São Paulo, sexta-feira, 19 de novembro de 2004

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MÚSICA

Influenciando e influenciado por Los Hermanos, baterista do grupo indie Acabou la Tequila faz estréia solo

Nervoso mistura pop, rock e iê-iê-iê

PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REPORTAGEM LOCAL

Ó lá mais um imitador do grupo Los Hermanos, você pode vir a pensar -mas não é bem assim. O disco solo de estréia do baterista, compositor e cantor Nervoso é um daqueles casos em que criadores e criaturas se confundem numa única e complexa figura.
A influência dos Hermanos no independente "Saudade das Minhas Lembranças" é real e reconhecida pelo próprio artista carioca, nascido André Gustavo Perlingeiro Paixão há 32 anos.
Mas ocorre que, antes de influenciá-lo, Los Hermanos foram influenciados por uma das bandas de origem de Nervoso, o Acabou la Tequila. "Marcelo Camelo fala até hoje que montou a banda por causa do Acabou la Tequila", reivindica Nervoso, que tem esse apelido desde pequeno, mas diz que hoje em dia só fica nervoso por ter "muitas idéias e pouco tempo para concretizar".
É que ele, que é jornalista formado, foi editor de texto de TV e é dono de produtora de áudio, já circulou e/ou circula por bandas como Beach Lizards, Acabou la Tequila, Autoramas e Matanza. Já substituiu esporadicamente o baterista dos Hermanos e tocou na banda de Wander Wildner.
Esse último dado de currículo, aliás, ajuda a explicar a inusitada proximidade de seu som de underground carioca com o pop rock gaúcho. "Graças ao Kassin [líder do Acabou la Tequila], a gente ouvia Júpiter Maçã, Graforréia Xilarmônica, Wander Wildner, eu absorvi muito tudo isso."
Se o universo de referências citadas (mais a vivência adolescente com heavy metal, punk rock e Tom Waits) parece disparatado, talvez o disparate seja apenas aparente. Essa patota toda possui um referencial em comum, prontamente encampado por Nervoso: a jovem guarda dos anos 60.
"Meu pai era diretor de câmera na TV, gravou Roberto Carlos, Wanderléa, todo mundo. Tenho vergonha de quando ele me levou no Rock in Rio e eu, com 11 anos, também queria jogar pedra no Erasmo Carlos, que estava abrindo com "som romântico" o show do Iron Maiden", lembra.
Hoje ele se diz tão irritado com aquele comportamento como seu pai ficou no dia; o pai, por sua vez, já não se pronuncia sobre a contrariedade de o filho ser músico. E Nervoso mira outro alvo central de seu rock, de sua música, de seu CD: "Já era apaixonado pelo Roberto Carlos aos oito anos, adorava "A Guerra dos Meninos" (80)".
É tanto assim que seu tempo agora se divide também entre o preparo da banda Os Tremendões, que copia nome de grupo iê-iê-iê de Erasmo e toca "tudo" de Erasmo, Wanderléa e, sobretudo, de Roberto Carlos. O primeiro show deve acontecer no Rio em 22 de dezembro, com participação de Lafayette, organista original da jovem guarda, em pessoa. "Fomos encontrá-lo tocando forró em barzinho do subúrbio", conta Nervoso, transpirando saudade das suas lembranças.


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