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BIA ABRAMO
O "BBB" como balão de ensaio
Quando tudo o mais se mostra ineficiente, nada como uma dose extra de baixaria e miséria
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ALÉM DE principal fonte de receita publicitária da TV Globo
nesse período meio morto
que antecede o Carnaval, o "Big Brother" deve estar se constituindo como um importante balão de ensaio
para a emissora testar a recepção do
público ao que se chama de baixaria.
"Baixaria" é daqueles vocábulos
muito flexíveis da linguagem coloquial brasileira que são, ao mesmo
tempo, genéricos e específicos. A generalidade se dá pela variedade de
situações em que se aplica -fala-se
de baixaria em relação a costumes
sexuais, a comportamentos sociais, a
conflitos entre pessoas. Basicamente, qualquer situação de interação
humana está sujeita à baixaria. Ao
mesmo tempo, quando se fala em
baixaria, há uma sinalização clara de
que algum limite do socialmente
aceitável foi ultrapassado.
Assistir à degradação alheia excita
a curiosidade -e boa parte da lógica
do espetáculo é regida por essa curiosidade humana sobre as formas
da decadência. Quando tudo o mais
se mostra ineficiente, nada como
uma dose extra de baixaria e miséria
para reconectar o público (e não só o
da TV, diga-se). Só que o tamanho, a
regularidade e a composição exata
da dose não são fáceis de definir -se
de menos, não fazem efeito, se em
excesso, assustam e afastam.
O "Big Brother" versão brasileira,
a partir das últimas edições, é um
campo privilegiado para se testar
quantidades, freqüências e elementos. Desde que a escolha dos participantes excluiu gente mais velha,
mais pobre e mais mestiça, de maneira que os 14 eleitos pertençam ao
plantel genético e social aceito como
"bonito e atraente", o programa induz à formação quase automática de
ficantes, paqueras e até mesmo casais "apaixonados" até a página dois.
Com isso, testa-se a tolerância ao
sexo total ou parcialmente não romântico. Mais: na mesma tacada, investiga-se o quanto da armação romântica parece verossímil o suficiente para justificar os agarros e a
exibição de erotismo.
Nem se pode mais falar em "personagens" ou em alguma espécie de
narrativa, uma vez que todas as fichas foram jogadas na ambientação
para que aflorem as "escorregadelas" etílicas, sexuais e éticas.
Nesta oitava edição, parece haver
um alerta. Em apenas pouco mais de
uma semana, já houve meio de tudo:
porre, mão na bunda, pegação no
chuveiro, saída (e volta, e saída de
novo) do armário, "cachorra" preterida, paixão automática e muita, mas
muita, conversa mole e burra. Nem
com uma dancinha protagonizada
por moças com seios cobertos por
espuma a audiência reagiu.
Talvez queira dizer que só baixaria
é muito pouco.
biabramo.tv@uol.com.br
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