São Paulo, sexta-feira, 20 de março de 2009

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Última Moda

ALCINO LEITE NETO em Paris - ultima.moda@grupofolha.com.br

Luxo domina final da temporada em Paris

Louis Vuitton e Hermès encerraram os desfiles de inverno com coleções suntuosas

Com o divertido e exuberante desfile da Louis Vuitton, um tom otimista recobriu o final da temporada do inverno 2009/ 2010 de Paris, fazendo os fashionistas esquecerem por alguns minutos os graves problemas econômicos.
A grife realizou sua apresentação no local em que costuma fazer sempre, em uma das áreas externas do Louvre. Desta vez, porém, reduziu a plateia de 1.000 para 600 convidados, dispensou as arquibancadas e dispôs longas filas de cadeiras na tenda de plástico transparente, deixando o público todo bastante próximo da passarela.
A estratégia tinha um objetivo: criar um clima de maior intimidade, como havia nos desfiles da alta-costura. Afinal, a coleção da Louis Vuitton evocava justamente um certo período da "couture" (em particular os anos 80) e o estilo parisiense-chique de musas das grandes "maisons", como Marie Seznec (da Christian Lacroix) e Loulou de la Falaise (da Yves Saint Laurent) -como declarou Marc Jacobs, diretor de criação da grife (que chegaria ontem a São Paulo, para conhecer sua primeira loja no Brasil).
O resultado da coleção, porém, não é nostálgico. As referências aos anos 80 servem de trampolim para uma coleção bastante contemporânea -o que foi reforçado pelo styling da britânica Katie Grand, o melhor de toda a temporada- e um tanto irônica (como ao colocar orelhas de Mickey nas modelos recobertas de luxos).
As cores foram abundantes (rosa, amarelo, vermelho, verde), em livres combinatórias, sem dispensar, porém, o preto, que monopolizou os desfiles.
Nas silhuetas, dominaram os minivestidos e as calças 3/4, mas a coleção é quase uma antologia dos estilos fortes que apareceram na estação -com muitos drapeados, brilhos, algum toque masculino, ombros amplos nos casacos e blusas, botas longas (as "cuissardes"). Sem falar, ainda, no toque sexy, com fendas ousadas nos vestidos, decotes generosos, zíperes provocantes e looks abusados com sutiãs à mostra.
A Hermès também fez uma apresentação revigorante nos últimos dias, mostrando sua coleção luxuosa num cenário com grandes hélices de avião.
O estilista Jean-Paul Gaultier, que desenha para a marca, inspirou-se em looks retrôs de aviadores, sobretudo dos anos 20 aos 40 e, em particular, numa imagem da americana Amelia Earhart (1897-1937), uma das primeiras mulheres a pilotarem aviões. A inspiração não chega por acaso: baseado na vida da aviadora, o filme "Amelia", com Hillary Swank, está previsto para estrear em outubro, às vésperas do inverno do Hemisfério Norte.
A grife usou muito bem as peles e caprichou nos tricôs, mas o couro, naturalmente, foi o destaque, como nos suntuosos casacos longos ou nas jaquetas de crocodilo -em preto, marrom e cinza. Tudo buscava misturar mundos opostos: o pragmatismo dos uniformes com as extravagâncias do luxo, o feminino com o masculino.
Referências a uniformes também apareceram no desfile da Kenzo. O estilista Antonio Marras, diretor de criação da grife, inspirou-se em vestimentas históricas da Rússia, desde a roupa dos camponeses até a da aristocracia czarista, desde o imaginário das bonecas matryoshkas à visão hollywoodiana de "Doutor Jivago", em belos tricôs e estampas, bordados minuciosos e uma profusão de formas, cores e silhuetas.
Para contrabalançar certa inclinação folclorista da coleção, pontuou o desfile com vigorosos looks de estilo militar, à maneira do exército soviético. Se depender da Kenzo, as mulheres terão, no próximo inverno, a opção de se vestirem como belos soldados comunistas.


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