São Paulo, domingo, 20 de maio de 2007

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Crítica/série

Com "Twin Peaks", Lynch levou mais criatividade à TV

Série criada pelo cineasta inspirou produções como "Desperate Housewives"

Segunda temporada, na qual seriado perdeu sua identidade, é lançada em DVD; entre as curiosidades, Lynch em papel cômico

BRUNO YUTAKA SAITO
DA REPORTAGEM LOCAL

Há um consenso hoje de que a falência criativa domina Hollywood. Os melhores roteiristas e as melhores idéias teriam partido para os seriados americanos.
Um dos poucos focos de resistência a essa tese vem do cinema de autor de nomes como David Lynch. Parece ironia, então, constatar que um dos principais responsáveis pela ascensão criativa da televisão seja justamente Lynch.
Em 8 de abril de 1990 estreava o seriado "Twin Peaks", na ABC. Criado por Lynch e Mark Frost, foi um dos maiores sucessos de audiência do canal. A estréia teve mais de 20 milhões de telespectadores: um terço das TVs ligadas no horário estava assistindo ao seriado.
Mas o que tinha "Twin Peaks" de tão especial? E por que em pouco mais de um ano a série foi extinta? A segunda temporada sai agora em DVD, com bônus como entrevistas com os vários diretores que a série teve e com os atores.
A referência em seriado era o novelão interminável "Dallas"; com "Twin Peaks", Lynch levava para a TV, até então subestimada em termos de alcance artístico, a sofisticação do cinema, tanto em termos técnicos quanto temáticos.
Foi o início da televisão moderna: nenhum personagem era mais inteiramente bom ou mau, plano. Séries como "Lost" ou "Desperate Housewives" são seus descendentes diretos. De perto, todos tinham algo a esconder. Quem procurava respostas fáceis ficava frustrado.
A primeira temporada foi curta: teve oito episódios, durante dois meses (no Brasil, foi exibida pela Globo). A série começa quando Laura Palmer, uma adolescente-modelo da gelada cidadezinha Twin Peaks, é encontrada assassinada à beira de um lago. O incidente leva o agente especial do FBI Dale Cooper ao local.
A grande pergunta que atormentava os telespectadores ("Quem matou Laura Palmer?") era apenas um "MacGuffin" de Lynch, ou seja, o dispositivo tornado célebre por Hitchcock, um pretexto para fazer os personagens se moverem. Se dependesse de Lynch, a identidade não seria revelada.

Quem é o assassino?
No entanto, a ABC e telespectadores começaram a interferir na trama. Todos queriam saber quem era o assassino.
O estrago foi grande. Com uma segunda temporada de longos 22 episódios, Lynch e Frost tiveram que revelar o mistério já na parte inicial. De certa forma, os criadores passaram a ter uma liberdade maior, já que não havia mais mistério para ser desvendado. Mas o público tinha se desinteressado.
Começam a surgir subtramas desnecessárias, quase uma autoparódia do universo de "Twin Peaks": personagens agem de forma pouco convencional, que mais tende para a histeria do que para o ambíguo. Alienígenas, espíritos, incesto, novelão convencional: a segunda temporada flerta com um pouco de tudo e perde sua identidade. Mas, na lógica de "Twin Peaks", isso tem lá sua coerência.
Entre as curiosidades, episódio dirigido por Diane Keaton, além de Lynch, que se mostra um ótimo ator cômico como o chefe com problemas auditivos de Cooper que só fala gritando.


TWIN PEAKS 2ª TEMPORADA
Criadores:
David Lynch e Mark Frost
Diretores: vários
Distribuidora: Paramount
Avaliação: bom


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