São Paulo, terça-feira, 20 de janeiro de 2004

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Tinta fresca

Divulgação
"Desnudo y Figura Vestida" (c. 1945), óleo de José Clemente Orozco, uma das 43 obras da exposição "Poemario", que abre amanhã a Pinacoteca Estação


Espaços reformulados recebem as obras de Anita Malfatti e José Clemente Orozco

ALEXANDRA MORAES
DA REDAÇÃO

"Há duas espécies de artistas", afirmava Monteiro Lobato (1882-1948) no início de seu "A Propósito da Exposição Malfatti" ou "Paranóia ou Mistificação?". Há também duas espécies de Anita Malfatti, determinadas em parte pelo artigo acintoso de Lobato. Uma buscou renovação e a outra se apegou a arte de riscos menores.
Para conhecê-las melhor, a exposição "Referencial Anita Malfatti" reuniu cerca de 90 obras da pintora paulistana (1889-1964).
Vindos do Instituto de Estudos Brasileiros da USP, de coleções particulares e da própria família Malfatti, portanto raramente vistos pelo público, os óleos, aquarelas, desenhos e gravuras dão cor e forma às idas e vindas estilísticas e formais de Anita.
Do "Burrinho" pintado em 1909 às pinturas de temas religiosos do fim dos anos 50, a mostra esmiúça o caminho desigual percorrido por um dos principais nomes do modernismo brasileiro, cuja exposição de 1917, alvo da crítica de Monteiro Lobato, serviu tanto como estopim da Semana de Arte Moderna de 1922 como ao desencorajamento de uma produção quase investigativa sobre a arte revolucionária que se produzia no exterior e que dava seus primeiros e claudicantes passos no Brasil.
"Anita trouxe o movimento expressionista para o Brasil. Quando fez a exposição de 1917 e foi criticada por Monteiro Lobato, ela se sensibilizou muito", explica Sheila Villas Boas, diretora-executiva da Academia Brasileira de Belas Artes, órgão consultivo do governo federal que organizou a exposição para o Conjunto Cultural da Caixa.
Sendo "O Homem Amarelo", a "Estudante Russa" ou os retratos de Mário de Andrade -que ficaram conhecidos como acirradores de uma possível rivalidade entre Anita e sua colega de modernismo Tarsila do Amaral-, as obras de Anita, resultado de seus estudos na Europa e nos Estados Unidos, dão um salto em direção ao expressionismo para depois se retraírem, voltando a bases realistas e tradicionais e a aulas com o pintor acadêmico Pedro Alexandrino (1856-1942).
Mas a artista não abandonou por completo o gosto pela vanguarda, como o provam as surpresas "Outono" e "Primavera", dois de quatro óleos sobre madeira, que são aproximações do concretismo pintadas por Anita Malfatti no início dos anos 50, quando o movimento engatinhava no Brasil. Mas a produção não foi mostrada -ficou até hoje sob os cuidados de seu então aluno Alayr Nardella.
"Referencial Anita Malfatti" marca a reabertura do prédio do Conjunto Cultural da Caixa, na praça da Sé, centro de São Paulo, no dia em que a cidade comemora 450 anos.
Construído em 1939, o térreo do prédio, antes ocupado por uma agência do banco, se torna espaço expositivo e se aproxima do público. Reformado, vai destacar detalhes arquitetônicos e artísticos, como vitrais que estavam escondidos na agência.

Orozco no Dops
Prédios, histórias e vanguardas. Um dos principais trinômios das comemorações "artísticas" do aniversário de São Paulo é também mote do antigo prédio do Dops, que é reaberto amanhã com obras do mexicano José Clemente Orozco (1883-1949).
A construção eclética de 1914, projetada por Ramos de Azevedo, abrigava escritórios e armazéns da estrada de ferro Sorocabana. No fim da década de 30, depois da construção da estação Júlio Prestes, o edifício virou sede da Secretaria de Segurança Pública, onde em seguida foi instalado o Departamento de Ordem Política e Social, Dops, que permaneceu em atividade até 1983.
O térreo, onde ficavam as celas de prisioneiros políticos, foi preservado sem alterações e deu lugar ao Memorial da Liberdade. Nos outros cinco andares, passa a funcionar a Pinacoteca Estação, espaço administrado pela Pinacoteca do Estado.
Provenientes da mostra que foi dedicada ao muralista na 4ª Bienal do Mercosul, que ocorreu no ano passado, em Porto Alegre, as 43 obras de "Poemario" estão divididas em cinco núcleos e foram classificadas por temas, como amor, barbárie e corpo, além de muitas delas serem vigorosas críticas ao poder.
Também de Ramos de Azevedo é a Casa Lutetia, anexo da Faap que no dia 25 reabre com três exposições (leia quadro ao lado).
No segundo semestre, é a vez de o Centro Universitário Maria Antônia inaugurar um espaço restaurado, o edifício Joaquim Nabuco, que vai servir como anexo para exposições.


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