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CRÍTICA
Originalidade vem da mistura de obsessões pessoais
DA CALIFÓRNIA
Há poucos diretores recentes que, depois de mostrar um trabalho original, não
tenham sido cooptados pela
máquina de moer carne de
Hollywood. P.T Anderson, de
"Magnólia", é um. Daren Aronofsky, de "Réquiem para um
Sonho", é outro. O ex-casal
Spike Jonze, de "Adaptação", e
Sofia Coppola, de "Encontros e
Desencontros", também, assim
como David Russell, de "Três
Reis", e Todd Solondz, de "Felicidade". (Mantenha em suspense Chris Nolan, de "Amnésia", até ver seu "Batman".)
Quando um deles se sente
tentado a aceitar dirigir a seqüência da seqüência de "Miss
Simpatia" por um caminhão de
dinheiro, deveria olhar para o
retrato de Wes Anderson numa parede imaginária e dizer
"não". Desde o começo, este texano de 35 anos faz o que quer,
como quer e quando quer, com
orçamentos de US$ 8 milhões
(R$ 19,7 milhões) em média e
retorno de bilheteria três vezes
maior, só nos Estados Unidos.
Nesse sentido, o de ficar abaixo do radar da indústria para
não incomodar nem ser incomodado, Anderson é o Woody
Allen possível dos anos 00. Ao
contar sempre a mesma história, com variações cosméticas,
mas brilho invariável, porém,
assemelha-se a outra figura, o
escritor recluso J.D. Salinger,
de quem é fã -"Os Excêntricos Tenenbauns" não é outra
coisa se não uma homenagem
à família Glass, que domina os
escritos do autor de "O Apanhador no Campo de Centeio".
Seus quatro longas, "Pura
Adrenalina" (96), "Três É Demais" (98), "Tenenbauns" (01)
e este "A Vida Marinha...", giram em torno da mesma história, um núcleo (seja casal, família, grupo de amigos) não-funcional e não-convencional que
se ama à sua maneira. Mesmo
a equação do elenco varia pouco -os irmãos Wilson, Bill
Murray, Seymour Cassel e Anjelica Huston no centro, algumas estrelas orbitando.
Aqui, Murray interpreta Steve Zissou, um Jacques Cousteau em decadência que reúne
a equipe uma última vez para
fazer "o" documentário e se
vingar do "tubarão-leopardo"
que devorou seu parceiro (Cassel). Para tanto, contará com a
resistência da mulher (Anjelica
Huston, a feia mais sexy do cinema), a concorrência do inimigo (Jeff Goldblum), a companhia de um aviador que pode ser seu filho (Owen Wilson)
e o registro de uma repórter
grávida (Cate Blanchett).
Todos em algum momento
estarão a bordo do improvável
submarino com o qual Wes
Anderson sonha desde a adolescência, o Belafonte -uma
homenagem indireta a Cousteau, já que a principal embarcação do oceanógrafo francês
chamava-se Calypso, e o introdutor deste ritmo nos EUA foi
o músico Harry Belafonte.
Esse e outros detalhes (Seu
Jorge cantando versões em
português de Bowie, toda a tecnologia do submarino com desenho dos anos 70, os Adidas
desenhados pelo próprio Anderson) dão sabor a um todo
original que não passa de uma
grande história de amor e amizade. E para que mais?
(SD)
A Vida Marinha com Steve Zissou
The Life Aquatic with Steve Zissou
Direção: Wes Anderson
Produção: EUA, 2004
Com: Bill Murray, Cate Blanchett
Quando: a partir de hoje no
Cineclube Vitrine e no Espaço Unibanco
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