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POLÍTICA INTERNACIONAL
Paul Krugman ataca o governo Bush
CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
ESPECIAL PARA A FOLHA
Paul Krugman é dos poucos
economistas que escreve de
forma ao mesmo tempo simples,
didática e profunda. Além disso,
tem interesses que vão muito
além da análise dos indicadores
econômicos e suas relações entre
si. Tem gosto pela política e pelo
debate. Não receia tomar partido
e provocar poderosos. Era quase
fatal que virasse jornalista.
Em 1999, quando lecionava no
MIT (Instituto de Tecnologia de
Massachusetts) e já colaborava
episodicamente para a revista impressa "Fortune" e a eletrônica
"Slate", o "New York Times" o
convidou para assumir uma coluna bisemanal, que começou a ser
publicada em janeiro de 2000.
Naquele mesmo ano, virou uma
celebridade no Brasil, ao sugerir
sem fundamento que a escolha de
Armínio Fraga teria favorecido financeiramente o megainvestidor
George Soros. Teve a coragem de
retratar-se e pedir desculpas.
Coragem, aliás, não falta a
Krugman, que a tem demonstrado desde que George W. Bush assumiu a Presidência dos EUA. Ao
contrário de muitos de seus colegas no "Times", nem a aura de
santidade que envolveu Bush
após o 11 de Setembro impediu
Krugman de continuar a atacá-lo.
Muitos desses ataques estão na
coletânea "A Desintegração Americana", que reúne textos jornalísticos que vão de 1997 a março de
2004, quando opor-se ao bushismo ainda era uma posição minoritária nos EUA.
Embora atualmente seja muito
mais jornalista do que qualquer
outra coisa (apesar de ainda lecionar, agora em Princeton), Krugman gosta de diferenciar-se dos
colegas de Redação e de creditar à
sua condição de "outsider" muitos de seus eventuais êxitos.
Por exemplo: por que ele foi capaz de detectar a hipocrisia da administração Bush (e mesmo da
personalidade do presidente) antes da maioria absoluta dos jornalistas? "É que, como economista
treinado, eu não ficava tentado a
cair no estilo de reportagem do
"ele disse, ela disse", no qual se dá
crédito às palavras sem considerar os fatos". Sábia constatação.
Não ser membro do "clube"
também o livra do que chama ironicamente de "incentivos aos jornalistas": "Socialmente, eu não faço parte desse mundo. Eu não vou
aos coquetéis e festas em Washington, não sou sugado pelos
grupos de pressão da cidade, para
o bem e para o mal. Não sei necessariamente dos rumores mais recentes, mas em compensação não
estou sujeito a me enquadrar em
nenhuma linha de raciocínio para
explicar os fatos".
Evidentemente, os textos jornalísticos de Krugman são curtos e,
portanto, muitas vezes superficiais. Por mais que não se sinta sócio do clube, segue os seus cânones principais e, por isso, às vezes
força um pouco a mão para apelar
mais ao interesse do leitor. Como
se comprometeu demais com
uma posição ideológica, tende a
ser repetitivo e monótono (mas
isso se sente mais no jornal do que
no livro). E o livro, por ser uma
colagem de colunas desconexas,
não chega a satisfazer como explicação ampla de nada. Mesmo assim, é um mosaico interessante
dos EUA deste início de século.
Carlos Eduardo Lins da Silva é jornalista e diretor da Patri Relações Governamentais e Políticas Públicas
A Desintegração Americana
Autor: Paul Krugman
Tradução: Renato Bittencourt
Editora: Record
Quanto: R$ 62,90 (546 págs.)
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