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FESTIVAL DE BERLIM
"A Casa do Mestre" traz imagens inéditas de um cineasta descontraído; dia de competição foi fraco
Documentário revela outro Eisenstein
AMIR LABAKI
enviado especial a Berlim
"A Casa do Mestre" é o documentário certo na hora certa. Lançado anteontem no Fórum Internacional do Novo Cinema, celebra
o centenário de nascimento do cineasta letão Serguei Eisenstein
combatendo a canonização e dando-lhe inédita humanidade.
Realizado em vídeo para a rede
de televisão franco-germânica Arte, "A Casa do Mestre" não se limita a biografar como numa enciclopédia fílmica o maior nome do cinema soviético. Assim, nada de legendas para cada personagem ou
para cada filme citado. A trajetória
de Eisenstein surge comentada
por cenas do cinema clássico, incluindo suas próprias obras.
O filme divide-se em capítulos
nomeados a partir das várias "casas" do diretor, tanto do ponto de
vista geográfico quanto do metafórico. Segue-se, por exemplo, Eisenstein da "casa paterna" ao "túmulo", passando pela "casa de vidro", referência a seu longo período extra-soviético anterior à aventura mexicana, e pela "catedral"
-entenda-se "Ivan, o Terrível".
A vida burguesa da família Eisenstein pré-1917 surge retratada
pelas corrosivas sátiras de Erich
von Stroheim. A resistência ao nazismo remete a "O Grande Ditador", de Chaplin. Melodramas do
realismo socialista ilustram de forma cômica a loucura staliniana.
O melhor são as imagens inéditas. Extratos recém-descobertos
de cinejornais e documentários
trazem inúmeros instantâneos do
cotidiano do diretor. A figura
compenetrada das fotos mais conhecidas matiza-se frente ao descontraído Eisenstein em ação.
Seu carisma revela-se então por
inteiro. Ei-lo aqui morrendo de rir
ao errar várias vezes o texto num
documentário sobre os bastidores
de uma filmagem na URSS dos
anos 30. Vários trechos exibem
sua pouco estudada faceta de professor, ensinando aqui as diferentes possilidades de um enquadramento, corrigindo acolá exercícios de direção de atores.
O triunfo de "A Casa do Mestre"
agiganta-se quando se sabe que o
documentário foi produzido em
apenas três meses. O feito se explica pela presença como roteirista
da maior autoridade eisensteniana, o russo Naum Kleiman, diretor da Cinemateca de Moscou e
curador do pequeno museu dedicado ao cineasta. A competente
direção é assinada pelos também
russos Marianna Kirejewa e Alexander Iskin. Toda escola de cinema deveria reservar em sua videoteca um lugar de honra para este
delicioso documentário.
Competição
Nada de novo no front da competição ontem. "Xiu Xiu" é uma
estréia modesta, mas competente,
da atriz Joan Chen ("O Último Imperador") atrás das câmeras. A
trama acompanha as desventuras
de uma jovem estudante urbana
que é esquecida no interior do país
pelos burocratas da retrógrada
Revolução Cultural (1966-75).
"The Boys" inaugurou a participação australiana na disputa. Rowan Woods mostra-se um discípulo aplicado, mas sem brilho, do
novo realismo de Mike Leigh ("Segredos e Mentiras"). Muita câmera na mão e uma narrativa pontuada por idas e vindas no tempo
tentam imprimir desconforto na
apresentação do dia-a-dia de uma
família torturada por três irmãos
desajustados. Pena que, até chegar
ao bom final, seja tão repetitivo.
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