São Paulo, segunda-feira, 19 de novembro de 2007

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GUILHERME WISNIK
A BIA e o IAB

Por um lado, a Bienal de Arquitetura deixou de ter salas que parecem estandes de feira; por outro, perdeu prestígio

A BIENAL Internacional de Arquitetura de São Paulo (até 16 de dezembro; ingressos a R$ 12) chega à sua sétima edição dignamente. Feita com cada vez menos recursos e sempre ameaçada de não acontecer, a 7ª BIA conseguiu tirar proveito dessa precariedade reduzindo o seu escopo. Desta vez, em vez de um acúmulo exagerado de trabalhos (sobretudo na parte da "exposição geral de arquitetos"), temos uma mostra mais essencial, em que o vazio faz respirar o belo espaço do pavilhão da Bienal, com salas sempre abertas e amplas áreas de descanso. O que torna expressiva, por exemplo, a montagem das duas salas especiais da mostra, postas lado a lado: a de Oscar Niemeyer, feita com quatro painéis curvos, apresentando o projeto original para o parque Ibirapuera (1951), e a de Paulo Mendes da Rocha, contendo uma única mesa de 40 m que expõe o plano para a candidatura de São Paulo aos Jogos Olímpicos de 2012.
Por outro lado, não temos exposições importantes de arquitetos estrangeiros. Nada que se compare às salas de Jean Nouvel (1993), Gerrit Rietveld (1997), Frank O. Gehry (2001) e Zaha Hadid (2003), entre outras, nem à qualidade das exposições holandesas de edições anteriores, ou da instalação videográfica de Tóquio ("Tokyo Scanner", em 2003), feita por Mamoru Oshii. Nesta BIA, há exposições muito modestas de Steven Holl e Joan Busquets, deixando o destaque maior para a América Latina, com as inteligentes operações espaciais de Alejandro Aravena, o design elegante de Mathias Klotz (ambos chilenos) e as propostas do Urban Think Tank, sediado na Venezuela.
A situação é, portanto, paradoxal. Por um lado, a BIA vai deixando cada vez mais de ter salas que parecem estandes de feira (com carpetes, sofás e painéis diagramados como portfólios), conseguindo, também, manter uma boa regularidade desde 2001. Por outro lado, perdeu visivelmente prestígio no circuito internacional, tornando-se um evento quase caseiro. Quer dizer: as exposições brasileiras vão ganhando maior empatia com o público comum, mas a mostra deixa de nos conectar com as questões mais importantes da produção mundial.
Quando se separou da Bienal de Artes, em 1973, a BIA procurava fazer jus à importância da arquitetura brasileira, propondo abrir um campo de reflexão e divulgação em alto nível. Ocorre que esse campo nunca foi autônomo, já que a mostra sempre foi organizada pelo IAB (Instituto de Arquitetos do Brasil), que é um órgão de classe, e nunca se aproximou formalmente das universidades, responsáveis pela produção do conhecimento. Como coadunar independência crítica e interesses corporativistas de representação profissional? Desnecessário dizer que esse modelo não é seguido por eventos de maior prestígio, como a Mostra Internacional de Arquitetura da Bienal de Veneza, que se ampara na sua excelente escola.
No entanto, com a atual situação de penúria da Fundação Bienal, a presença do IAB se fez vital, garantindo a existência da mostra. É o que temos. Em época de vacas magras, talvez o mínimo já seja muito.


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