São Paulo, sexta-feira, 19 de novembro de 2004

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POLÍTICA CULTURAL

Em encontro em Buenos Aires, ministro diz que a cultura deve ser prioridade para Brasil e Argentina

Sem polemizar, Gil discorda de argentinos

SILVANA ARANTES
DE BUENOS AIRES

Convidado oficial do governo argentino para o 3º Congresso Internacional da Língua Espanhola (17 a 20/11), o ministro da Cultura brasileiro, Gilberto Gil, mediu cada palavra em sua passagem por Buenos Aires, anteontem.
Gil foi questionado por jornalistas brasileiros e argentinos se a cultura é ou não tema prioritário dos governos latino-americanos. A discussão ecoa polêmica em torno do ministro argentino da Cultura, Torcuato Di Tella, que está ameaçado de ser defenestrado -pela palavra.
"A visão de que a cultura não é prioridade não me parece ser a de Di Tella. A própria imprensa, nos países em desenvolvimento, gosta desse viés do papel do investimento como social", disse Gil e exemplificou: "Quando se anuncia a intenção de construir um museu, a imprensa cita quantas casas populares poderiam ser feitas com o dinheiro, ou seja, traduz logo numa moeda social".
Isso é correto? "Em casos extremos é", responde o ministro, para acrescentar adiante que "o Brasil e a Argentina são países em que a fome de livro, a fome do simbólico é suficientemente grande para ser satisfeita".
Uma repórter do jornal econômico argentino "Ambito Financiero" pede a opinião do ministro sobre a atuação da empresa BrasilConnects, do banqueiro Edemar Cid Ferreira, cujo Banco Santos sofreu intervenção do Banco Central na última sexta.
"É uma empresa que faz coisas interessantes e tem sua forma de trabalhar. Não devo ter opinião sobre a maneira de eles trabalharem", diz. Mas emenda: "Salvo se tiverem relação com o ministério, onde tudo sempre foi feito dentro das exigências legais".
Na cidade de Rosário, onde ocorre o congresso da língua espanhola, Gil dividiu a mesa com a funcionária do ministério argentino Magdalena Fallace, que defendeu postura contrária à do Brasil na Convenção sobre a Proteção da Diversidade dos Conteúdos Culturais e Expressões Artísticas, na Unesco, em Paris.
O Brasil vota pelo direito dos Estados de protegerem e subsidiarem suas manifestações artísticas, porque entende, segundo o ministro, "que áreas desfavorecidas, desprovidas de recursos precisam de apoio estatal". Quer dizer que Gil manifestou a Fallace a discordância entre os dois países? "Os dirigentes não têm de concordar a respeito de tudo."
Ao repórter que insiste em arrancar do ministro declaração de que na esfera governamental a língua portuguesa é menos reverenciada do que a espanhola, Gil responde cantando Noel Rosa: "Tudo aquilo que o malandro pronuncia com voz macia é brasileiro, já passou de português".


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