São Paulo, terça-feira, 20 de março de 2007

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Cinema

Walsh filma aspiração à grandeza

INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA

O que acontece a um herói de guerra depois da guerra? De forma moderna (e angustiada), Clint Eastwood tratou do tema em "A Conquista da Honra".
Raoul Walsh, cineasta clássico, não tinha tanta necessidade de se angustiar. Os heróis da Primeira Guerra propostos em "Heróis Esquecidos" (Turner Classic Movies, 23h40) não hesitam em buscar novos destinos. Um deles se torna advogado. Os outros dois (James Cagney e Humphrey Bogart) são gângsteres.
No cinema da velha Warner, não havia muito segredo: voltou da guerra, não tem dinheiro, entra para o ramo das bebidas clandestinas. Se você é um durão, tipo Cagney, sobe na vida com relativa rapidez.
Walsh provê o filme do senso de urgência que marcava o destino de seus personagens. Nada pode ser adiado. A terra queima sob os pés dos heróis (ou anti-heróis). Eis o que faz de Walsh um cineasta raro: sempre trata a trajetória dos personagens em função do destino trágico que lhes é reservado.
Não há o que esconder: todos sabemos que as coisas não terminarão bem. Não é preciso esconder isso do espectador ávido por surpresas. O gênero já nos leva para lá. Mas o que poderia ser mera punição do mau comportamento, Walsh sabe trabalhar como a grandeza de ambição desses homens, que poderiam ser policiais ou taxistas, mas não se contêm: é preciso ao menos tentar ser grande, matar para viver seu destino e morrer com grandeza.


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