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MÚSICA
Multiartista lança "Nove de Frevereiro", primeiro de dois discos de um projeto que inclui espetáculos, documentário e oficinas
Nóbrega antecipa o centenário do frevo
JANAINA FIDALGO
DA REPORTAGEM LOCAL
Um ano antes de o frevo fazer
um século, o multiartista pernambucano Antonio Nóbrega, 53, dá
início à festa e vai "incensando
culturalmente o país para esse
evento", com o lançamento de
um álbum dedicado ao gênero.
Referência à data em que a palavra frevo foi publicada pela primeira vez em um periódico, o
"Jornal Pequeno" de Recife, em
1907, "Nove de Frevereiro" é o
primeiro de dois discos de um
projeto que inclui ainda espetáculos em São Paulo (de 3 a 5/2 no
Sesc Pompéia) e no Recife (de 9 a
11/2), ambos patrocinados pelo
Natura Musical, um DVD, um
documentário e uma série de oficinas programadas para 2007 na
escola do músico, o Espaço Brincante.
"Espero que a esses eventos e
trabalhos se somem outros", diz
Nóbrega. "Acho que não errei em
ter adiantado em um ano as comemorações, porque com isso estou fortalecendo as possibilidades
de os brasileiros entrarem em
contato com o frevo."
Produzido pelo Brincante e distribuído pela Trama, o CD é uma
coletânea de frevos instrumentais
e cantados, com novos arranjos,
de compositores como Capiba,
José Menezes e Nelson Ferreira,
além do próprio Nóbrega.
"Eu escolhi arranjadores compositores de frevos. Por exemplo,
Levino Ferreira foi arranjado por
Clóvis Pereira, que é um grande
compositor", explica. "Para cada
arranjo eu tinha uma concepção.
Tem um frevo só com conjunto
de saxofones, outro só com conjunto de metais, há um com regional de cordas. Procurei apresentar
cada frevo dentro de um timbre."
Embora não faça parte da tradição do frevo, o violino é usado pelo músico. Ele explica: "Eu queria
tocar frevo com violino. Onde é
que está escrito que não pode?
Acho que a gente tem de colocar
os instrumentos a serviço da música. É a interpretação, o sotaque
musical, o temperamento daquela música que temos de ser capazes de traduzir para o instrumento que a gente toca".
A dança do frevo
Se hoje Nóbrega diz ser um
apaixonado por todas as vertentes
do frevo, o instrumental e o cantado, foi pela dança que chegou ao
gênero. "Quando Ariano Suassuna me convidou para integrar o
Quinteto Armorial, ele me possibilitou o conhecimento de vários
artistas populares, entre eles o
passista de frevo Nascimento do
Passo. Eu tinha 19 anos e nunca
havia pensado em abraçar a dança como forma de expressão",
conta. "Fui tomado pelo frevo e
comecei a aprender passos, a
acompanhar o Nascimento onde
ele morava, porque o frevo, na
época, só era dançado nos dias de
Carnaval. Não havia uma cultura
de frevo durante todo o ano."
Constituída principalmente por
instrumentos de metal (trompetes e trombones), de palheta (saxofones e clarinetes) e de percussão, a orquestra de frevo tem origem nas bandas militares.
"Essas bandas tocavam polcas,
maxixes, dobrados e eram as responsáveis pela animação da metrópole. Onde houvesse festas, de
caráter religioso ou não, a banda
estaria lá", explica o músico.
Nas ruas, as bandas arregimentavam torcedores que, por vezes,
rivalizavam com os simpatizantes
de outros conjuntos. Para proteger os músicos da exaltação das
torcidas, as bandas passaram a
contratar capoeiristas.
"Com o tempo, a figura dos capoeristas começou a se agregar à
banda. O sujeito começou a transformar os movimentos da capoeira em movimentos menos belicosos. Ao longo dos anos, aquela
música que estava ali atrás dele o
insuflava. Tanto é que existem
passos do frevo que são muito parecidos com o movimento da capoeira", diz Nóbrega. "O vocabulário foi se ampliando e hoje um
passista detém um repertório de
70, 80 passos. No espetáculo, vou
contar corporalmente como foi."
Na linguagem das ruas, essa tal
música punha todos a dançar,
"frevia". Daí a origem da palavra.
Elemento intrínseco ao frevo, a
sobrinha, hoje adornada e colorida, remonta ao guarda-chuva,
elemento de múltiplo uso: protegia do sol, ajudava na defesa pessoal e servia de cabide para pendurar as provisões.
"O frevo é um assunto muito
bonito que ainda estamos por
contar em toda a sua dimensão",
diz Nóbrega, incensando o país.
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