São Paulo, segunda, 19 de outubro de 1998

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RELÂMPAGOS
Deusa da ausência

JOÃO GILBERTO NOLL
² Essa deusa esfolava os mortais com ramos de uma planta cujo nome eu nunca soube guardar. Ela só flagelava os que arrotavam símbolos. Os que vagavam sem promissão à flor da terra, como as ramas, os sanás e os brejos, estes recebiam o prêmio do silêncio, a ausência do hálito dos deuses, o blecaute da cena exemplar. "Queres recompensa maior?", falou minha filha pequena. Ela pediu um sorvete. "Um sorvete!", a moça que atendia ecoou. "Mais um!", ondas de saltimbancos repetiram em variadas piruetas. "Mais um!", blefou a noite enquanto a menina descobria as minúcias do meu rosto.



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