São Paulo, quinta-feira, 20 de abril de 2000


Envie esta notícia por e-mail para
assinantes do UOL ou da Folha
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

CRÍTICA

Um tapa-buraco com unidade

da Reportagem Local

Disco tapa-buraco é disco tapa-buraco, não há conversa. Mas, como de praxe, o Kid Abelha é bem mais descarado que seus pares na admissão da picaretagem.
Enquanto dez entre dez pop-roqueiros nacionais dos 80 compensam as esquinas criativas com discos "conceituais" de releituras (nove entre dez criativamente malsucedidos), o Kid mais uma vez bate o taco na despretensão: faz a pescaria, a colagem, a colcha de retalhos, o tapa-buraco.
O pior (o melhor?) é que, como eles mesmos remendam em justificativa, "Coleção" (atenção para as sensacionais artes de capa e encarte) é pleno de sentido e unidade. O mapa de influências (não completo, já que faltam Tim Maia, Cassiano e Hyldon, Celly Campello, entre tantos muitos outros) dá de fato um close no rosto do Kid Abelha, e o rosto mantém-se viçoso.
Se nada é mais óbvio que esses neo-jovem-guardistas regravarem "Pare o Casamento", o bombom mais doce de Wanderléa, nem assim a versão deixa de ser deliciosa. Muito jovem guarda, cheia de sax anos 80 e de fundo entre Mutantes e B-52's, "Pare o Casamento" 2000 é uma declaração de amor a quem merece muito amor. Dez.
É o mesmo com "O Telefone Tocou Novamente" (Jorge Ben), regravação de uma das colossais obras-primas de um cara que, merecedor de muito amor, coleciona dezenas de obras-primas. À parte o fundo meio reggae, ficou muito bonitinha. Nove.
"Quem Tem Medo de Brincar de Amor" aparece aqui, adorável, em contexto mais macio que o do tributo aos Mutantes, lançado em 96. Quem já ouviu Kid Abelha retomar Roberto soul Carlos e Hyldon não pode perdê-los reempacotando o rascante Paulo Diniz ("Pingos de Amor") e a dupla d'ouro da pilantragem (alô, Simonal!) Antônio Adolfo & Tibério Gaspar ("Teletema"). Mas essas todas existiam por aí. Oito.
Que mais? As inéditas do Kid são daquelas médias, de quem não quer queimar cartucho em produto incerto. Sete.
Essas nem fazem jus ao que o Kid Abelha prova ser nesta reunião de gatos pingados que deixara desmamados por aí: o último dos moicanos no belíssimo panorama do "popsambalanço" nacional, ou, para ser mais claro (ou não), da soul music (ainda que branquinha) à brasileira. São Tim Maia deve abençoá-los lá do céu.
(PAS)


Avaliação:    


Disco: Coleção
Grupo: Kid Abelha
Lançamento: Warner
Quanto: R$ 20, em média


Texto Anterior: Kid Abelha tenta o "novo" mais uma vez
Próximo Texto: Fotografia - Arthur Nestrovski: Fotos de Salgado são êxodo de outra espécie
Índice

Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.