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POLÍTICA CULTURAL
Em encontro em Buenos Aires, ministro diz que a cultura deve ser prioridade para Brasil e Argentina
Sem polemizar, Gil discorda de argentinos
SILVANA ARANTES
DE BUENOS AIRES
Convidado oficial do governo
argentino para o 3º Congresso Internacional da Língua Espanhola
(17 a 20/11), o ministro da Cultura
brasileiro, Gilberto Gil, mediu cada palavra em sua passagem por
Buenos Aires, anteontem.
Gil foi questionado por jornalistas brasileiros e argentinos se a
cultura é ou não tema prioritário
dos governos latino-americanos.
A discussão ecoa polêmica em
torno do ministro argentino da
Cultura, Torcuato Di Tella, que
está ameaçado de ser defenestrado -pela palavra.
"A visão de que a cultura não é
prioridade não me parece ser a de
Di Tella. A própria imprensa, nos
países em desenvolvimento, gosta
desse viés do papel do investimento como social", disse Gil e
exemplificou: "Quando se anuncia a intenção de construir um
museu, a imprensa cita quantas
casas populares poderiam ser feitas com o dinheiro, ou seja, traduz
logo numa moeda social".
Isso é correto? "Em casos extremos é", responde o ministro, para
acrescentar adiante que "o Brasil e
a Argentina são países em que a
fome de livro, a fome do simbólico é suficientemente grande para
ser satisfeita".
Uma repórter do jornal econômico argentino "Ambito Financiero" pede a opinião do ministro
sobre a atuação da empresa BrasilConnects, do banqueiro Edemar Cid Ferreira, cujo Banco Santos sofreu intervenção do Banco
Central na última sexta.
"É uma empresa que faz coisas
interessantes e tem sua forma de
trabalhar. Não devo ter opinião
sobre a maneira de eles trabalharem", diz. Mas emenda: "Salvo se
tiverem relação com o ministério,
onde tudo sempre foi feito dentro
das exigências legais".
Na cidade de Rosário, onde
ocorre o congresso da língua espanhola, Gil dividiu a mesa com a
funcionária do ministério argentino Magdalena Fallace, que defendeu postura contrária à do
Brasil na Convenção sobre a Proteção da Diversidade dos Conteúdos Culturais e Expressões Artísticas, na Unesco, em Paris.
O Brasil vota pelo direito dos
Estados de protegerem e subsidiarem suas manifestações artísticas, porque entende, segundo o
ministro, "que áreas desfavorecidas, desprovidas de recursos precisam de apoio estatal". Quer dizer que Gil manifestou a Fallace a
discordância entre os dois países?
"Os dirigentes não têm de concordar a respeito de tudo."
Ao repórter que insiste em arrancar do ministro declaração de
que na esfera governamental a
língua portuguesa é menos reverenciada do que a espanhola, Gil
responde cantando Noel Rosa:
"Tudo aquilo que o malandro
pronuncia com voz macia é brasileiro, já passou de português".
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