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Crítica
Nicholas Ray filma universo marginal
INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA
O "Party Girl" que o canal
TCM anuncia para hoje às 22h
é o mesmo "A Bela do Bas-Fond", de Nicholas Ray, isto é:
um dos mais belos filmes morais dos anos 1950, talvez de todos os tempos.
Cyd Charisse é uma "party
girl" -leia-se "call girl"- que
presta serviço a uns tantos
gângsteres. Entre eles, o advogado Robert Taylor. Existe um
abismo entre as qualificações
intelectuais e as físicas do advogado, que é brilhante, porém
manco. Cyd é o inverso dele:
suas pernas são irrepreensíveis, como se sabe, mas ela é
forçada a exercer um papel
pouco digno na vida.
O encontro dos dois, no entanto, resulta em uma consciência do mundo que nem um
nem outro parece possuir individualmente. Taylor começa a
perceber que o brilho dos seus
argumentos não serve para nada se não é acompanhado de
um gesto de caráter. Cyd descobre algo parecido e, na verdade, é o encontro com ela que o
leva a desafiar Cobb, amigo de
infância. Como de costume, a
mulher faz o homem.
O final, veremos qual é. O importante é, primeiro de tudo,
essa luta pela libertação de antigas amarras levada por pessoas que são, a rigor, marginais
entre marginais. Os americanos vivem falando em liberdade. Ray preferia falar em libertação. Existe sempre um passado a nos oprimir. É com ele que
é preciso lutar. Essa luta Ray
narra menos com idéias do que
com cores, posturas, gestos.
Como o mestre que foi, enfim.
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