São Paulo, sábado, 20 de fevereiro de 2010

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60º FESTIVAL DE BERLIM

Diretor de evento diz que Brasil não ofereceu opções

Em entrevista, Dieter Kosslick afirma que, como em anos anteriores, buscou produções no país, mas não encontrou

Alemão defende que produções em 3D, ausentes do festival, não são o perfil do público da Berlinale; prêmios saem hoje


CRISTINA FIBE
ENVIADA ESPECIAL A BERLIM

A modesta participação brasileira no 60º Festival Internacional de Cinema de Berlim, sem nenhum filme concorrendo ao Urso de Ouro -a ser anunciado hoje-, foi pura falta de opção, segundo o diretor do evento, Dieter Kosslick, 61. Em entrevista à Folha, ontem, o responsável desde 2001 pela seleção da Berlinale afirmou ter todos os meios para encontrar os bons filmes brasileiros para o festival, "mas apenas não funcionou neste ano para a nossa competição".
Ele aponta para um papel com os cinco longas e o curta brasileiros que foram exibidos em seções menores: "Isso foi tudo o que encontramos".
Seria uma indicação de que a produção nacional está enfraquecida? "Não é nada", contesta. "Também não temos nenhum filme francês na competição. Há momentos, há anos em que não há nada. Temos muito boa relação com os brasileiros e nossos representantes lá, procurando filmes. Então, possuímos bons contatos, tudo de que precisamos, mas apenas não funcionou", afirma o diretor. "Nada especial. Nada a dizer sobre isso."
O país recebeu o prêmio máximo da Berlinale duas vezes -com "Central do Brasil" (1998) e "Tropa de Elite" (2008). Na última, criou polêmica por dar o Urso a "um filme tão violento", nas palavras de Kosslick. "Adoraríamos ter outro [concorrente brasileiro ao] Urso, porque fomos muito criticados aqui, quer dizer, o júri foi muito criticado [por dar o troféu a "Tropa de Elite"]."
A seleção competitiva deste ano ele divide em dois tópicos. "O Islã, muçulmanos e discussões sobre diferentes religiões; e muitos filmes sobre famílias. [...] Se você disser que isso é político, vou concordar, se você disser que é muito pessoal, também concordarei. Depende da forma como você olha."
Um terceiro aspecto marcou a escolha dos filmes desta Berlinale -não há nenhuma produção em 3D. O festival ainda não se abriu à tecnologia -diferente de Cannes, que no ano passado teve a exibição de "Up - Altas Aventuras". Apesar de afirmar que poderia ter aberto o festival com "Avatar", Kosslick não parece querer mudar esse aspecto da Berlinale.
"Por que eu deveria mostrar a pessoas que tem educação cinematográfica e que trabalham com isso um filme em 3D? É definitivamente a plateia errada para isso. Sou favorável ao 3D, tudo bem para mim, é ótimo, é um marketing fantástico, mas eu amo o meu filme de abertura, com uma família ["Apart Together"]. É muito mais 3D para mim do que todo o resto. E eu não tenho que usar os óculos para ver a terceira dimensão desse filme."
Quanto aos prêmios a serem anunciados hoje pelo júri presidido pelo cineasta Werner Herzog, Kosslick aponta para os estreantes, apesar de negar saber a opinião dos jurados.
"[O festival] Trouxe tantos novos diretores, com elencos fantásticos -são filmes totalmente novos, pessoas novas, novas energias. O romeno ["If I Want to Whistle, I Whistle'] é de um diretor estreante." Ao perceber a dica do favorito, o diretor da Berlinale desvia. "Não tenho ideia, não falei com Herzog, só vi o júri no início do festival e os verei amanhã. Mas saberei essa noite."

A repórter CRISTINA FIBE está hospedada a convite do festival



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