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58º FESTIVAL DE CANNES
Em "Don't Come Knockin'", o cineasta alemão reencontra o dramaturgo Sam Shepard, de "Paris, Texas", Palma de Ouro em 84
Novo filme tira Wim Wenders das trevas
ALCINO LEITE NETO
ENVIADO ESPECIAL A CANNES
O alemão Wim Wenders saiu finalmente das trevas com "Don't
Come Knockin'" (não entre batendo), em competição em Cannes. Não, não espere algo como
"O Amigo Americano" (77) ou
"Asas do Desejo" (87). O filme é
menos do que isso, mas é muito
melhor do que todos os que Wenders fez nos últimos dez anos.
"Don't Come Knockin'" marca
o reencontro, no cinema, depois
de 21 anos, de Wenders com o importante dramaturgo americano
Sam Shepard, autor do roteiro de
"Paris, Texas", Palma de Ouro em
1984.
Pela primeira vez, ele atua para
Wenders, fazendo um ator decadente que larga as filmagens de
um faroeste e sai em busca do filho e de um sentido para a sua vida. Shepard está excelente e, como o filme, tem grandes chances
de ser premiado em Cannes.
É sobretudo a reconciliação de
Wenders com a sua cinefilia, com
os EUA e as paisagens desoladas
do país que ele tanto ama. Começa como um falso western, com
imagens feitas na região árida de
Moab (Estado de Utah). Continua
nas cidades perdidas de Butte
(Montana) e Elko (Nevada) -todos os lugares maravilhosamente
fotografados por Franz Lustig.
"Estou orgulhoso deste filme,
certamente é um dos melhores
que já fiz", disse o diretor, em entrevista à imprensa. Shepard também manifestou seu orgulho e
deu como prova dele o fato de ter
vindo a Cannes -pois tem fobia
de viagens de avião. Ele resumiu
seu processo de criação: "Não trabalho com temas e tramas, penso
sempre em personagens".
Este é mais um filme em Cannes
a contar histórias de paternidades
complicadas e de famílias em crise. "Este filme é sobre um homem
solitário mas também é sobre a
paternidade e a desintegração da
família", disse Wenders.
Também é o terceiro filme a citar o faroeste, depois de "O Anjo
da Morte", de David Cronenberg,
e do interessante "Os Três Enterros de Melquiades Estrada", o primeiro longa feito para cinema do
ator Tommy Lee Jones, exibido
ontem. Ambientado nos dias
atuais, é a história de um fazendeiro americano que faz uma dramática travessia do Texas ao México para enterrar o amigo mexicano em sua terra natal. O filme
resulta político ao se inclinar para
o lado dos imigrantes mexicanos.
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