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LITERATURA
Paulo Coelho, Hélio Jaguaribe e Mário Gibson Barbosa disputam a cadeira de Roberto Campos, morto em 2001
Eleição na ABL pode ter "empate técnico"
CARLA MENEGHINI
FREE-LANCE PARA A FOLHA
A eleição para a cadeira número
21 -antes ocupada por Roberto
Campos, morto em 9 de outubro
do ano passado- da Academia
Brasileira de Letras (ABL), que
acontece amanhã, promete ser
uma das mais acirradas dos últimos anos. O risco de empate técnico é grande, pois é necessário
maioria absoluta para ser eleito.
A Folha apurou que, dos 37 acadêmicos que podem votar atualmente -Zélia Gattai e Raymundo Faoro ainda não tomaram
posse-, 29 já têm candidato. Celso Furtado, Lucas Moreira Neves,
Sérgio Corrêa da Costa e Nélida
Piñon não puderam ser ouvidos,
pois estavam no exterior.
Das intenções de voto definidas,
12 são para o escritor Paulo Coelho, nove para o cientista político
Hélio Jaguaribe e oito para o diplomata Mário Gibson Barbosa
(veja quadro nesta página).
A maioria dos imortais pediu
que seu nomes não fossem vinculados a seus votos porque, segundo normas, a votação é secreta.
Caso nenhum dos candidatos
atinja o quórum de 19 votos no
primeiro escrutínio, serão realizados outros quatro. Ao fim de cada
um, a apuração será divulgada.
Se o quórum não for atingido,
haverá uma segunda eleição, com
mais quatro escrutínios. Se ainda
assim nenhum candidato obtiver
maioria, a eleição será anulada e
as inscrições para a cadeira serão
novamente abertas para uma nova eleição, três meses depois.
Oliveiros Litrento, João Ricardo
Moderno e Luís de Miranda, que
também se inscreveram para a vaga, desistiram da disputa. Outros
candidatos foram Pio Corrêa, Orlando Villas-Boas, Júlio Romão
da Silva, J. Carlos de Assis, Gonçalo Ferreira da Silva e Amil Alves.
Comenta-se nos bastidores que
Jaguaribe e Barbosa combinaram
que, caso a eleição vá ao segundo
escrutínio, um dos dois -o que
tiver menos votos- retirará sua
candidatura para que os votos para ambos sejam acumulados e
uma vitória de Coelho, evitada.
Ambos negam a articulação,
mas Jaguaribe afirma ser "mais
simpático à candidatura de Barbosa", e Barbosa diz que "é possível que isso aconteça, mas não há
nenhuma combinação prévia".
A candidatura do "mago" tem
sido alvo de muita discussão entre
os acadêmicos: alguns a consideram uma afronta à ABL, outros
acreditam que Coelho merece seu
lugar entre os imortais e que preconceitos devem ficar de lado.
"Não podemos eleger um gênio
do marketing a serviço da mediocridade literária; o Brasil não pode
ter em sua Academia alguém que
explora o esoterismo para atrair
cabeças fracas e ganhar dinheiro",
diz um eleitor de Hélio Jaguaribe
que preferiu não se identificar.
"Mesmo diante das restrições a
seu tipo de literatura, não podemos negar que ele é o autor brasileiro mais publicado no mundo,
um recordista de vendas; a obra
dele deve ter algum valor", afirma
o acadêmico Murilo Melo Filho.
O acadêmico Antônio Olinto da
Rocha, que considera Coelho o
"Pelé da literatura", justifica sua
escolha: "Um escritor que vende
milhões de exemplares no exterior precisa ser valorizado".
Outros membros preferem
manter a diplomacia, como Sábato Magaldi, que acredita que Paulo Coelho, Hélio Jaguaribe e Mário Barbosa merecem igualmente
uma vaga e terão sua vez. "Não é
uma corrida de cavalos", diz.
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