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Grupo mistura sons diversos e enfoca no "jeito falado de cantar"
Memórias de um Caramujo faz primeira temporada de shows após sete anos
LUIZA FECAROTTA
DA REPORTAGEM LOCAL
Sorvete de chocolate e café
coado sobre a mesa. Em volta,
os seis integrantes (todos de 21
anos) da banda paulistana Memórias de um Caramujo relembram as histórias que os levaram à sua primeira temporada
de shows, que termina no próximo domingo, realizada somente neste ano, depois de sete
anos de existência.
No palco, lá pelas tantas, Gabriel Basile deixa de lado a bateria e segura um pandeiro.
Thomas Huszar aposenta o
baixo e assume o violão, que
aprendeu a tocar folheando os
"songbooks" de Chico Buarque.
Gabriel Milliet, por sua vez,
apoia o violão para assoprar notas em sua flauta transversal.
André Vac faz mais. Deixa a
guitarra encostada e arrisca
uns acordes ao bandolim.
Tomás de Souza é mais radical: troca um piano de cauda
por um cavaco. Beatriz Mentone, a única mocinha, mantém
sua voz tinindo enquanto joga o
quadril de lá para cá.
E dali sai um sambinha cheio
de graça. Dali sai também um
baião, um funk abrasileirado e
uma (ou outra) delicada canção. "Temos de mudar os botões durante o show, temos de
mudar da água para o vinho",
diz a vocalista.
Grupo Rumo
Há um consenso entre os jovens músicos, que ensaiam todos os sábados, com pausa para
um bolo com café: eles devem
muito ao Grupo Rumo. Adoram Milton Nascimento e Clube da Esquina, Beatles e Pena
Branca & Xavantinho. Mas foi
do Rumo que herdaram o jeito
falado de cantar e a força que
dão à narrativa de algumas das
canções -outras vão por outros caminhos da música brasileira (dá para ouvir uma palhinha na página dele no Myspace,
www.myspace.com/memoriasdeumcaramujo)
"Alice" pode explicar essa
vertente. Foi com ela que ganharam, em 2008, o Festival
Nacional da Canção, depois de
concorrerem com 1.900 músicas inscritas, de todas as partes
do Brasil. "Tenho até medo se
algum dia o Luiz Tatit ouvir.
Acho que vamos ter de dar a
música para ele", brinca Thomas Huszar.
E... a convite da Folha, Luiz
Tatit, um dos pilares do Rumo,
ouviu e comentou a canção.
"Ali tem o lance de narrativa,
até de um amor meio platônico, a melodia entoativa...", diz
ele. "Essas coisas lembram
bem a fase do Rumo e um aproveitamento de uma certa forma
de compor que não é explorada. Acho isso muito bom."
Segundo Tatit, não é fácil esse estilo de canção sobreviver
às primeiras audições. "Você
cativa o ouvinte imediatamente, mas depois que se conhece a
história, não há tantos recursos
musicais e de encantamento."
Compara, ainda, o que o Grupo Rumo teve de enfrentar
com um possível desafio para o
Memórias de um Caramujo. "É
preciso incluir elementos que
durem mais na escuta do ouvinte, às vezes é um bom refrão
ou um tratamento musical
mais profundo, que permita à
pessoa entrar mais na música,
não só pelo viés da letra."
O conjunto dividiu parte do
dinheiro que ganhou com o
prêmio do Festival Nacional da
Canção (R$ 15 mil) entre os então cinco integrantes. "Fui para
o Centro e comprei um monte
de instrumentos de percussão", diz o baterista. Gabriel
Milliet adquiriu seu primeiro
violão, um sax tenor, uma viola
caipira e uma flauta transversal
-não à toa hoje estuda música
popular na Unicamp.
E você, André Vac? Uma viola caipira, uma escaleta, uma
cuíca e um rebolo. Bia comprou
o quê? "Roupa, mas não escreve isso. Foram ves-ti-dos pa-ra
can-tar", graceja.
MEMÓRIAS DE UM CARAMUJO
Onde: Espaço Cachuera! (r. Monte
Alegre, 1.094; tel. 0/xx/11/ 3872-8113)
Quando: sáb., às 21h, até 27/3
Quanto: R$ 20
Classificação: livre
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