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GUILHERME WISNIK
A BIA e o IAB
Por um lado, a Bienal de Arquitetura deixou de ter salas que parecem estandes de feira; por outro, perdeu prestígio
A BIENAL Internacional de Arquitetura de São Paulo (até
16 de dezembro; ingressos a
R$ 12) chega à sua sétima edição dignamente. Feita com cada vez menos
recursos e sempre ameaçada de não
acontecer, a 7ª BIA conseguiu tirar
proveito dessa precariedade reduzindo o seu escopo. Desta vez, em
vez de um acúmulo exagerado de
trabalhos (sobretudo na parte da
"exposição geral de arquitetos"), temos uma mostra mais essencial, em
que o vazio faz respirar o belo espaço
do pavilhão da Bienal, com salas
sempre abertas e amplas áreas de
descanso. O que torna expressiva,
por exemplo, a montagem das duas
salas especiais da mostra, postas lado a lado: a de Oscar Niemeyer, feita
com quatro painéis curvos, apresentando o projeto original para o parque Ibirapuera (1951), e a de Paulo
Mendes da Rocha, contendo uma
única mesa de 40 m que expõe o plano para a candidatura de São Paulo
aos Jogos Olímpicos de 2012.
Por outro lado, não temos exposições importantes de arquitetos estrangeiros. Nada que se compare às
salas de Jean Nouvel (1993), Gerrit
Rietveld (1997), Frank O. Gehry
(2001) e Zaha Hadid (2003), entre
outras, nem à qualidade das exposições holandesas de edições anteriores, ou da instalação videográfica de
Tóquio ("Tokyo Scanner", em
2003), feita por Mamoru Oshii. Nesta BIA, há exposições muito modestas de Steven Holl e Joan Busquets,
deixando o destaque maior para a
América Latina, com as inteligentes
operações espaciais de Alejandro
Aravena, o design elegante de Mathias Klotz (ambos chilenos) e as
propostas do Urban Think Tank, sediado na Venezuela.
A situação é, portanto, paradoxal.
Por um lado, a BIA vai deixando cada vez mais de ter salas que parecem
estandes de feira (com carpetes, sofás e painéis diagramados como
portfólios), conseguindo, também,
manter uma boa regularidade desde
2001. Por outro lado, perdeu visivelmente prestígio no circuito internacional, tornando-se um evento quase caseiro. Quer dizer: as exposições
brasileiras vão ganhando maior empatia com o público comum, mas a
mostra deixa de nos conectar com as
questões mais importantes da produção mundial.
Quando se separou da Bienal de
Artes, em 1973, a BIA procurava fazer jus à importância da arquitetura
brasileira, propondo abrir um campo de reflexão e divulgação em alto
nível. Ocorre que esse campo nunca
foi autônomo, já que a mostra sempre foi organizada pelo IAB (Instituto de Arquitetos do Brasil), que é um
órgão de classe, e nunca se aproximou formalmente das universidades, responsáveis pela produção do
conhecimento. Como coadunar independência crítica e interesses corporativistas de representação profissional? Desnecessário dizer que
esse modelo não é seguido por eventos de maior prestígio, como a Mostra Internacional de Arquitetura da
Bienal de Veneza, que se ampara na
sua excelente escola.
No entanto, com a atual situação
de penúria da Fundação Bienal, a
presença do IAB se fez vital, garantindo a existência da mostra. É o que
temos. Em época de vacas magras,
talvez o mínimo já seja muito.
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