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A rapper cingalesa M.I.A., que vem ao Brasil em outubro, vira hit global com "dance" de protesto
Pantera NEGRA
Divulgação
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A cantora M.I.A. que conquistou público e crítica com a canção "Galang' e lança em junho no Brasil o álbum "Arular', aclamado no exterior |
DAGOBERTO DONATO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Nascida na Inglaterra e criada
entre vilarejos no Sri Lanka -terra natal de seus pais-, Maya
Arulpragasam, ou M.I.A., como
se fez conhecer (sigla do termo
militar "missing in action", desaparecido em missão), agora lida
com o assédio mundial.
Com apenas uma canção, "Galang", lançada em tiragem de 500
cópias no ano passado, M.I.A. ganhou espaço em festivais como
Coachella (EUA), Sónar (Espanha) e Glastonbury (Reino Unido) e fez de seu primeiro álbum,
"Arular", um dos mais aguardados deste ano. "Arular" chegou às
lojas do exterior em abril e teve
aprovação maciça da crítica. Publicações tão diferentes quanto as
revistas "XLR8R", "New Yorker",
"Uncut", "Fader" e o jornal "Sunday Times" festejaram o disco.
"Arular", que também vem ao
Brasil em junho (Sum Records), é
munido de batidas tão cruas
quanto inventivas, e M.I.A. se vale
de elementos do rap, jungle, dancehall, grime, bhangra e funk carioca para levar à pista de dança
seu discurso. Nada mal para
quem começou a fazer música há
apenas três anos.
E mais: os brasileiros terão a
chance de vê-la ao vivo no Tim
Festival (entre 21 e 23 de outubro,
no MAM do Rio). De San Francisco, M.I.A. falou à Folha.
Folha - Você nasceu na Inglaterra, foi ainda bebê para o Sri Lanka,
viveu também na Índia e, com 11
anos, voltou à Inglaterra. Como isso a influenciou?
M.I.A. - Acabei me acostumando
e fui obrigada a gostar dessas mudanças. Tive que deixar de encarar isso como algo ruim. Onde
quer que me levassem para viver,
eu viveria. Em termos culturais,
você tem que se adaptar. No fim
das contas, aprendi a não me apegar ao meio em que vivo, aos bens
materiais e às minhas coisas. Pensando no meu trabalho, sinto que
tenho acesso a qualquer coisa neste planeta. Acredito que, se Deus
me colocou em todos esses lugares, tento lidar com essas diferenças culturais, saber apreciá-las e
refleti-las em meu trabalho. A
música me deu uma identidade.
Folha - Seu pai foi do movimento
revolucionário Tigres Tamil, não?
M.I.A. - Ele tinha seu próprio
movimento. Quando a população
tamil lutava pela independência
em relação ao Sri Lanka, o que
acabou resultando na guerra civil
do país, havia quatro movimentos separatistas, entre eles o Eros,
do qual meu pai fazia parte. Eles
trocavam informações entre si e
treinavam um ao outro.
Folha - Seu pai chegou a pegar
em armas?
M.I.A. - O Eros era uma organização revolucionária estudantil.
Eles passaram um manifesto que
pregava a inteligência e a articulação como armas para sua luta.
Queriam atingir seu objetivo de
maneira não violenta. Mas as coisas não aconteceram dessa forma.
O Exército passou a invadir as vizinhanças mais pobres, matar
pessoas, incendiar vilarejos. Os
atingidos eram pescadores, trabalhadores rurais, gente humilde
mais ligada aos Tigres. Enquanto
meu pai e os estudantes buscavam o entendimento, os Tigres tinham suas famílias assassinadas e
decidiram revidar. Com a revolta
popular, os Tigres cresceram e absorveram os outros movimentos.
Folha - Ele ainda está vivo?
M.I.A. - Sim, hoje é escritor e ainda vive no Sri Lanka.
Folha - Por que batizar seu primeiro disco com o codinome dele?
M.I.A. - Enquanto meu pai lutava, minha mãe também enfrentava um outro tipo de luta, a de ser
uma mãe solteira não tão educada
em um novo país. Nós vivíamos
sem praticamente nenhum dinheiro. Sobre meu pai, eu ouvia
os outros dizendo que era um
grande homem. Mas tudo o que
eu sabia era o que eu lia a seu respeito. Quando se escrevia sobre
ele, se utilizava o codinome Arular. Para mim, esse nome ganhou
características místicas. Enquanto
isso, minha mãe dizia: "Tudo o
que ele deixou para você foi um
nome. Esse homem mal sabe o
seu nome". Depois que cresci, decidi que queria transformar esse
fato em algo positivo. Se tudo o
que meu pai me deixou foi um
nome, vou usá-lo. Quando eu
buscava por Arular na internet,
caía em uma foto do meu pai no
site dos Tigres Tamil.
Folha - Você parece concordar
com a feminista Emma Goldman,
que disse: "Se eu não puder dançar, então não é minha revolução".
M.I.A. - Qualquer revolução deve
acontecer em favor das pessoas,
deve partir das pessoas para as
pessoas. A dança é uma das expressões mais primitivas do ser
humano. Se você não consegue
fazer música que se conecte com
as pessoas, que as faça se mexer,
por que perder tempo fazendo?
Folha - Você esperava gerar tanta
repercussão?
M.I.A. - Não sei o que eu esperava. Na verdade, não esperava nada. Descobrir a música foi descobrir uma nova linguagem.
Folha - A descoberta é recente?
M.I.A. - Comecei a fazer música
há três anos. Cada passo que tenho dado é completamente novo.
Excursionei registrando em vídeo
uma turnê do Elastica com a Peaches, de quem eu ganhei meu primeiro teclado. Pensava que, se fizesse música, teria acesso a 500
pessoas por dia, para quem poderia dizer coisas que eles nunca teriam ouvido antes. Não pensei
mais nisso por uns três anos. Fui
ao Sri Lanka, fiz uma exposição
que foi muito premiada... Então
voltei a conviver com o pessoal da
música e comecei a compor.
Folha - A faixa "Bucky Done Gun"
é inspirada no funk carioca. Como
ela foi feita?
M.I.A. - Eu estava com meu álbum praticamente pronto, mas
ainda queria incluir algumas músicas. Naquele momento, achava
que sabia tudo de música. Então
escutei uma mixtape do Diplo e
achei incrível. Não queria fazer
mais nada a não ser ficar limpando meu apartamento escutando
funk carioca. Tudo o que eu gosto
em música estava lá. Levei o CD
para algumas pessoas de Londres
escutarem, e eles acharam meio
cafona. Amei até o fato de essas
pessoas acharem brega. Esse lance está tão à frente de tudo que as
pessoas ainda não entendem.
Folha - O que significa "Galang"?
M.I.A. - Na Jamaica, quer dizer
"vá adiante". Também é um tempero tailandês e um campo de refugiados no Camboja...
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