São Paulo, domingo, 20 de maio de 2007

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BIA ABRAMO

Novela das seis precisa mostrar mágica


O risco que a novela corre é não ter fôlego para se sustentar, a não ser que a bruxaria pegue fogo

CURIOSA A feição que vem tomando a noção de época, em termos de telenovela e do horário das seis da tarde. Novela de época, em vez de se filiar a algum período histórico específico e explorar tramas que façam sentido dentro de alguma característica social ou cultural vinculada a ele, passou a ser a novela com figurinos e cenários com um ar vintage. E só.
"Eterna Magia" inscreve-se nessa linha. Temos ali uma cidade fictícia encravada em paisagens do sul de Minas para onde teria vindo uma leva de imigrantes irlandeses, descendentes de celtas. A origem justifica o lado esotérico da novela, que pretende explorar uma parte da mitologia celta e, sobretudo, as bruxas conhecidas como wicca.
Aqui, esses irlandeses teriam se tornado exploradores de minas e vivido num relativo isolamento até a década de 40, quando se passa a história. Então, apesar de falar muito bem o português, os descendentes dos imigrantes cultivam tradições folclóricas, além de poderes sobrenaturais.
Muito bem, ficção é ficção e, se admitimos que teledramaturgia é uma modalidade ficcional, a telenovela tem, portanto, liberdade de inventar e criar. No entanto, se a invenção se atrapalha, de forma às vezes inconsciente, ou afronta, de forma muito deliberada, a capacidade de crer do leitor/espectador, ela corre muitos riscos.
O principal deles é não ter fôlego para sustentar o universo que pretende criar. É o que parece que vai acontecer com "Eterna Magia", a não ser que a bruxaria pegue fogo.
Caso contrário, desses anos 40 de mentira e essa improbabilíssima comunidade irlandesa, que faz um Halloween ao gosto americano (e das escolas de inglês brasileiras) e em que boa parte trabalha em mi- nas que parecem saídas de uma versão Disney das minas de carvão da Revolução Industrial, não sai lá muito caldo.
A feitiçaria, no entanto, ainda não deu muito o ar da graça. Claro, já apareceu várias vezes um Paulo Coelho embaçado, com ar de mistério e aquela solenidade de quem lida com o oculto, como o Grande Mago, mas, por enquanto, nada de fazer ventar.
Na verdade, é a mocinha, a pobre Nina, cujo destino será vai sofrer justamente por causa da irmã poderosa, linda e predileta do pai, quem será a principal responsável pela evocação das forças sobrenaturais (do bem).
É improvável que a jovem Maria Flor tenha estofo para enfrentar uma Malu Mader meio vilã, mas quem sabe o que pode acontecer com a ajuda da magia...

biaabramo.tv@uol.com.br


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