São Paulo, quarta-feira, 20 de março de 2002

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LITERATURA

Paulo Coelho, Hélio Jaguaribe e Mário Gibson Barbosa disputam a cadeira de Roberto Campos, morto em 2001

Eleição na ABL pode ter "empate técnico"

CARLA MENEGHINI
FREE-LANCE PARA A FOLHA

A eleição para a cadeira número 21 -antes ocupada por Roberto Campos, morto em 9 de outubro do ano passado- da Academia Brasileira de Letras (ABL), que acontece amanhã, promete ser uma das mais acirradas dos últimos anos. O risco de empate técnico é grande, pois é necessário maioria absoluta para ser eleito.
A Folha apurou que, dos 37 acadêmicos que podem votar atualmente -Zélia Gattai e Raymundo Faoro ainda não tomaram posse-, 29 já têm candidato. Celso Furtado, Lucas Moreira Neves, Sérgio Corrêa da Costa e Nélida Piñon não puderam ser ouvidos, pois estavam no exterior.
Das intenções de voto definidas, 12 são para o escritor Paulo Coelho, nove para o cientista político Hélio Jaguaribe e oito para o diplomata Mário Gibson Barbosa (veja quadro nesta página).
A maioria dos imortais pediu que seu nomes não fossem vinculados a seus votos porque, segundo normas, a votação é secreta.
Caso nenhum dos candidatos atinja o quórum de 19 votos no primeiro escrutínio, serão realizados outros quatro. Ao fim de cada um, a apuração será divulgada.
Se o quórum não for atingido, haverá uma segunda eleição, com mais quatro escrutínios. Se ainda assim nenhum candidato obtiver maioria, a eleição será anulada e as inscrições para a cadeira serão novamente abertas para uma nova eleição, três meses depois.
Oliveiros Litrento, João Ricardo Moderno e Luís de Miranda, que também se inscreveram para a vaga, desistiram da disputa. Outros candidatos foram Pio Corrêa, Orlando Villas-Boas, Júlio Romão da Silva, J. Carlos de Assis, Gonçalo Ferreira da Silva e Amil Alves.
Comenta-se nos bastidores que Jaguaribe e Barbosa combinaram que, caso a eleição vá ao segundo escrutínio, um dos dois -o que tiver menos votos- retirará sua candidatura para que os votos para ambos sejam acumulados e uma vitória de Coelho, evitada.
Ambos negam a articulação, mas Jaguaribe afirma ser "mais simpático à candidatura de Barbosa", e Barbosa diz que "é possível que isso aconteça, mas não há nenhuma combinação prévia".
A candidatura do "mago" tem sido alvo de muita discussão entre os acadêmicos: alguns a consideram uma afronta à ABL, outros acreditam que Coelho merece seu lugar entre os imortais e que preconceitos devem ficar de lado.
"Não podemos eleger um gênio do marketing a serviço da mediocridade literária; o Brasil não pode ter em sua Academia alguém que explora o esoterismo para atrair cabeças fracas e ganhar dinheiro", diz um eleitor de Hélio Jaguaribe que preferiu não se identificar.
"Mesmo diante das restrições a seu tipo de literatura, não podemos negar que ele é o autor brasileiro mais publicado no mundo, um recordista de vendas; a obra dele deve ter algum valor", afirma o acadêmico Murilo Melo Filho.
O acadêmico Antônio Olinto da Rocha, que considera Coelho o "Pelé da literatura", justifica sua escolha: "Um escritor que vende milhões de exemplares no exterior precisa ser valorizado".
Outros membros preferem manter a diplomacia, como Sábato Magaldi, que acredita que Paulo Coelho, Hélio Jaguaribe e Mário Barbosa merecem igualmente uma vaga e terão sua vez. "Não é uma corrida de cavalos", diz.



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