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Crítica/série
Com "Twin Peaks", Lynch levou mais criatividade à TV
Série criada pelo cineasta inspirou produções como "Desperate Housewives"
Segunda temporada, na qual seriado perdeu sua identidade, é lançada em DVD; entre as curiosidades, Lynch em papel cômico
BRUNO YUTAKA SAITO
DA REPORTAGEM LOCAL
Há um consenso hoje de
que a falência criativa
domina Hollywood.
Os melhores roteiristas e as
melhores idéias teriam partido
para os seriados americanos.
Um dos poucos focos de resistência a essa tese vem do cinema de autor de nomes como
David Lynch. Parece ironia, então, constatar que um dos principais responsáveis pela ascensão criativa da televisão seja
justamente Lynch.
Em 8 de abril de 1990 estreava o seriado "Twin Peaks", na
ABC. Criado por Lynch e Mark
Frost, foi um dos maiores sucessos de audiência do canal. A
estréia teve mais de 20 milhões
de telespectadores: um terço
das TVs ligadas no horário estava assistindo ao seriado.
Mas o que tinha "Twin
Peaks" de tão especial? E por
que em pouco mais de um ano a
série foi extinta? A segunda
temporada sai agora em DVD,
com bônus como entrevistas
com os vários diretores que a
série teve e com os atores.
A referência em seriado era o
novelão interminável "Dallas";
com "Twin Peaks", Lynch levava para a TV, até então subestimada em termos de alcance artístico, a sofisticação do cinema, tanto em termos técnicos
quanto temáticos.
Foi o início da televisão moderna: nenhum personagem
era mais inteiramente bom ou
mau, plano. Séries como "Lost"
ou "Desperate Housewives"
são seus descendentes diretos.
De perto, todos tinham algo a
esconder. Quem procurava respostas fáceis ficava frustrado.
A primeira temporada foi
curta: teve oito episódios, durante dois meses (no Brasil, foi
exibida pela Globo). A série começa quando Laura Palmer,
uma adolescente-modelo da
gelada cidadezinha Twin
Peaks, é encontrada assassinada à beira de um lago. O incidente leva o agente especial do
FBI Dale Cooper ao local.
A grande pergunta que atormentava os telespectadores
("Quem matou Laura Palmer?") era apenas um "MacGuffin" de Lynch, ou seja, o dispositivo tornado célebre por Hitchcock, um pretexto para
fazer os personagens se moverem. Se dependesse de Lynch, a
identidade não seria revelada.
Quem é o assassino?
No entanto, a ABC e telespectadores começaram a interferir na trama. Todos queriam
saber quem era o assassino.
O estrago foi grande. Com
uma segunda temporada de
longos 22 episódios, Lynch e
Frost tiveram que revelar o
mistério já na parte inicial. De
certa forma, os criadores passaram a ter uma liberdade maior,
já que não havia mais mistério
para ser desvendado. Mas o público tinha se desinteressado.
Começam a surgir subtramas
desnecessárias, quase uma autoparódia do universo de "Twin
Peaks": personagens agem de
forma pouco convencional, que
mais tende para a histeria do
que para o ambíguo. Alienígenas, espíritos, incesto, novelão
convencional: a segunda temporada flerta com um pouco de
tudo e perde sua identidade.
Mas, na lógica de "Twin Peaks",
isso tem lá sua coerência.
Entre as curiosidades, episódio dirigido por Diane Keaton,
além de Lynch, que se mostra
um ótimo ator cômico como o
chefe com problemas auditivos
de Cooper que só fala gritando.
TWIN PEAKS 2ª TEMPORADA
Criadores: David Lynch e Mark Frost
Diretores: vários
Distribuidora: Paramount
Avaliação: bom
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