São Paulo, domingo, 20 de maio de 2007

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Crítica

"Matrix" explora realidade e simulacro

INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA

Certos sucessos se devem à capacidade dos filmes de detectar a preocupação das pessoas naquele momento. Em "Matrix" (TNT, 19h15), Keanu Reeeves, aliás Thomas Anderson, é informado a horas tantas de que o mundo ao seu redor não é bem o mundo ao seu redor, é só um universo virtual.
Há um engano, na verdade uma conspiração que pode lembrar, pelo que tem de complexo, um filme noir. Há, claro, um lado ficção científica -e como parte dela os rebeldes.
"Matrix" foi feito mais ou menos ao mesmo tempo que o "eXistenZ", de David Cronenberg, em 1999. Dos dois, emplacou o filme dos irmãos Andy e Larry Wachowski. Não que seja melhor. Cronenberg propõe uma contaminação da realidade pela realidade virtual dos games: viver e jogar (no caso, de dentro do jogo) se tornam coisas indistintas. Menos inquietante, "Matrix" capta melhor o medo de que o conceito de realidade se deteriore até o ponto em que a vida e a imagem da vida, a realidade e o simulacro não sejam distinguíveis.
A preocupação é legítima, embora no dia-a-dia se manifeste de forma menos apocalíptica. Quem se prepara para ver este filme pode fazer a experiência, detendo-se no noticiário da TV e fechando os olhos. Apenas escutando, notará que a TV narra a notícia como um conto de fadas. Diante do noticiário que impede o raciocínio, somos todos infantilizados, e é como crianças -incapazes- que passamos a viver a vida.


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