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Crítica
"Batismo de Sangue" peca pelo didatismo
PEDRO BUTCHER
CRÍTICO DA FOLHA
De nada adianta tomar
"Batismo de Sangue"
pelo que ele não é. Helvécio Ratton não pretende ampliar os limites da linguagem cinematográfica nem discutir
questões ligadas à representação da tortura. A proposta parece ser mais simples: contar uma
história e compartilhar com o
público sua visão sobre determinado período político do
Brasil. Mas a simplicidade dessa opção é ilusória. Se Ratton
foge de determinados problemas, acaba criando outros.
"Batismo de Sangue" é uma
adaptação do livro homônimo
de Frei Betto, de forte caráter
autobiográfico. Conta, de um
ponto de vista pessoal, o envolvimento de frades dominicanos
no apoio à luta armada durante
a ditadura militar brasileira. O
mesmo material poderia ter sido transformado em um documentário, mas se tornou uma
obra de ficção no estilo de um
"thriller" meio político, meio
psicológico.
A estrutura do roteiro (assinado pelo diretor e por Dani
Patarra) parece devotar especial atenção ao público jovem,
que não viveu e pouco conhece
os piores anos da ditadura militar. Ou seja, boa parte dele tenta explicar os personagens e as
situações. Um exemplo: logo na
apresentação do personagem
de Carlos Marighella (Marku
Ribas), líder da Ação Libertadora Nacional, os frades dominicanos recebem de presente
os livros que ele escreveu, e os
títulos são ditos em voz alta, um
a um. O tom é tão artificial que,
imediatamente, impõe um grau
de desconfiança e afastamento.
O mesmo artificialismo se
impõe quando entram em cena
o delegado Fleury (Cassio Gabus Mendes) e sua trupe de torturadores. Por mais patéticos
que esses personagens possam
ter sido de fato (e por mais que
as ações e diálogos do filme tenham sido calcados em testemunhos reais), "Batismo de
Sangue" não se torna mais legítimo por isso, na medida em
que Ratton não consegue criar
uma nova "verdade", cinematográfica, a partir disso.
É esse o maior problema dessa opção pela aparente simplicidade do "contar uma história". Tanto nos diálogos como
no posicionamento da câmera,
o didatismo se faz gritante, minando o objetivo do filme de gerar identificação com o público.
É esse mesmo didatismo que
justifica as cenas de tortura de
forma tão próxima e movimentada. Uma forma que confunde
realismo com uma certa faísca
de sadismo cinematográfico.
"Batismo de Sangue" tem
seus melhores momentos
quando está concentrado no
núcleo dos frades dominicanos.
São eles -principalmente os
personagens de Blat e Oliveira- que protagonizam os poucos momentos de fato comoventes do filme.
BATISMO DE SANGUE
Produção: Brasil, 2007
Direção: Helvécio Ratton
Com: Caio Blat, Daniel de Oliveira, Angelo Antônio e outros
Onde: em cartaz na Reserva Cultural, Kinoplex Itaim e circuito
Avaliação: regular
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