São Paulo, sexta-feira, 20 de maio de 2005

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CRÍTICA

Originalidade vem da mistura de obsessões pessoais

DA CALIFÓRNIA

Há poucos diretores recentes que, depois de mostrar um trabalho original, não tenham sido cooptados pela máquina de moer carne de Hollywood. P.T Anderson, de "Magnólia", é um. Daren Aronofsky, de "Réquiem para um Sonho", é outro. O ex-casal Spike Jonze, de "Adaptação", e Sofia Coppola, de "Encontros e Desencontros", também, assim como David Russell, de "Três Reis", e Todd Solondz, de "Felicidade". (Mantenha em suspense Chris Nolan, de "Amnésia", até ver seu "Batman".)
Quando um deles se sente tentado a aceitar dirigir a seqüência da seqüência de "Miss Simpatia" por um caminhão de dinheiro, deveria olhar para o retrato de Wes Anderson numa parede imaginária e dizer "não". Desde o começo, este texano de 35 anos faz o que quer, como quer e quando quer, com orçamentos de US$ 8 milhões (R$ 19,7 milhões) em média e retorno de bilheteria três vezes maior, só nos Estados Unidos.
Nesse sentido, o de ficar abaixo do radar da indústria para não incomodar nem ser incomodado, Anderson é o Woody Allen possível dos anos 00. Ao contar sempre a mesma história, com variações cosméticas, mas brilho invariável, porém, assemelha-se a outra figura, o escritor recluso J.D. Salinger, de quem é fã -"Os Excêntricos Tenenbauns" não é outra coisa se não uma homenagem à família Glass, que domina os escritos do autor de "O Apanhador no Campo de Centeio".
Seus quatro longas, "Pura Adrenalina" (96), "Três É Demais" (98), "Tenenbauns" (01) e este "A Vida Marinha...", giram em torno da mesma história, um núcleo (seja casal, família, grupo de amigos) não-funcional e não-convencional que se ama à sua maneira. Mesmo a equação do elenco varia pouco -os irmãos Wilson, Bill Murray, Seymour Cassel e Anjelica Huston no centro, algumas estrelas orbitando.
Aqui, Murray interpreta Steve Zissou, um Jacques Cousteau em decadência que reúne a equipe uma última vez para fazer "o" documentário e se vingar do "tubarão-leopardo" que devorou seu parceiro (Cassel). Para tanto, contará com a resistência da mulher (Anjelica Huston, a feia mais sexy do cinema), a concorrência do inimigo (Jeff Goldblum), a companhia de um aviador que pode ser seu filho (Owen Wilson) e o registro de uma repórter grávida (Cate Blanchett).
Todos em algum momento estarão a bordo do improvável submarino com o qual Wes Anderson sonha desde a adolescência, o Belafonte -uma homenagem indireta a Cousteau, já que a principal embarcação do oceanógrafo francês chamava-se Calypso, e o introdutor deste ritmo nos EUA foi o músico Harry Belafonte.
Esse e outros detalhes (Seu Jorge cantando versões em português de Bowie, toda a tecnologia do submarino com desenho dos anos 70, os Adidas desenhados pelo próprio Anderson) dão sabor a um todo original que não passa de uma grande história de amor e amizade. E para que mais? (SD)


A Vida Marinha com Steve Zissou
The Life Aquatic with Steve Zissou
    
Direção: Wes Anderson
Produção: EUA, 2004
Com: Bill Murray, Cate Blanchett
Quando: a partir de hoje no Cineclube Vitrine e no Espaço Unibanco


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