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RELÂMPAGOS
Deusa da
ausência
JOÃO GILBERTO NOLL
²
Essa deusa esfolava os
mortais com ramos de uma
planta cujo nome eu nunca
soube guardar. Ela só flagelava os que arrotavam símbolos. Os que vagavam sem
promissão à flor da terra,
como as ramas, os sanás e os
brejos, estes recebiam o prêmio do silêncio, a ausência
do hálito dos deuses, o blecaute da cena exemplar.
"Queres recompensa
maior?", falou minha filha
pequena. Ela pediu um sorvete. "Um sorvete!", a moça
que atendia ecoou. "Mais
um!", ondas de saltimbancos repetiram em variadas
piruetas. "Mais um!", blefou
a noite enquanto a menina
descobria as minúcias do
meu rosto.
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