São Paulo, terça-feira, 20 de janeiro de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ARTES PLÁSTICAS

Com 25 obras de grandes nomes, "Provocando o Olhar" se estende através do acervo Masp, onde ocorre

Exposição desenrola assuntos e olhares distintos

DA REDAÇÃO

Foi numa obra de Peter Paul Rubens (1577-1640) que a mostra "Provocando o Olhar" teve seu nome inspirado. Como o olhar fulminante do bispo em "Michel Ophovius" (1635), a exposição pretende provocar a maneira como o espectador vê a arte, apostando no didatismo e pegando carona no rico acervo do museu que a hospeda -o Masp.
Para cumprir a tarefa que se propõe no título, a mostra, inaugurada hoje, procura justapor as 25 obras, entre pinturas e esculturas, vindas da Fundação Santander, na Espanha, a outras 50, pertencentes ao Masp.
Dentre as obras, trazidas pela primeira vez ao Brasil especialmente para a exposição, é difícil não encontrar um grande nome: El Greco, Picasso, Van Dyck, Tintoretto, Paul de Vos, Valdés Leal e Miró são alguns dos que compensam com grife a pouca quantidade de peças. Como a mostra tem apenas uma obra de cada artista (a exceção é Pérez Villaamil (1807-1854), com duas), a remissão para as obras do museu também serve como um fortalecimento curatorial, além de a orientação principal já ser dada através de núcleos temáticos.
E é a partir dos núcleos que a exposição se desenrola -até literalmente, já que o espaço está organizado com curvas "à Niemeyer". Pinturas religiosas podem estar levemente interligadas, mas cada uma, na concepção do curador Luciano Migliaccio, pode remeter também a obras e artistas de épocas e estilos distintos.
A pintura de Rubens supracitada, por exemplo, se voltaria ao "Oficial Sentado", de seu contemporâneo Frans Hals (1581/84-1666), "em que o ritmo das pinceladas dão ao militar uma vitalidade descontraída e livre, que chega quase à caricatura", segundo Migliaccio. O bispo provocador também é relacionado ao "Retrato de Leopold Zborowski", de Modigliani (1884-1920).
A "Pregação de São João Batista", de Lucas Cranach, o Velho (1472-1553) é ligada ao painel "As Tentações de Santo Antão", de Bosch, e às "Cinco Moças de Guaratinguetá", de Di Cavalcanti. Como? Cranach e Bosch exprimem "essa mesma visão religiosa e crítica do mundo: perceba a transformação monstruosa das personagens", enquanto na obra de Di Cavalcanti também está presente "a sátira sugerida pelos rostos embrutecidos dos camponeses de Cranach", indica Migliaccio no texto-guia produzido para quem visita a exposição.
Além do texto, a intersecção entre as produções de artistas, épocas e estilos distintos é feita através de vídeos de 40 segundos exibidos em monitores colocados ao lado das obras de "Provocando o Olhar". Na saída, o convite é "procurar no acervo do Masp as obras citadas", segundo Leonel Kaz, responsável pela concepção da exposição.
"Quebramos um pouco a concepção curatorial tradicional para permitir ao visitante criar sua própria curadoria", explica Kaz. "São 25 obras estrangeiras que fazem relação com outras 50 e permitem ao visitante descobrir mais uma infinidade no acervo do Masp", conclui.
(ALEXANDRA MORAES)


PROVOCANDO O OLHAR. Exposição de 25 obras vindas da Fundação Santander, na Espanha. Quando: de ter. a dom., das 11h às 18h (entrada até as 17h). Até 21/3. Onde: Masp (av. Paulista, 1.578, 2º andar, tel. 0/xx/11/251-5644. Quanto: R$ 10.


Texto Anterior: Tinta fresca
Próximo Texto: Mônica Bergamo
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.