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Crítica
"Matrix" explora realidade e simulacro
INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA
Certos sucessos se devem à
capacidade dos filmes de detectar a preocupação das pessoas
naquele momento. Em "Matrix" (TNT, 19h15), Keanu
Reeeves, aliás Thomas Anderson, é informado a horas tantas
de que o mundo ao seu redor
não é bem o mundo ao seu redor, é só um universo virtual.
Há um engano, na verdade
uma conspiração que pode
lembrar, pelo que tem de complexo, um filme noir. Há, claro,
um lado ficção científica -e como parte dela os rebeldes.
"Matrix" foi feito mais ou
menos ao mesmo tempo que o
"eXistenZ", de David Cronenberg, em 1999. Dos dois, emplacou o filme dos irmãos Andy e
Larry Wachowski. Não que seja
melhor. Cronenberg propõe
uma contaminação da realidade pela realidade virtual dos games: viver e jogar (no caso, de
dentro do jogo) se tornam coisas indistintas. Menos inquietante, "Matrix" capta melhor o
medo de que o conceito de realidade se deteriore até o ponto
em que a vida e a imagem da vida, a realidade e o simulacro
não sejam distinguíveis.
A preocupação é legítima,
embora no dia-a-dia se manifeste de forma menos apocalíptica. Quem se prepara para ver
este filme pode fazer a experiência, detendo-se no noticiário da TV e fechando os olhos.
Apenas escutando, notará que a
TV narra a notícia como um
conto de fadas. Diante do noticiário que impede o raciocínio,
somos todos infantilizados, e é
como crianças -incapazes-
que passamos a viver a vida.
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