São Paulo, quinta-feira, 19 de novembro de 2009

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Navalha afiada

No aniversário de dez anos de morte de Plínio Marcos, atores e diretores recriam peças do autor de "Navalha na Carne"

Lenise Pinheiro/Folha Imagem
O dramaturgo Plínio Marcos, morto aos 64, em foto de 1999,
feita na sua casa, em SP


LUCAS NEVES
DA REPORTAGEM LOCAL

Há exatos dez anos, morreram Plínio Marcos. Se Drummond emendou a gramática em 69 para se despedir de Cacilda Becker (1921-1969), o dramaturgo santista também mereceria a reverência de uma conjugação verbal obtusa.
Autor de textos-chave da dramaturgia brasileira, como "Dois Perdidos numa Noite Suja" (1966) e "Navalha na Carne" (1967), Plínio encarnou ao longo da vida os papéis de funileiro, palhaço Frajola, ponta-esquerda da Portuguesa Santista, camelô, ator de peças infantis e tarólogo. Extraiu deles a seguinte máxima, registrada em texto entregue por sua mulher a quem foi a seu velório: "Não se prenda a nada".
No teatro, quem lhe ensinou isso foram as figuras marginalizadas, esquecidas dos bordeis, pensões decrépitas e prostíbulos de "Querô", "Dois Perdidos" e "O Abajur Lilás". A escrita cênica de Plínio volta os refletores para o homem da sarjeta, desimportante, grosseiro, quase animalesco -uma novidade na dramaturgia brasileira.
Suas peças lançam um olhar afetuoso, nunca vitimizante, para "os ratos de rua, bocas de estômago atrás do seu quinhão" da "Ode aos Ratos" de Edu Lobo e Chico Buarque.
O primeiro contato com tais personagens ocorreu na infância, nas fugas da escola para o cais do porto de Santos, lar a céu aberto de prostitutas, cafetões, gigolôs e infratores. Dali viria a base para os Pacos e Neusas Suelis de sua lavra.
As criações seguem atuais, como comprovam as dezenas da montagens e filmes que tomam por base textos de Plínio.
A Folha convidou três nomes do teatro a recriar peças dele, cogitando onde estariam, o que fariam e diriam seus personagens hoje. A proposta apresentada aos convidados foi a de fazer uma releitura à luz dos anos que Plínio não viu.
O dramaturgo Mário Bortolotto reencontra o cafetão Vado de "Navalha na Carne" em idade avançada. O ator Marco Ricca casa ficção e fatos para narrar uma sessão de "Dois Perdidos numa Noite Suja" no Municipal de São Paulo. E o diretor Marco Antonio Rodrigues localiza no Minhocão os catadores de papelão de "Homens de Papel".
Os três atestam: Plínio Marcos vivem.


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