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CDS
ROCK
Álbum de tom político reúne músicas inéditas da banda System of a Down
"Mezmerize" prega contra Bush e a monotonia do metal
DA REPORTAGEM LOCAL
Traga suas próprias bombas.
Há algumas semanas,
"B.Y.O.B." (singla para Bring
Your Own Bombs), o mais recente single do System of a Down,
vem anunciando a chegada do
novo disco do quarteto americano de ascendência armênia. Ao
dividir espaço em músicas de temática política e nonsense, "Mezmerize" aparece como um dos
mais surpreendentes discos de
rock pesado dos últimos anos.
"Mezmerize" é duas coisas: primeiro álbum de inéditas do grupo
em quatro anos (a banda já lançou "System of a Down", em 98;
"Toxicity", em 2001 e "Steal this
Album", em 2002, mas este último era uma coleção de canções
que não entraram nos anteriores);
primeira parte de um disco duplo
(a segunda, "Hypnotize", chega
no próximo semestre).
Responsáveis pela venda de
mais de 10 milhões de discos no
mundo todo, o quarteto liderado
pelo vocalista Serj Tankian e pelo
guitarrista Daron Malakian não
amacia nas letras, no barulho e se
coloca bem acima da monotonia
que assola o rock pesado.
Liricamente, "Mezmerize" traz
ataques à política norte-americana, à mídia e ao politicamente
correto. E consegue reunir, numa
mesma canção, thrash metal,
hardcore e até reggae.
"Sempre colocamos alguns toques dançantes em nossos álbuns,
mas nem sempre isso é notado.
Este disco realmente tem uma vibe mais dance do que os outros",
disse Tankian em entrevista à Folha, por telefone.
"Mezmerize" é, segundo a banda, irmão siamês de "Hypnotize".
"Havia muitas canções, e queríamos que elas respirassem, que tivessem espaço suficiente, sem termos que cortar nada. [Os discos]
não têm conceitos diferentes, na
verdade é uma obra enorme dividida em duas", explica o vocalista.
Das mais atuantes bandas roqueiras americanas, o System of a
Down concorda que faz parte de
um paradoxo: assim como outros
artistas, vende milhões de álbuns,
mas toda a pregação política anti-Bush e anti-guerra parece não ter
efeito, quando o presidente dos
EUA é reeleito e boa parte da população do país se mostra a favor
do conflito no Iraque.
"É uma questão complicada. O
ponto é que nós artistas viajamos
pelo mundo, temos condições de
conversar com um monte de gente, de fãs, pessoas nas ruas. Isso
nos dá uma perspectiva diferente
em relação a guerras ou outras situações sociais e políticas em relação à do americano comum", diz.
"A maioria dos americanos não
quer ou não apóia guerras. Entretanto, acho que o grande problema é a imprensa americana, que é
muito ruim e tendenciosa. Durante a Guerra do Iraque, eu tinha
que assistir ao noticiário pela [rede britânica] BBC, pois as TVs
americanas mostravam aquilo de
uma maneira diferente." Mais: "E
os republicanos foram muito
competentes nessas últimas eleições, pois conseguiram dar grande destaque a questões morais
que não deveriam ser consideradas numa eleição presidencial".
Além da banda, Tankian dedica-se à ONG Axis of Justice, ao lado do guitarrista Tom Morello, do
Audioslave. "Fazemos um show
de rádio, temos um website que é
um bom ponto de partida para
pesquisas e para troca de informações, realizamos eventos beneficentes para várias causas, como
vítimas do tsunami, moradores
de rua, desabrigados...", diz.
Há tempos martelando as rádios do planeta, "B.Y.O.B." apresenta bem o que é o SOAD: é pesada como um Metallica, sem aviso
passa a Red Hot Chili Peppers e
termina como um Nirvana desenfreado. No meio disso, Tankian
grita: "Why do they always send
the poor?" (Por que eles sempre
mandam os pobres?), sobre os
soldados que lutam nas guerras.
"Revenga" lembra Sepultura,
rápida; já "Cigaro", que detona o
patrulhamento anti-tabaco dos
EUA, tem loops de guitarra que
soariam engraçados não estivessem no meio de uma pedrada.
"Radio Video" é um metal absurdo, que misturam ska com
hardcore. Mais nonsense aparece
a certa altura do álbum, quando
gritam "gonorréia, gorgonzola"...
Guerras, heavy metal, politicagem, reggae, gorgonzola... Que
outras bandas fazem isso?
(THIAGO NEY)
Mezmerize
Artista: System of a Down
Lançamento: Sony BMG
Quanto: R$ 35, em média
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