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CRÍTICA/MPB
Leila Pinheiro abusa dos teclados e frustra
DA SUCURSAL DO RIO
É Leila Pinheiro quem diz, no
release para a imprensa:
"Passei três anos sem gravar e
desde 1998 não pude fazer um disco como eu queria, com a minha
cara, com as minhas escolhas".
Exatamente por causa da fragilidade de seus últimos CDs
-"Reencontro" (2000), com músicas de Ivan Lins e Gonzaguinha,
e "Mais Coisas do Brasil" (2001),
uma colcha de retalhos imposta
por sua ex-gravadora-, dos anos
de abstinência fonográfica e da
parceria com a Biscoito Fino, esperava-se muito de "Nos Horizontes do Mundo". Veio pouco.
É preciso relativizar os erros
exaltando a coragem de Leila em
buscar canções novas e autores
que, em geral, fogem do previsível. Foi assim em "Catavento e Girassol" (96) e "Na Ponta da Língua" (98). Agora, ela escorrega na
banalidade ao gravar as insípidas
"Onde Deus Possa me Ouvir"
(Vander Lee) e "Pela Ciclovia" (a
melodia de Marcos Valle é incrementada, mas a letra de Jorge
Vercilo é triste de tão boba) e ao
encher de teclados muitas faixas.
Compreende-se o apreço da tecladista Leila pelo instrumento,
mas basta ouvir os ótimos sambas-sem-teclado "Gozos da Alma" (poema de John Donne musicado por Francis Hime) e "Tiranizar" (Cézar Mendes/Caetano
Veloso) para constatar como se
perdeu com essa opção. Em outros dois bons sambas, "... E Muito Mais" (João Donato/ Lysias
Ênio) e "O Amor e Eu" (Eduardo
Gudin), o teclado é discreto e, felizmente, sucumbe aos metais (no
primeiro) e à percussão (no segundo). Na faixa-título, uma das
maravilhas indeléveis de Paulinho da Viola, Leila aciona seu teclado com tal suavidade que ele
até fortalece o tom sagrado.
Já em "Renata Maria", letra de
Chico Buarque (com Ivan Lins),
os efeitos das teclas aprisionam
em uma sonoridade quase metálica uma canção que fala de montanhas. O CD termina bem, com
"Vem, Amada" e o preciso haicai
"A 60 Minutos por Hora", ambos
sem teclado. Provas de que os horizontes do mundo continuam
abertos para Leila voltar a fazer
grandes discos.
(LFV)
Nos Horizontes do Mundo
Artista: Leila Pinheiro
Gravadora: Biscoito Fino
Quanto: R$ 24, em média
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