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Música - Crítica/MPB
Mônica Salmaso grava Chico Buarque em álbum coeso
Presença do grupo Pau Brasil é fundamental no trabalho da excelente cantora
LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO
Mônica Salmaso, 36,
pensava que só muito mais tarde faria
um disco dedicado a um autor.
Mas shows motivados pelos 60
anos de Chico Buarque, em
2004, e o convite do próprio
compositor para gravar "Imagina" com ele, em 2006, anteciparam seus planos. Sorte de
quem ouve "Noites de Gala,
Samba na Rua".
Se não bastasse a excelente
voz, Salmaso se diferencia de
tantas outras intérpretes que
gravaram tributos a Chico por
causa de seu auxílio luxuoso: o
grupo Pau Brasil.
Todo o trabalho de escolha
das 14 faixas (retiradas de um
total de 60 pré-selecionadas
pela cantora) e do arranjo delas
foi feito em conjunto por Salmaso e pelos músicos Nelson
Ayres, Paulo Bellinati, Teco
Cardoso, Rodolfo Stroeter e Ricardo Mosca.
A unidade resultante mostra
que não é preciso fazer recortes
temáticos ou cronológicos para
gravar um ótimo e coeso disco a
partir da obra do compositor
carioca.
"Escolhi músicas de que gostava muito e que dariam assunto musical para o Pau Brasil.
"Bom Tempo", por exemplo, sugere toda uma gama de cores",
diz a cantora paulistana.
Salmaso ainda gravou outras
três criações dos anos 1960. O
pouco conhecido samba "Logo
Eu?", que ganhou um delicioso
registro só com percussão e sax
barítono, entrou na lista porque a cantora estava procurando a versão de Chico para "Morena dos Olhos D'Água", do
mesmo disco (de 1967), e que
foi gravada agora com uma bela
introdução de baixo elétrico.
A terceira da década a comparecer é "Quem te Viu, Quem
te Vê", o único ponto médio do
álbum, pois já é um samba bastante conhecido e cuja estrutura não impulsiona grandes sopros inovadores.
"Tive vontade de cantar uma
música mais conhecida, um
grande sucesso popular, para
que o disco não ficasse todo distante. Mas acho que a desconstruímos um pouco no arranjo",
diz Salmaso.
"Construção" é o melhor
exemplo da capacidade que a
cantora e o grupo Pau Brasil
têm de buscar caminhos diferentes sem abrir mão da sobriedade. Os músicos dialogam
com o histórico arranjo original
assinado por Rogério Duprat,
sendo-lhe fiel mas acrescentando novas e saborosas pitadas, enquanto Salmaso interpreta a música sem qualquer
excesso.
A rejeição aos recursos melodramáticos é um dos trunfos da
cantora. O repertório escolhido
já não os estimula muito, e ela
não sucumbe a eles nem em
"Olha Maria", "Basta um Dia" e
"Beatriz".
"Sei que a interpretação do
Milton Nascimento [para "Beatriz'] é definitiva, mas é uma
das músicas mais bonitas de todos os tempos e não merecia a
exclusão", brinca ela.
Salmaso também brilha em
outras faixas, como "Ciranda
da Bailarina", que ganha toques
de tango; "Você, Você", a bela
parceria com Guinga usada por
ela como referência ao filho
que teve neste ano; "A Volta do
Malandro", com início delicado
que mal lembra o crescente
samba; e ainda "Suburbano Coração", "O Velho Francisco" e
"Partido Alto".
Em 31 de maio, Salmaso cantará com Chico no encerramento da turnê "Carioca", no
Circo Voador, no Rio de Janeiro. No dia seguinte, estréia
show no teatro Fecap, em São
Paulo.
NOITES DE GALA, SAMBA NA RUA
Artista: Mônica Salmaso
Gravadora: Biscoito Fino
Quanto: R$ 33, em média
Avaliação: ótimo
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