São Paulo, sexta-feira, 20 de maio de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

58º FESTIVAL DE CANNES

Em "Don't Come Knockin'", o cineasta alemão reencontra o dramaturgo Sam Shepard, de "Paris, Texas", Palma de Ouro em 84

Novo filme tira Wim Wenders das trevas

ALCINO LEITE NETO
ENVIADO ESPECIAL A CANNES

O alemão Wim Wenders saiu finalmente das trevas com "Don't Come Knockin'" (não entre batendo), em competição em Cannes. Não, não espere algo como "O Amigo Americano" (77) ou "Asas do Desejo" (87). O filme é menos do que isso, mas é muito melhor do que todos os que Wenders fez nos últimos dez anos.
"Don't Come Knockin'" marca o reencontro, no cinema, depois de 21 anos, de Wenders com o importante dramaturgo americano Sam Shepard, autor do roteiro de "Paris, Texas", Palma de Ouro em 1984.
Pela primeira vez, ele atua para Wenders, fazendo um ator decadente que larga as filmagens de um faroeste e sai em busca do filho e de um sentido para a sua vida. Shepard está excelente e, como o filme, tem grandes chances de ser premiado em Cannes.
É sobretudo a reconciliação de Wenders com a sua cinefilia, com os EUA e as paisagens desoladas do país que ele tanto ama. Começa como um falso western, com imagens feitas na região árida de Moab (Estado de Utah). Continua nas cidades perdidas de Butte (Montana) e Elko (Nevada) -todos os lugares maravilhosamente fotografados por Franz Lustig.
"Estou orgulhoso deste filme, certamente é um dos melhores que já fiz", disse o diretor, em entrevista à imprensa. Shepard também manifestou seu orgulho e deu como prova dele o fato de ter vindo a Cannes -pois tem fobia de viagens de avião. Ele resumiu seu processo de criação: "Não trabalho com temas e tramas, penso sempre em personagens".
Este é mais um filme em Cannes a contar histórias de paternidades complicadas e de famílias em crise. "Este filme é sobre um homem solitário mas também é sobre a paternidade e a desintegração da família", disse Wenders.
Também é o terceiro filme a citar o faroeste, depois de "O Anjo da Morte", de David Cronenberg, e do interessante "Os Três Enterros de Melquiades Estrada", o primeiro longa feito para cinema do ator Tommy Lee Jones, exibido ontem. Ambientado nos dias atuais, é a história de um fazendeiro americano que faz uma dramática travessia do Texas ao México para enterrar o amigo mexicano em sua terra natal. O filme resulta político ao se inclinar para o lado dos imigrantes mexicanos.


Texto Anterior: Erika Palomino
Próximo Texto: "Pelé Eterno" recebe prêmio paralelo
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.