico - 100 Livros sobre Design Gráfico" e "História do Design Gráfico" inspiraram André Stolarski, Chico Homem de Melo, Daniel Trench, Guto Lacaz, Rafael Cardoso e Ricardo Ohtake a analisar também capas que se tornaram marcos da área.
Melo e Stolarski escolheram o "Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa", da editora Objetiva, de 2000, como um projeto gráfico "total".
"Foram 15 anos de pesquisa rigorosa, incluindo o projeto de uma fonte especial para o livro [criada por Rodolfo Capeto]. Houve uma detalhada escolha de papel, impressão e acabamento", diz Melo, professor de design na FAU-USP (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo).
"O projeto gráfico é impecável e uma verdadeira engenharia visual. O papel permite a edição de um volume de 3.000 páginas com uma relativa leveza e facilidade de consulta", avalia Stolarski, ex-diretor de design do MAM-Rio (Museu de Arte Moderna do Rio).
Ohtake, diretor do Instituto Tomie Ohtake e curador de várias mostras da área, destaca Victor Burton, autor do projeto gráfico do dicionário.
"Há excepcionais projetos dele além do "Houaiss", como "Missão Francesa" e "O Negro na Fotografia Brasileira do Século 19'", comenta ele.
Cardoso, historiador e professor de design na PUC-Rio, frisa a importância de nomes mais antigos -Fernando Correia Dias, em "Nós", de Guilherme de Almeida, em 1917; e Tomás Santa Rosa, em "O Anjo", de Jorge de Lima, em 1934.
"Correia Dias é o primeiro grande nome do design de livros no Brasil. O livro tem uma elegante diagramação. Já "O Anjo" é um prenúncio de uma grande transformação gráfica que viria nas décadas seguintes", afirma ele.
Cardoso ainda lembra das capas produzidas por Eugênio Hirsch e Bea Feitler, nos anos 60. "Hirsch revolucionou as capas de livro antes de qualquer um falar em pós-modernismo."
Trench, professor de design na ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing) e autor de projetos como a revista "Serrote", também lembra das capas de Feitler.
"A coleção "Antologia Poética" se pauta pela tipografia. O excerto do conteúdo do livro na capa revela o que é particular em cada volume."
Trench enumera projetos recentes que tiveram papel importante no desenvolvimento da área no país, como o de "Bartleby, o Escrivão", de Hermann Melville, criado pela designer Elaine Ramos. "É um livro-objeto. Há uma íntima relação entre forma e conteúdo. O leitor deve se esforçar, rasgar as páginas e desamarrar o livro para conhecer o personagem que "acha melhor não"."
Lacaz, artista plástico e designer, cita "O Perfeito Cozinheiro das Almas deste Mundo", de Oswald de Andrade, projeto fac-similar de Frederico Nasser, em 1987.
"O miolo é impresso em cores especiais e está repleto de colagens artesanalmente aplicadas", conta ele, que também destaca os livros de Monteiro Lobato desenhados por André Le Blanc, no fim dos anos 40.


Texto Anterior: Perda do acervo de Oiticica é "catástrofe", diz Ferreira Gullar
Próximo Texto: Obras trazem história do design
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.