São Paulo, quinta-feira, 20 de abril de 2000


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Kid Abelha tenta o "novo" mais uma vez

PEDRO ALEXANDRE SANCHES
da Reportagem Local

Se você der uma olhadela debaixo do tapete, certamente vai perceber.
"Coleção", o "novo" disco do trio carioca Kid Abelha, com 16 anos de estrada, conta um pouco sobre os meandros de bastidor da indústria fonográfica.
As aspas no "novo" vão por conta de "Coleção" não ser, na maior parte de sua duração, um disco inédito.
Mesmo assim, veste a fantasia do ineditismo, ao reunir interpretações anos 90 dos kids para canções de Roberto e Erasmo ("As Curvas da Estrada de Santos"), Mutantes ("Quem Tem Medo de Brincar de Amor"), Gilberto Gil ("Esotérico"), Rita Lee ("Mamãe Natureza") e outros, que andavam perdidas por discos mais ou menos obscuros.
Dando uma olhadela debaixo do tapete, vê-se que "Coleção" é um disco de encerramento de contrato.
Com ele os kids fecham mais uma jornada com a Warner, e por enquanto eles não dizem se vão ou se ficam ("nós estamos realmente solteiros, não renovamos contrato nem trocamos de gravadora ainda").
Dizem-se sondados por várias gravadoras, e lá de dentro já se ouve dizer que estão na Universal -o que negam com veemência, mas não sem deixar claro o desapontamento com a divulgação do CD anterior, "Autolove", pela Warner, que julgaram insuficiente ("ficou um pouco secreto, foi considerado um disco sofisticado demais").
São os trâmites, não há que culpar ninguém. A banda não gasta suas fichas inéditas num disco que pode ser visto com desinteresse pela gravadora (se optar por ir embora), a gravadora fica desconfiada sobre o amor que a banda anda lhe devotando...

Fichas
É assim mesmo. O que é bom saber é que "Coleção" é um discos desses, e que discos desses há aos montes no mercado -alguém está sempre encerrando contrato com alguém, e guardando fichas para o próximo degrau.
Dentro do normal, o Kid se esmera e se dedica, como lhe cabe, a defender "Coleção" como se fosse um disco novinho em folha.
"Havia essas músicas espalhadas por vários discos, queríamos fazer uma homenagem a esses autores todos, que conta a história das nossas influências", martela George Israel, 39, sax e vários outros instrumentos.

Unidade
"No começo achamos que ia ser uma salada, mas depois vimos que tudo tinha uma unidade", pinga Paula Toller, 37, voz e co-composição nas três inéditas interpoladas às releituras de, entre os já citados, Antônio Adolfo e Tibério Gaspar ("Teletema"), Jorge Ben (o clássico "Mas Que Nada"), Paulo Diniz e Odibar ("Pingos de Amor").
"Vimos que seria legal reunir essas músicas num disco de material de fã-clube, como se fossem lados B, discos fora de catálogo", pontua Bruno Fortunato, 40, guitarras e alguns violões.
Desfiam mais razões de ser para "Coleção". "Eles queriam fazer uma coletânea, daquelas séries de vários artistas, com a mesma capa. Estamos escaldados com esse tipo de coisa, tivemos essa idéia de reunir coisas que já havíamos gravado por aí e eles gostaram. Fica como um piloto, que pode continuar", diz Paula.
"Outra coisa legal foi que pudemos dar uma mexidinha em algumas dessas músicas, Paula gravou algumas vozes novas", completa Bruno. Nessa brincadeira -que, segundo eles, consumiu quatro meses de trabalho- apenas "Teletema" e "Esotérico" permaneceram como eram, sem modificações.
Inéditas e recém-gravadas são, também, duas das releituras, a de "O Telefone Tocou Novamente", de Jorge Ben, e "Pare o Casamento", o hit-versão de Wanderléa no auge da jovem guarda, em 1966.
"É o que gostaríamos de ter gravado num tributo a Wanderléa. É nosso tributo imaginário a ela", explica Paula.
Ela se inflama: "Todo mundo fala de Roberto e Erasmo, são os compositores, os homens, e se esquecem muito da importância e da graça de a Wanderléa estar com eles na jovem guarda. Como ela não foi aceita pela intelectualidade, ficou como se não houvesse existido e não tivesse sido muito legal. Pô, eu também venho dali", afirma.
Quanto à de Jorge Ben (Jor), já havia "Mas Que Nada" -que fora abortada do disco de duetos do autor, "Músicas para Tocar em Elevador" (97)-, mas resolveram colocar "O Telefone Tocou Novamente" mesmo assim.
"Foi uma das primeiras músicas que aprendi a tocar no violão. Essa é o nosso xodozinho no disco", fecha a questão o saxofonista George.
O que ia entrar e não entrou? Uma versão de "A Noite do Meu Bem", de Dolores Duran, que Paula pensava em gravar e não gravou.
Bem, essa ia ficar à parte no projeto, que Paula define como "um mapinha sobre quem influenciou a gente".


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