São Paulo, sábado, 20 de maio de 2006

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POLÍTICA INTERNACIONAL

Paul Krugman ataca o governo Bush

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
ESPECIAL PARA A FOLHA

Paul Krugman é dos poucos economistas que escreve de forma ao mesmo tempo simples, didática e profunda. Além disso, tem interesses que vão muito além da análise dos indicadores econômicos e suas relações entre si. Tem gosto pela política e pelo debate. Não receia tomar partido e provocar poderosos. Era quase fatal que virasse jornalista.
Em 1999, quando lecionava no MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts) e já colaborava episodicamente para a revista impressa "Fortune" e a eletrônica "Slate", o "New York Times" o convidou para assumir uma coluna bisemanal, que começou a ser publicada em janeiro de 2000.
Naquele mesmo ano, virou uma celebridade no Brasil, ao sugerir sem fundamento que a escolha de Armínio Fraga teria favorecido financeiramente o megainvestidor George Soros. Teve a coragem de retratar-se e pedir desculpas.
Coragem, aliás, não falta a Krugman, que a tem demonstrado desde que George W. Bush assumiu a Presidência dos EUA. Ao contrário de muitos de seus colegas no "Times", nem a aura de santidade que envolveu Bush após o 11 de Setembro impediu Krugman de continuar a atacá-lo.
Muitos desses ataques estão na coletânea "A Desintegração Americana", que reúne textos jornalísticos que vão de 1997 a março de 2004, quando opor-se ao bushismo ainda era uma posição minoritária nos EUA.
Embora atualmente seja muito mais jornalista do que qualquer outra coisa (apesar de ainda lecionar, agora em Princeton), Krugman gosta de diferenciar-se dos colegas de Redação e de creditar à sua condição de "outsider" muitos de seus eventuais êxitos.
Por exemplo: por que ele foi capaz de detectar a hipocrisia da administração Bush (e mesmo da personalidade do presidente) antes da maioria absoluta dos jornalistas? "É que, como economista treinado, eu não ficava tentado a cair no estilo de reportagem do "ele disse, ela disse", no qual se dá crédito às palavras sem considerar os fatos". Sábia constatação.
Não ser membro do "clube" também o livra do que chama ironicamente de "incentivos aos jornalistas": "Socialmente, eu não faço parte desse mundo. Eu não vou aos coquetéis e festas em Washington, não sou sugado pelos grupos de pressão da cidade, para o bem e para o mal. Não sei necessariamente dos rumores mais recentes, mas em compensação não estou sujeito a me enquadrar em nenhuma linha de raciocínio para explicar os fatos".
Evidentemente, os textos jornalísticos de Krugman são curtos e, portanto, muitas vezes superficiais. Por mais que não se sinta sócio do clube, segue os seus cânones principais e, por isso, às vezes força um pouco a mão para apelar mais ao interesse do leitor. Como se comprometeu demais com uma posição ideológica, tende a ser repetitivo e monótono (mas isso se sente mais no jornal do que no livro). E o livro, por ser uma colagem de colunas desconexas, não chega a satisfazer como explicação ampla de nada. Mesmo assim, é um mosaico interessante dos EUA deste início de século.


Carlos Eduardo Lins da Silva é jornalista e diretor da Patri Relações Governamentais e Políticas Públicas
A Desintegração Americana
    Autor: Paul Krugman
Tradução: Renato Bittencourt
Editora: Record
Quanto: R$ 62,90 (546 págs.)


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