São Paulo, domingo, 19 de novembro de 2006

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Crítica

Nicholas Ray filma universo marginal

INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA

O "Party Girl" que o canal TCM anuncia para hoje às 22h é o mesmo "A Bela do Bas-Fond", de Nicholas Ray, isto é: um dos mais belos filmes morais dos anos 1950, talvez de todos os tempos.
Cyd Charisse é uma "party girl" -leia-se "call girl"- que presta serviço a uns tantos gângsteres. Entre eles, o advogado Robert Taylor. Existe um abismo entre as qualificações intelectuais e as físicas do advogado, que é brilhante, porém manco. Cyd é o inverso dele: suas pernas são irrepreensíveis, como se sabe, mas ela é forçada a exercer um papel pouco digno na vida.
O encontro dos dois, no entanto, resulta em uma consciência do mundo que nem um nem outro parece possuir individualmente. Taylor começa a perceber que o brilho dos seus argumentos não serve para nada se não é acompanhado de um gesto de caráter. Cyd descobre algo parecido e, na verdade, é o encontro com ela que o leva a desafiar Cobb, amigo de infância. Como de costume, a mulher faz o homem.
O final, veremos qual é. O importante é, primeiro de tudo, essa luta pela libertação de antigas amarras levada por pessoas que são, a rigor, marginais entre marginais. Os americanos vivem falando em liberdade. Ray preferia falar em libertação. Existe sempre um passado a nos oprimir. É com ele que é preciso lutar. Essa luta Ray narra menos com idéias do que com cores, posturas, gestos. Como o mestre que foi, enfim.


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