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VANESSA VÊ TV
Vanessa Barbara vanessa.barbara@uol.com.br
Atropelando bebês
IGNORADO NO Brasil, o reality
show "The OCD Project", do canal
Vh1, agrupou seis pessoas com formas severas de TOC (transtorno obsessivo-compulsivo, OCD em inglês)
para fazer um tratamento de três semanas numa casa.
Em oito episódios, o dr. David Tolin, diretor do Centro de Transtornos
da Ansiedade do Hospital de Hartford, submeteu seus pacientes a
uma terapia de exposição radical,
com base no método cognitivo-comportamental.
Arine, 25, sofria de germofobia
(medo de se contaminar). O dr. Tolin a fez comer um bolinho embebido em água de privada. Kristen, 28,
tinha a mesma doença e acabou entrando numa piscina com xixi.
Tracy temia que seu filho morresse de câncer e, por isso, efetuava rituais de acender e apagar as luzes.
O terapeuta simulou o enterro do
menino e mandou-a discursar em
sua memória.
Compreende-se que o programa
seja ignorado por aqui. O médico é
arrogante e leva jeito para celebridade. A proposta de curar pacientes
em pouco tempo e com exposições
extremas (como passar um tempo
na prisão ou lamber a sola dos sapatos) os prejudica unicamente em
favor do espetáculo.
Mas há momentos interessantes:
a primeira tarefa dos confinados é
descrever à exaustão seus maiores
medos e estimar a possibilidade real
de que aconteçam. O exercício se
destina a dar as devidas proporções
aos temores e preconizar uma sensibilização a eles, lenta e gradual.
Outro ponto alto é mostrar o processo de habituação à fobia. Na série, isso se resume a uma única cena: Arine mergulha as mãos em chorume e as leva ao rosto. "Qual é o
seu nível?", pergunta Tolin, referindo-se a uma escala de ansiedade.
Ela começa com cem, depois desce
para 80 e, de repente, está em 35.
"Isso é habituação", ele explica.
"Parabéns."
Arine também é a protagonista
da melhor cena da temporada. Outro de seus pavores é o medo de
atropelar pessoas e, por isso, ela
tem a mania de dar voltas e voltas
com o carro para se certificar de que
está tudo bem.
Tratamento: enquanto ela dirige,
o doutor vai atirando no para-brisa
um monte de bonecas, cabeças de
plástico e muletas, gritando: "Oh
meu Deus! Ela atropelou um bebê!
Oh meu Deus!".
Não sei bem se a Anistia Internacional aprovaria.
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