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"MEGALÓPOLES"
Filme traz desgraça de metrópoles
CARLOS ADRIANO
especial para a Folha
"Megalópoles" é um filme contundente graças ao seu registro inquieto (mas não inflado de cacoetes) e seu testemunho contido
(mas não isento de eloquência) de
uma realidade aterradora.
Sob o subtítulo "12 Histórias de
Sobrevivência", a vida dura de deserdados de toda (má) sorte que
habitam lugares onde a população
é proporcional à miséria.
O filme concentra seus fragmentos em quatro cidades de alta densidade demográfica e taxa de desgraça: Bombaim, Nova York, México e Moscou.
Para falar do fardo cotidiano,
dispensa a locução em off e deixa
que os anônimos contem por si,
num discurso monossilábico e articulado. Histórias, imagens e cidades intercalam-se e articulam-se
por afinidade ou contraste.
Na narrativa, há uma dupla progressão: os episódios abandonam
o mero registro de situações rumo
a um pseudoteatro de encenações;
da luta íntegra frente às adversidades vai-se para a degradação perversa de corpo e alma.
Em Moscou, impõe-se a ficção: a
metafísica do mendigo, os palácios
noturnos, a lírica operadora de
guindaste, os pequenos delinquentes. Em Nova York, interpõe-se a
mediação: o programa de "talk radio" sintoniza métodos de sobrevivência na cela da negatividade. Em
Bombaim, o homem do bioscópio
costura pedaços de filmes e exibe-os para as crianças.
Há cenas impressionantes: o infeliz desolado que refina pigmentos e é sufocado por cores, o vendedor de galinhas encharcadas de
sangue e sordidez, a malta que
apalpa Cassandra no striptease de
"O Amor da Minha Vida", o viciado psicodrama de Toni, os deficientes na linha de montagem ouvindo mensagens subedificantes e
alienantes, os bêbados submetidos
a sevícias anti-embriaguez enquanto piedosas comadres cantam
cinicamente.
Como justifica no filme o herói
Superbarrío Gómez, "o absurdo é
um patrimônio cultural da humanidade" (e os créditos finais guardam surpresas em telhados, canos
e lixões).
O diretor Glawogger chegou a
cogitar São Paulo como locação,
mas parece que encontrou lugares
piores. A paisagem devastada é
cosmopolita. A mesma dor desanima povos em várias latitudes do
Quinto Mundo. O apocalipse é
aqui e agora.
Quando: hoje, às 22h, no Masp
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