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MÚSICA ERUDITA/CRÍTICA
Osesp encerra temporada com as profecias de "Elias"
ARTHUR NESTROVSKI
ARTICULISTA DA FOLHA
"Os justos brilharão como o
Sol no reino do Pai." É o
que diz a ária do tenor, já perto do
fim do oratório "Elias", de Mendelssohn (1809-47). Não parece
uma profecia realista, a curto prazo; mas pelo menos tem essa música por consolo, fechando em
chave simbolicamente rica mais
uma temporada da Osesp na Sala
São Paulo.
Na última quinta-feira, o sol mal
se tinha posto quando começaram os incríveis corais do oratório. Composto em 1846, por encomenda do Festival de Birmingham, foi imediatamente tomado
como contraparte romântico do
barroco "Messias", de Haendel.
Até hoje, continua muito popular,
especialmente na Inglaterra, onde
dezenas de corais escolares mastigam as fugas do "Elias".
De escolar, o coral da Osesp
(preparado por Naomi Munakata) não tem nada. Soou grandioso
quando a música pedia e intimista
ou lírico de acordo com o texto.
Falar em lirismo pode parecer estranho: não há profeta mais duro
do que Elias no Velho Testamento. Causa até algum espanto associá-lo à figura delicada do compositor alemão. Mas não é justamente a combinação da sintética
e arrojada poesia hebraica com as
sublimidades vitorianas que define o tom do oratório?
Algo desse mesmo contraste se
poderia notar no contraste entre a
interpretação expressivíssima do
barítono Christian Gerhaher, no
papel principal, e as colorações
menos dramáticas dos outros três
solistas convidados: Claudia Barainsky (soprano), Stefanie Irányi
(mezzo) e Oliver Ringelhahn (tenor).
A Orquestra Sinfônica do Estado, de sua parte, sob a regência de
John Neschling, fez uma primeira
parte relativamente contida, para
depois se empolgar nos fogos
contrapontísticos e/ou cantilenas
da segunda.
Era quase como se as contradições assumidas por Mendelssohn
-entre a vanguarda e a tradição,
entre o sagrado e o profano, entre
o coletivo e o individual- ganhassem ali uma encenação sonora, em que tudo, ao mesmo
tempo, é efeito e substância.
Efeito de religião, por exemplo,
transformando a sala de concertos em espaço litúrgico, e substância religiosa, traduzindo sentidos
do texto bíblico em linguagem
musical.
Numa ária como "Es ist Genug", que Gerhaher cantou com
grande afeto, bem acompanhado
pelo naipe de violoncelos, as melancolias barrocas de Bach são
transportadas do século 18 para o
19, o que causa um estranho duplo impacto de proximidade e
distância. Desse ponto de vista, o
tom relativamente contido de que
já se falou só ganhava maior pertinência.
Faltou falar das fugas: maravilhosas fugas, pontos altos do repertório romântico, que o maestro Neschling regeu com fluência
e lucidez, mais do que aberta paixão. O que não deixa de ser um
modo atual de escutar Mendelssohn.
De qualquer modo, já é paixão
suficiente terminar 2005 com o
profeta Elias subindo aos céus no
carro de fogo. 2006 começa em
março, com o "Réquiem" de Verdi, que foi escrito para um poeta,
não um profeta, e renova morte e
vida como só a música faz.
Elias
Quando: hoje, às 20h
Onde: Sala São Paulo (pça. Júlio Prestes,
s/nš, região central de São Paulo, tel. 0/
xx/11/3351-8287)
Quando: de R$ 25 a R$ 79
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