São Paulo, quarta-feira, 19 de outubro de 2011

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ANÁLISE

Entrevista com cabo Alselmo esquentou volta do 'Roda Viva'


NA REPERCUSSÃO, BOA PARTE ERA REVOLTA PELA TRANQUILIDADE COM QUE FALAVA DAS MORTES QUE CAUSOU


NELSON DE SÁ
ARTICULISTA DA FOLHA

Roberto Muylaert, que dirigia a Cultura e criou o programa há 25 anos, não gosta do formato do "Roda Viva", retomado agora respeitando os traços originais.
Diz que ele só foi melhorar quando mudou, pouco tempo depois, para apenas um andar, sem o balcão de plateia. Diz também que por vezes as entrevistas perdiam força porque as perguntas atravessadas "se anulavam umas às outras, para alívio do entrevistado".
Mas, afirma, "a pauta é o que valida". Anteontem, na retomada sob o comando de Mario Sergio Conti, a pauta, entrevista com o cabo Anselmo, informante da ditadura que teria levado dezenas e talvez centenas à morte, causava furor antes de ir ao ar.
O ex-ministro Nilmário Miranda (Direitos Humanos) postou que era "entrevista com um canalha", que o programa "escolheu um dos piores seres humanos para o retorno". Urariano Mota, autor de "Soledad no Recife", sobre a ex-mulher de Anselmo, morta sob tortura após delação do marido, lamentou que ele iria "ganhar uma vez mais todas as luzes para falar o que entender, como entender e quando entender".
Cabo Anselmo ouviu perguntas duras, foi chamado de "cachorro", uma expressão policial para delatores, mas pouco revelou. No rescaldo, o noticiário destacou que ele disse que pode entregar nomes à Comissão da Verdade, desde que ela tenha integrantes "da direita"; que recebe mesada de empresários, sem dar nomes; e que não se arrepende de nada.
Na forte repercussão via Twitter, boa parte era revolta pela tranquilidade com que falava das mortes que causou, inclusive da mulher com o "feto aos pés" -que ele diz não ser dela. "Não tenho consciência pesada de nada."
Por vezes, divagava misturando temas: Rússia, "empresários americanos" que apoiaram o comunismo. Dizia de sua leitura de blogs, hoje. Por insistência dos entrevistadores, reconheceu que a morte de Soledad Barret Viedman é algo que "não está resolvido", acrescentando: "Eu sentia amor por ela".
De modo geral, estava à vontade. Na chamada de um dos intervalos comerciais, Conti falou: "O 'Roda Viva' volta já, com cabo Anselmo". E ouviu-se ao fundo, do próprio "cachorro": "Legal".

NA TV
Roda Viva
QUANDO segunda, às 22h, na TV Cultura
CLASSIFICAÇÃO livre


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