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Kid Abelha tenta o "novo" mais uma vez
PEDRO ALEXANDRE SANCHES
da Reportagem Local
Se você der uma olhadela debaixo do tapete, certamente vai perceber.
"Coleção", o "novo" disco do
trio carioca Kid Abelha, com 16
anos de estrada, conta um pouco
sobre os meandros de bastidor da
indústria fonográfica.
As aspas no "novo" vão por
conta de "Coleção" não ser, na
maior parte de sua duração, um
disco inédito.
Mesmo assim, veste a fantasia
do ineditismo, ao reunir interpretações anos 90 dos kids para canções de Roberto e Erasmo ("As
Curvas da Estrada de Santos"),
Mutantes ("Quem Tem Medo de
Brincar de Amor"), Gilberto Gil
("Esotérico"), Rita Lee ("Mamãe
Natureza") e outros, que andavam perdidas por discos mais ou
menos obscuros.
Dando uma olhadela debaixo
do tapete, vê-se que "Coleção" é
um disco de encerramento de
contrato.
Com ele os kids fecham mais
uma jornada com a Warner, e por
enquanto eles não dizem se vão
ou se ficam ("nós estamos realmente solteiros, não renovamos
contrato nem trocamos de gravadora ainda").
Dizem-se sondados por várias
gravadoras, e lá de dentro já se
ouve dizer que estão na Universal
-o que negam com veemência,
mas não sem deixar claro o desapontamento com a divulgação do
CD anterior, "Autolove", pela
Warner, que julgaram insuficiente ("ficou um pouco secreto, foi
considerado um disco sofisticado
demais").
São os trâmites, não há que culpar ninguém. A banda não gasta
suas fichas inéditas num disco
que pode ser visto com desinteresse pela gravadora (se optar por
ir embora), a gravadora fica desconfiada sobre o amor que a banda anda lhe devotando...
Fichas
É assim mesmo. O que é bom
saber é que "Coleção" é um discos
desses, e que discos desses há aos
montes no mercado -alguém
está sempre encerrando contrato
com alguém, e guardando fichas
para o próximo degrau.
Dentro do normal, o Kid se esmera e se dedica, como lhe cabe, a
defender "Coleção" como se fosse
um disco novinho em folha.
"Havia essas músicas espalhadas por vários discos, queríamos
fazer uma homenagem a esses autores todos, que conta a história
das nossas influências", martela
George Israel, 39, sax e vários outros instrumentos.
Unidade
"No começo achamos que ia ser
uma salada, mas depois vimos
que tudo tinha uma unidade",
pinga Paula Toller, 37, voz e co-composição nas três inéditas interpoladas às releituras de, entre
os já citados, Antônio Adolfo e Tibério Gaspar ("Teletema"), Jorge
Ben (o clássico "Mas Que Nada"),
Paulo Diniz e Odibar ("Pingos de
Amor").
"Vimos que seria legal reunir
essas músicas num disco de material de fã-clube, como se fossem
lados B, discos fora de catálogo",
pontua Bruno Fortunato, 40, guitarras e alguns violões.
Desfiam mais razões de ser para
"Coleção". "Eles queriam fazer
uma coletânea, daquelas séries de
vários artistas, com a mesma capa. Estamos escaldados com esse
tipo de coisa, tivemos essa idéia
de reunir coisas que já havíamos
gravado por aí e eles gostaram. Fica como um piloto, que pode continuar", diz Paula.
"Outra coisa legal foi que pudemos dar uma mexidinha em algumas dessas músicas, Paula gravou
algumas vozes novas", completa
Bruno. Nessa brincadeira -que,
segundo eles, consumiu quatro
meses de trabalho- apenas "Teletema" e "Esotérico" permaneceram como eram, sem modificações.
Inéditas e recém-gravadas são,
também, duas das releituras, a de
"O Telefone Tocou Novamente",
de Jorge Ben, e "Pare o Casamento", o hit-versão de Wanderléa no
auge da jovem guarda, em 1966.
"É o que gostaríamos de ter gravado num tributo a Wanderléa. É
nosso tributo imaginário a ela",
explica Paula.
Ela se inflama: "Todo mundo
fala de Roberto e Erasmo, são os
compositores, os homens, e se esquecem muito da importância e
da graça de a Wanderléa estar
com eles na jovem guarda. Como
ela não foi aceita pela intelectualidade, ficou como se não houvesse
existido e não tivesse sido muito
legal. Pô, eu também venho dali",
afirma.
Quanto à de Jorge Ben (Jor), já
havia "Mas Que Nada" -que fora abortada do disco de duetos do
autor, "Músicas para Tocar em
Elevador" (97)-, mas resolveram colocar "O Telefone Tocou
Novamente" mesmo assim.
"Foi uma das primeiras músicas
que aprendi a tocar no violão. Essa é o nosso xodozinho no disco",
fecha a questão o saxofonista
George.
O que ia entrar e não entrou?
Uma versão de "A Noite do Meu
Bem", de Dolores Duran, que
Paula pensava em gravar e não
gravou.
Bem, essa ia ficar à parte no projeto, que Paula define como "um
mapinha sobre quem influenciou
a gente".
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