São Paulo, sexta, 20 de fevereiro de 1998

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Oliver Stone estiliza EUA em "Reviravolta"

BERNARDO CARVALHO
especial para a Folha

Oliver Stone é um cineasta que busca descaradamente um estilo pessoal, não poupando esforços na sua meta, nem que para isso tenha que por vezes ir beber em fonte alheia.
O fato é que essa busca já dura um bom tempo e não parece estar próxima de chegar ao fim, a se tomar pelo último filme do diretor, "Reviravolta", que estréia hoje.
O enredo parte de uma situação bastante conhecida não só da literatura e do cinema (dos filmes "noir" dos anos 40 e 50), mas também das séries fantásticas e de horror da TV: um estrangeiro (no caso, um sujeito de passado escuso que atravessa o deserto de carro rumo a Las Vegas, onde pretende pagar o que deve a um bando de gângsteres) é obrigado a fazer uma parada (para consertar o motor do carro) numa cidadezinha abandonada e acaba descobrindo que caiu numa armadilha. Agora é prisioneiro de um pesadelo.
O estrangeiro se afunda cada vez mais nesse mundo absurdo e sem fim conforme vai encontrando e se envolvendo com os moradores da cidadezinha, a começar pelo mecânico com quem deixa o carro, e termina encontrando um estranho casal cujo marido quer matar a mulher - e a mulher, o marido.
Para criar uma atmosfera absurda e opressiva, mas ao mesmo tempo forçadamente cômica, Oliver Stone lança mão de uma estetização da violência (já habitual), da estética do videoclipe (com câmeras inclinadas, movimento apressado ou câmera lenta gratuita), da qual havia abusado em "Assassinos por Natureza", e de uma exacerbação dos clichês americanos.
Faz assim uma estilização dos EUA, na falta de um estilo próprio, apostando na caricatura de uma realidade violenta e mítica.
É duro não pensar que "Reviravolta" tem algo de um pastiche de "Coração Selvagem" e que poderia ser visto portanto como um sub-David Lynch, simplesmente porque aqui a vontade de criar um clima à força vem mais de um maneirismo artificioso, vampirizado, do que de um estilo autêntico, ainda que maneirista.
Tudo levaria a confirmar o estigma de Oliver Stone (mais do que um cineasta sem nenhum estilo, um diretor cujo estilo é a vampirização do que vê à sua volta), se não fosse o dramalhão familiar, o clichê psicológico a que o filme recorre pouco antes do desfecho. E é quando Stone, ao escorregar, prova ao espectador que, para além da simples vampirização, há finalmente qualquer coisa de pessoal na sua busca descarada por um estilo.

Filme: Reviravolta
Produção: EUA, 1997
Direção: Oliver Stone
Com: Sean Penn, Jennifer Lopez, Nick Nolte, Claire Danes Quando: a partir de hoje, nos cines Belas Artes - sala Carmen Miranda, West Plaza 1 e circuito



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