São Paulo, sábado, 20 de março de 2010

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entrevista

Paulo Coelho defende autopirataria

DA REPORTAGEM LOCAL

A falta de papel para reedição de livros na Rússia levou o escritor Paulo Coelho à autopirataria.
Sem o livro impresso e munido da tradução para o russo, Coelho decidiu disponibilizá-la em seu site.
Coincidência ou não, as versões do livro em papel, quando reeditadas naquela língua, bateram 1 milhão de exemplares vendidos.
"Recebia muitos e-mails que faziam referência à edição pirata do site." Entusiasmado, o escritor resolveu repetir a estratégia com outros livros em outras línguas colacionando links das obras dos sites troca de arquivos. "Criei o meu "Pirate Coelho!"
Leia, a seguir, trechos da entrevista concedida por e-mail à Folha. (FM)

 

FOLHA - "O Vencedor Está Só" estava nos camelôs do Peru antes de concluída a tradução oficial. Como isso ocorreu?
PAULO COELHO -
A tradução da [editora] Planeta foi preparada com certa lentidão, e o editor pirata resolveu encomendar uma tradução ele mesmo.

FOLHA - Como a pirataria interfere no seu trabalho?
COELHO -
Meus maiores índices de pirataria são os seguintes: Oriente Médio, América Latina e Índia.
Muita gente diz que, porque eu vendo muitos livros, posso me dar ao luxo de piratear meus próprios livros. O que aconteceu foi exatamente o contrário: vendi essa quantidade porque me dei ao trabalho de fazer isso. Se hoje alguém me propusesse publicar um livro para três leitores, ganhando 3 milhões de dólares, ou publicar um livro para três milhões de leitores, ganhando três dólares, escolheria a segunda opção.

FOLHA - Dá para comparar pirataria de música e de livros?
COELHO -
A indústria do livro não pode seguir os passos da indústria musical, que fechou o Napster só para ver a proliferação de sites de troca de arquivo.
Com novos suportes, como o Kindle, o Nook e o Sony Reader, e as aplicações do iPhone, o autor que colocar seus textos em blogs antes e gratuitamente irá escolher os formatos eletrônicos. E aí a editora passa a ser dispensável como são hoje as gravadoras.
Países que repreendem a troca de arquivo, como a França, verão seus escritores perder terreno num mundo cada vez mais competitivo. Repressão não é a resposta, e sim usar o que a tecnologia tem de bom para promover o que a literatura tem de melhor.
Há dez anos, meus livros eram vendidos só no Chile. Hoje estão em todo canto, e as edições piratas dominam o mercado.

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