São Paulo, domingo, 20 de março de 2011

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VANESSA VÊ TV

Vanessa Barbara vanessa.barbara@uol.com.br

Atropelando bebês

IGNORADO NO Brasil, o reality show "The OCD Project", do canal Vh1, agrupou seis pessoas com formas severas de TOC (transtorno obsessivo-compulsivo, OCD em inglês) para fazer um tratamento de três semanas numa casa.
Em oito episódios, o dr. David Tolin, diretor do Centro de Transtornos da Ansiedade do Hospital de Hartford, submeteu seus pacientes a uma terapia de exposição radical, com base no método cognitivo-comportamental.
Arine, 25, sofria de germofobia (medo de se contaminar). O dr. Tolin a fez comer um bolinho embebido em água de privada. Kristen, 28, tinha a mesma doença e acabou entrando numa piscina com xixi.
Tracy temia que seu filho morresse de câncer e, por isso, efetuava rituais de acender e apagar as luzes. O terapeuta simulou o enterro do menino e mandou-a discursar em sua memória.
Compreende-se que o programa seja ignorado por aqui. O médico é arrogante e leva jeito para celebridade. A proposta de curar pacientes em pouco tempo e com exposições extremas (como passar um tempo na prisão ou lamber a sola dos sapatos) os prejudica unicamente em favor do espetáculo.
Mas há momentos interessantes: a primeira tarefa dos confinados é descrever à exaustão seus maiores medos e estimar a possibilidade real de que aconteçam. O exercício se destina a dar as devidas proporções aos temores e preconizar uma sensibilização a eles, lenta e gradual.
Outro ponto alto é mostrar o processo de habituação à fobia. Na série, isso se resume a uma única cena: Arine mergulha as mãos em chorume e as leva ao rosto. "Qual é o seu nível?", pergunta Tolin, referindo-se a uma escala de ansiedade. Ela começa com cem, depois desce para 80 e, de repente, está em 35. "Isso é habituação", ele explica. "Parabéns."
Arine também é a protagonista da melhor cena da temporada. Outro de seus pavores é o medo de atropelar pessoas e, por isso, ela tem a mania de dar voltas e voltas com o carro para se certificar de que está tudo bem.
Tratamento: enquanto ela dirige, o doutor vai atirando no para-brisa um monte de bonecas, cabeças de plástico e muletas, gritando: "Oh meu Deus! Ela atropelou um bebê! Oh meu Deus!".
Não sei bem se a Anistia Internacional aprovaria.


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