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Oliver Stone estiliza EUA em "Reviravolta"
BERNARDO CARVALHO
especial para a Folha
Oliver Stone é um cineasta que
busca descaradamente um estilo
pessoal, não poupando esforços
na sua meta, nem que para isso tenha que por vezes ir beber em fonte alheia.
O fato é que essa busca já dura
um bom tempo e não parece estar
próxima de chegar ao fim, a se tomar pelo último filme do diretor,
"Reviravolta", que estréia hoje.
O enredo parte de uma situação
bastante conhecida não só da literatura e do cinema (dos filmes
"noir" dos anos 40 e 50), mas também das séries fantásticas e de
horror da TV: um estrangeiro (no
caso, um sujeito de passado escuso que atravessa o deserto de carro
rumo a Las Vegas, onde pretende
pagar o que deve a um bando de
gângsteres) é obrigado a fazer uma
parada (para consertar o motor do
carro) numa cidadezinha abandonada e acaba descobrindo que caiu
numa armadilha. Agora é prisioneiro de um pesadelo.
O estrangeiro se afunda cada vez
mais nesse mundo absurdo e sem
fim conforme vai encontrando e
se envolvendo com os moradores
da cidadezinha, a começar pelo
mecânico com quem deixa o carro, e termina encontrando um estranho casal cujo marido quer matar a mulher - e a mulher, o marido.
Para criar uma atmosfera absurda e opressiva, mas ao mesmo
tempo forçadamente cômica, Oliver Stone lança mão de uma estetização da violência (já habitual), da
estética do videoclipe (com câmeras inclinadas, movimento apressado ou câmera lenta gratuita), da
qual havia abusado em "Assassinos por Natureza", e de uma exacerbação dos clichês americanos.
Faz assim uma estilização dos
EUA, na falta de um estilo próprio, apostando na caricatura de
uma realidade violenta e mítica.
É duro não pensar que "Reviravolta" tem algo de um pastiche de
"Coração Selvagem" e que poderia
ser visto portanto como um
sub-David Lynch, simplesmente
porque aqui a vontade de criar um
clima à força vem mais de um maneirismo artificioso, vampirizado,
do que de um estilo autêntico, ainda que maneirista.
Tudo levaria a confirmar o estigma de Oliver Stone (mais do que
um cineasta sem nenhum estilo,
um diretor cujo estilo é a vampirização do que vê à sua volta), se
não fosse o dramalhão familiar, o
clichê psicológico a que o filme recorre pouco antes do desfecho. E é
quando Stone, ao escorregar, prova ao espectador que, para além da
simples vampirização, há finalmente qualquer coisa de pessoal
na sua busca descarada por um estilo.
Filme: Reviravolta
Produção: EUA, 1997
Direção: Oliver Stone
Com: Sean Penn, Jennifer Lopez, Nick
Nolte, Claire Danes
Quando: a partir de hoje, nos cines Belas
Artes - sala Carmen Miranda, West Plaza 1 e
circuito
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