São Paulo, sábado, 20 de março de 2004

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ENTRELINHAS

Geografia da "fome"

CASSIANO ELEK MACHADO
DA REPORTAGEM LOCAL

O Brasil tem quase três vezes mais bibliotecas do que as "otoridades" imaginam. São mais de 14 mil delas, em contraste com as 5.000 e poucas que constam do Cadastro Nacional de Bibliotecas. A conclusão é de uma importante estudo que está sendo concluído pelo Instituto Ecofuturo, ONG que promove o "desenvolvimento sustentado".
O mapa de bibliotecas traçado pela pesquisa traz dados curiosos. É no ninho do poder, o Distrito Federal, que está o maior déficit de bibliotecas do Brasil: uma para cada 30.909 seres.
São Paulo também não faz bonito. São 2.090 bibliotecas, uma para cada 18 mil cidadãos paulistas (bem longe do índice recomendado pela Unesco, de, no mínimo, uma biblioteca para cada 5.000). O Estado que mais se aproxima disso, pasmem, é o Amapá (6.824 hab./biblioteca).
Os dados do Ecofuturo mostram que o "buraco é fundo", mas que não "acabou-se o mundo". Cumpridos os ambiciosos e nada fáceis objetivos do programa governamental Fome de Livro (leia abaixo), de fazer mil bibliotecas nos próximos três anos, a fila começa a andar.

FORA DA ESTANTE

Quando pediram a Carlos Heitor Cony que alinhasse os dez livros que carregaria para seu paraíso perdido, tarefa solicitada pela coleção "Ilha Deserta" (Publifolha), o escritor selecionou, ao lado de "everestes" conhecidos, como "Fausto", de Goethe, ou "Os Irmãos Karamazov", de Dostoiévski, um romance de um autor vítima do vírus "amnésias brasilienses": "O Anão", de Pär Lagerkvist (1891-1974). Nobel de Literatura de 1951, o escritor sueco faz nesta fábula protagonizada pelo anão Piccoline uma saborosa alegoria sobre bastidores escusos do poder, válida para o Renascimento italiano, no qual é ambientada, para a Chicago de Al Capone ou até para o recém-descoberto Planeta Waldomiro. Já publicado em priscas eras no Brasil, o romance de 1944 sumiu das nossas estantes, que não têm nada de Lagerkvist, autor de outros clássicos, como "Barrabás".

ATAQUE PIRATA
A disputa das editoras para participar do programa Fome do Livro está acirrada. As inscrições terminaram na quinta, e ontem o responsável pelo projeto, Galeno Amorim, comemorava. São 323 editoras interessadas, que apresentaram 22 mil títulos (o triplo de inscritos em projeto anterior). Desse universo sairão os 2.000 livros que devem ser dados a cada uma das mil bibliotecas que o Fome quer fazer até 2007.

FOGO AMIGO
Michael Moore acaba de terminar um prefácio que fez especialmente para a edição brasileira de seu "Dude, Where's My Country", que a editora Francis lança em 15 dias com tiragem inicial de espantosos 50 mil exemplares. "A coisa mais assustadora a nosso respeito é que não sabemos nada a respeito de vocês", escreve o autor de "Stupid White Men".

FRAMBOESA DE OURO
Enquanto isso na América a gigante editorial HarperCollins mobiliza sua estrutura para o lançamento, no dia 13 de abril, de "I Already Know I Love You" (Eu Já Sei que te Amo), livro infantil do mala-sem-alça Billy Cristal, é, aquele elemento que apresenta o Oscar.

EMBOLSANDO
A principal coleção de livros "de bolso" do país está aterrissando em números raros na história editorial brasileira. A L&PM Pocket chega em abril ao título número 350: "A Hora dos Assassinos", de Henry Miller. A gaúcha L&PM se aproxima também dos 3 milhões de exemplares vendidos.

CUMBICA
Mais um gringo da Bienal de SP: a Ediouro trará o historiador inglês John Man, de "A Revolução de Gutenberg".

DIÁRIO
O autor canadense Albert Manguel selecionou "Memórias Póstumas de Brás Cubas", de Machado, para seu próximo livro, "Diário de Leituras", onde fala sobre os seus 12 romances prediletos.

elek@folhasp.com.br

  SEGUNDA Frederico Barbosa e Cláudio Daniel fazem o debate "Poesia Contemporânea Brasileira", na livraria Martins Fontes-Paulista (0/xx/3082-8042)  SEGUNDA Luis Antonio Giron lança "Minoridade Crítica" (Ediouro), na Cultura-Conj. Nacional (0/ xx/11/3285-4033)  SEGUNDA Izaías Almada autografa seu "Teatro de Arena" (Boitempo), na Livraria da Travessa (tel. 0/xx/21/3205-9002)  QUARTA "Tarsila" (Globo), de Maria Adelaide Amaral, é lançado na Cultura-Conj. Nacional   QUINTA Fernanda Felisberto lança na Fnac-Paulista (0/xx/11/2123-2000) a coletânea "Terra de Palavras" (editoras Pallas e Afirma).


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