São Paulo, sábado, 20 de março de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Grupo mistura sons diversos e enfoca no "jeito falado de cantar"

Memórias de um Caramujo faz primeira temporada de shows após sete anos

LUIZA FECAROTTA
DA REPORTAGEM LOCAL

Sorvete de chocolate e café coado sobre a mesa. Em volta, os seis integrantes (todos de 21 anos) da banda paulistana Memórias de um Caramujo relembram as histórias que os levaram à sua primeira temporada de shows, que termina no próximo domingo, realizada somente neste ano, depois de sete anos de existência.
No palco, lá pelas tantas, Gabriel Basile deixa de lado a bateria e segura um pandeiro.
Thomas Huszar aposenta o baixo e assume o violão, que aprendeu a tocar folheando os "songbooks" de Chico Buarque.
Gabriel Milliet, por sua vez, apoia o violão para assoprar notas em sua flauta transversal.
André Vac faz mais. Deixa a guitarra encostada e arrisca uns acordes ao bandolim.
Tomás de Souza é mais radical: troca um piano de cauda por um cavaco. Beatriz Mentone, a única mocinha, mantém sua voz tinindo enquanto joga o quadril de lá para cá.
E dali sai um sambinha cheio de graça. Dali sai também um baião, um funk abrasileirado e uma (ou outra) delicada canção. "Temos de mudar os botões durante o show, temos de mudar da água para o vinho", diz a vocalista.

Grupo Rumo
Há um consenso entre os jovens músicos, que ensaiam todos os sábados, com pausa para um bolo com café: eles devem muito ao Grupo Rumo. Adoram Milton Nascimento e Clube da Esquina, Beatles e Pena Branca & Xavantinho. Mas foi do Rumo que herdaram o jeito falado de cantar e a força que dão à narrativa de algumas das canções -outras vão por outros caminhos da música brasileira (dá para ouvir uma palhinha na página dele no Myspace, www.myspace.com/memoriasdeumcaramujo) "Alice" pode explicar essa vertente. Foi com ela que ganharam, em 2008, o Festival Nacional da Canção, depois de concorrerem com 1.900 músicas inscritas, de todas as partes do Brasil. "Tenho até medo se algum dia o Luiz Tatit ouvir.
Acho que vamos ter de dar a música para ele", brinca Thomas Huszar.
E... a convite da Folha, Luiz Tatit, um dos pilares do Rumo, ouviu e comentou a canção.
"Ali tem o lance de narrativa, até de um amor meio platônico, a melodia entoativa...", diz ele. "Essas coisas lembram bem a fase do Rumo e um aproveitamento de uma certa forma de compor que não é explorada. Acho isso muito bom."
Segundo Tatit, não é fácil esse estilo de canção sobreviver às primeiras audições. "Você cativa o ouvinte imediatamente, mas depois que se conhece a história, não há tantos recursos musicais e de encantamento."
Compara, ainda, o que o Grupo Rumo teve de enfrentar com um possível desafio para o Memórias de um Caramujo. "É preciso incluir elementos que durem mais na escuta do ouvinte, às vezes é um bom refrão ou um tratamento musical mais profundo, que permita à pessoa entrar mais na música, não só pelo viés da letra."
O conjunto dividiu parte do dinheiro que ganhou com o prêmio do Festival Nacional da Canção (R$ 15 mil) entre os então cinco integrantes. "Fui para o Centro e comprei um monte de instrumentos de percussão", diz o baterista. Gabriel Milliet adquiriu seu primeiro violão, um sax tenor, uma viola caipira e uma flauta transversal -não à toa hoje estuda música popular na Unicamp.
E você, André Vac? Uma viola caipira, uma escaleta, uma cuíca e um rebolo. Bia comprou o quê? "Roupa, mas não escreve isso. Foram ves-ti-dos pa-ra can-tar", graceja.


MEMÓRIAS DE UM CARAMUJO
Onde:
Espaço Cachuera! (r. Monte Alegre, 1.094; tel. 0/xx/11/ 3872-8113)
Quando: sáb., às 21h, até 27/3
Quanto: R$ 20
Classificação: livre



Texto Anterior: Crítica: Aos 84, B.B. King emociona em SP
Próximo Texto: Frase
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.