São Paulo, sexta-feira, 20 de abril de 2007

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Música - Crítica/MPB

Mônica Salmaso grava Chico Buarque em álbum coeso

Presença do grupo Pau Brasil é fundamental no trabalho da excelente cantora

LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO

Mônica Salmaso, 36, pensava que só muito mais tarde faria um disco dedicado a um autor.
Mas shows motivados pelos 60 anos de Chico Buarque, em 2004, e o convite do próprio compositor para gravar "Imagina" com ele, em 2006, anteciparam seus planos. Sorte de quem ouve "Noites de Gala, Samba na Rua".
Se não bastasse a excelente voz, Salmaso se diferencia de tantas outras intérpretes que gravaram tributos a Chico por causa de seu auxílio luxuoso: o grupo Pau Brasil.
Todo o trabalho de escolha das 14 faixas (retiradas de um total de 60 pré-selecionadas pela cantora) e do arranjo delas foi feito em conjunto por Salmaso e pelos músicos Nelson Ayres, Paulo Bellinati, Teco Cardoso, Rodolfo Stroeter e Ricardo Mosca.
A unidade resultante mostra que não é preciso fazer recortes temáticos ou cronológicos para gravar um ótimo e coeso disco a partir da obra do compositor carioca.
"Escolhi músicas de que gostava muito e que dariam assunto musical para o Pau Brasil. "Bom Tempo", por exemplo, sugere toda uma gama de cores", diz a cantora paulistana. Salmaso ainda gravou outras três criações dos anos 1960. O pouco conhecido samba "Logo Eu?", que ganhou um delicioso registro só com percussão e sax barítono, entrou na lista porque a cantora estava procurando a versão de Chico para "Morena dos Olhos D'Água", do mesmo disco (de 1967), e que foi gravada agora com uma bela introdução de baixo elétrico.
A terceira da década a comparecer é "Quem te Viu, Quem te Vê", o único ponto médio do álbum, pois já é um samba bastante conhecido e cuja estrutura não impulsiona grandes sopros inovadores. "Tive vontade de cantar uma música mais conhecida, um grande sucesso popular, para que o disco não ficasse todo distante. Mas acho que a desconstruímos um pouco no arranjo", diz Salmaso.
"Construção" é o melhor exemplo da capacidade que a cantora e o grupo Pau Brasil têm de buscar caminhos diferentes sem abrir mão da sobriedade. Os músicos dialogam com o histórico arranjo original assinado por Rogério Duprat, sendo-lhe fiel mas acrescentando novas e saborosas pitadas, enquanto Salmaso interpreta a música sem qualquer excesso.
A rejeição aos recursos melodramáticos é um dos trunfos da cantora. O repertório escolhido já não os estimula muito, e ela não sucumbe a eles nem em "Olha Maria", "Basta um Dia" e "Beatriz".
"Sei que a interpretação do Milton Nascimento [para "Beatriz'] é definitiva, mas é uma das músicas mais bonitas de todos os tempos e não merecia a exclusão", brinca ela. Salmaso também brilha em outras faixas, como "Ciranda da Bailarina", que ganha toques de tango; "Você, Você", a bela parceria com Guinga usada por ela como referência ao filho que teve neste ano; "A Volta do Malandro", com início delicado que mal lembra o crescente samba; e ainda "Suburbano Coração", "O Velho Francisco" e "Partido Alto".
Em 31 de maio, Salmaso cantará com Chico no encerramento da turnê "Carioca", no Circo Voador, no Rio de Janeiro. No dia seguinte, estréia show no teatro Fecap, em São Paulo.


NOITES DE GALA, SAMBA NA RUA
Artista:
Mônica Salmaso
Gravadora: Biscoito Fino
Quanto: R$ 33, em média
Avaliação: ótimo


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