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BIA ABRAMO
"Antônia"
canta a amizade feminina
O que sustenta o
interesse é a linda e sutil
tessitura da amizade
entre as mulheres
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"ANTÔNIA" INAUGURA uma
nova modalidade: a minissérie de TV que se antecipa à exibição do longa nos cinemas. É exatamente o contrário de
"Cidade dos Homens", série que
continuou a história de dois personagens de "Cidade de Deus".
O negócio parece ousado, mas talvez não seja propriamente arriscado: quando o filme de Tata Amaral
entrar nos cinemas, personagens,
ambientação e músicas já estarão
circulando e certamente arrebanhando fãs -sobretudo entre as garotas. É que, para além de estratégia,
"Antônia", a minissérie, traz para a
TV imagens, sons e temas que não
são contemplados pela estreiteza
dos critérios televisivos.
O filme conta a história da ascensão e queda de Antônia, um grupo de
hip hop formado por quatro amigas
da Brasilândia. A minissérie passa-se dois anos depois quando Preta
(Negra Li), Bárbara (Leilah Moreno), Maia (Quelynah) e Lena (Cyndi
Mendes) retomam a banda.
OK, de imediato, trata-se de uma
série em que as protagonistas são
mulheres e negras; os personagens
secundários são homens e mulheres
e crianças igualmente negros; o sotaque é o da periferia de São Paulo
pontuado pelo paulistaníssimo vocativo "meu"; e o "skyline" da grande
cidade é uma visão distante.
Nada disso é usual na televisão,
embora aqui não se possa deixar de
registrar o pioneiro "A Turma do
Gueto". Dar visibilidade ao invisível
é (quase sempre) um mérito, mas o
risco do recorte sócio-antropológico
é imenso. Só que "Antônia", num
diapasão não-denuncista, tem mais.
O que sustenta o interesse é a linda
e sutil tessitura da amizade entre essas quatro mulheres, às voltas com a
tripla condição "subordinada" de gênero, raça e classe social. Procurando sua identidade, autonomia e um
jeito de sobreviver com dignidade
numa cidade hostil a elas em todos
os aspectos.
A via é a música, o hip hop feminino mais melódico, em que as vozes (e
letras) são tão assertivas quanto as
masculinas, mas o canto procura
uma expressão mais suave e sensual.
As atrizes da série, todas cruas de
TV, são de fato cantoras -e que cantoras!-, e encontram uma fluência
rara diante da câmera. Destaca-se
também o trabalho de resgate da
música negra brasileira: Maia, cantora em um bar de samba-rock, interpreta clássicos do brega simpático; a mãe de Preta, interpretada por
Sandra de Sá, cantarola sambas de
Candeia etc.
Otimista, mas sem ilusões, "Antônia" brilha e tem tudo, como dizem
as garotas, para bombar.
biabramo.tv@uol.com.br
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