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CRÍTICA
Um tapa-buraco com unidade
da Reportagem Local
Disco tapa-buraco é disco
tapa-buraco,
não há conversa. Mas, como
de praxe, o Kid
Abelha é bem mais descarado que
seus pares na admissão da picaretagem.
Enquanto dez entre dez pop-roqueiros nacionais dos 80 compensam as esquinas criativas com
discos "conceituais" de releituras
(nove entre dez criativamente
malsucedidos), o Kid mais uma
vez bate o taco na despretensão:
faz a pescaria, a colagem, a colcha
de retalhos, o tapa-buraco.
O pior (o melhor?) é que, como
eles mesmos remendam em justificativa, "Coleção" (atenção para
as sensacionais artes de capa e encarte) é pleno de sentido e unidade. O mapa de influências (não
completo, já que faltam Tim
Maia, Cassiano e Hyldon, Celly
Campello, entre tantos muitos
outros) dá de fato um close no
rosto do Kid Abelha, e o rosto
mantém-se viçoso.
Se nada é mais óbvio que esses
neo-jovem-guardistas regravarem "Pare o Casamento", o bombom mais doce de Wanderléa,
nem assim a versão deixa de ser
deliciosa. Muito jovem guarda,
cheia de sax anos 80 e de fundo
entre Mutantes e B-52's, "Pare o
Casamento" 2000 é uma declaração de amor a quem merece muito amor. Dez.
É o mesmo com "O Telefone
Tocou Novamente" (Jorge Ben),
regravação de uma das colossais
obras-primas de um cara que,
merecedor de muito amor, coleciona dezenas de obras-primas. À
parte o fundo meio reggae, ficou
muito bonitinha. Nove.
"Quem Tem Medo de Brincar
de Amor" aparece aqui, adorável,
em contexto mais macio que o do
tributo aos Mutantes, lançado em
96. Quem já ouviu Kid Abelha retomar Roberto soul Carlos e
Hyldon não pode perdê-los reempacotando o rascante Paulo Diniz
("Pingos de Amor") e a dupla
d'ouro da pilantragem (alô, Simonal!) Antônio Adolfo & Tibério Gaspar ("Teletema"). Mas essas todas existiam por aí. Oito.
Que mais? As inéditas do Kid
são daquelas médias, de quem
não quer queimar cartucho em
produto incerto. Sete.
Essas nem fazem jus ao que o
Kid Abelha prova ser nesta reunião de gatos pingados que deixara desmamados por aí: o último
dos moicanos no belíssimo panorama do "popsambalanço" nacional, ou, para ser mais claro (ou
não), da soul music (ainda que
branquinha) à brasileira. São Tim
Maia deve abençoá-los lá do céu.
(PAS)
Avaliação:
Disco: Coleção
Grupo: Kid Abelha
Lançamento: Warner
Quanto: R$ 20, em média
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