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Última Moda
ALCINO LEITE NETO em Paris - ultima.moda@grupofolha.com.br
Luxo domina final da temporada em Paris
Louis Vuitton e Hermès encerraram os desfiles de inverno com coleções suntuosas
Com o divertido e exuberante desfile da Louis Vuitton, um
tom otimista recobriu o final da
temporada do inverno 2009/
2010 de Paris, fazendo os fashionistas esquecerem por alguns minutos os graves problemas econômicos.
A grife realizou sua apresentação no local em que costuma
fazer sempre, em uma das áreas
externas do Louvre. Desta vez,
porém, reduziu a plateia de
1.000 para 600 convidados, dispensou as arquibancadas e dispôs longas filas de cadeiras na
tenda de plástico transparente,
deixando o público todo bastante próximo da passarela.
A estratégia tinha um objetivo: criar um clima de maior intimidade, como havia nos desfiles da alta-costura. Afinal, a coleção da Louis Vuitton evocava
justamente um certo período
da "couture" (em particular os
anos 80) e o estilo parisiense-chique de musas das grandes
"maisons", como Marie Seznec
(da Christian Lacroix) e Loulou
de la Falaise (da Yves Saint
Laurent) -como declarou
Marc Jacobs, diretor de criação
da grife (que chegaria ontem a
São Paulo, para conhecer sua
primeira loja no Brasil).
O resultado da coleção, porém, não é nostálgico. As referências aos anos 80 servem de
trampolim para uma coleção
bastante contemporânea -o
que foi reforçado pelo styling
da britânica Katie Grand, o melhor de toda a temporada- e
um tanto irônica (como ao colocar orelhas de Mickey nas
modelos recobertas de luxos).
As cores foram abundantes
(rosa, amarelo, vermelho, verde), em livres combinatórias,
sem dispensar, porém, o preto,
que monopolizou os desfiles.
Nas silhuetas, dominaram os
minivestidos e as calças 3/4,
mas a coleção é quase uma antologia dos estilos fortes que
apareceram na estação -com
muitos drapeados, brilhos, algum toque masculino, ombros
amplos nos casacos e blusas,
botas longas (as "cuissardes").
Sem falar, ainda, no toque sexy,
com fendas ousadas nos vestidos, decotes generosos, zíperes
provocantes e looks abusados
com sutiãs à mostra.
A Hermès também fez uma
apresentação revigorante nos
últimos dias, mostrando sua
coleção luxuosa num cenário
com grandes hélices de avião.
O estilista Jean-Paul Gaultier, que desenha para a marca,
inspirou-se em looks retrôs de
aviadores, sobretudo dos anos
20 aos 40 e, em particular, numa imagem da americana
Amelia Earhart (1897-1937),
uma das primeiras mulheres a
pilotarem aviões. A inspiração
não chega por acaso: baseado
na vida da aviadora, o filme
"Amelia", com Hillary Swank,
está previsto para estrear em
outubro, às vésperas do inverno do Hemisfério Norte.
A grife usou muito bem as peles e caprichou nos tricôs, mas
o couro, naturalmente, foi o
destaque, como nos suntuosos
casacos longos ou nas jaquetas
de crocodilo -em preto, marrom e cinza. Tudo buscava misturar mundos opostos: o pragmatismo dos uniformes com as
extravagâncias do luxo, o feminino com o masculino.
Referências a uniformes
também apareceram no desfile
da Kenzo. O estilista Antonio
Marras, diretor de criação da
grife, inspirou-se em vestimentas históricas da Rússia, desde a
roupa dos camponeses até a da
aristocracia czarista, desde o
imaginário das bonecas matryoshkas à visão hollywoodiana
de "Doutor Jivago", em belos
tricôs e estampas, bordados
minuciosos e uma profusão de
formas, cores e silhuetas.
Para contrabalançar certa inclinação folclorista da coleção,
pontuou o desfile com vigorosos looks de estilo militar, à maneira do exército soviético. Se
depender da Kenzo, as mulheres terão, no próximo inverno,
a opção de se vestirem como
belos soldados comunistas.
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