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BIA ABRAMO
Novela das seis precisa mostrar mágica
O risco que a novela corre é não ter fôlego para se sustentar, a não ser que a bruxaria pegue fogo
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CURIOSA A feição que vem tomando a noção de época, em
termos de telenovela e do horário das seis da tarde. Novela de
época, em vez de se filiar a algum período histórico específico e explorar
tramas que façam sentido dentro de
alguma característica social ou cultural vinculada a ele, passou a ser a
novela com figurinos e cenários com
um ar vintage. E só.
"Eterna Magia" inscreve-se nessa
linha. Temos ali uma cidade fictícia
encravada em paisagens do sul de
Minas para onde teria vindo uma leva de imigrantes irlandeses, descendentes de celtas. A origem justifica o lado esotérico da novela, que pretende explorar uma parte da mitologia
celta e, sobretudo, as bruxas conhecidas como wicca.
Aqui, esses irlandeses teriam se
tornado exploradores de minas e
vivido num relativo isolamento até
a década de 40, quando se passa
a história. Então, apesar de falar
muito bem o português, os descendentes dos imigrantes cultivam tradições folclóricas, além de poderes
sobrenaturais.
Muito bem, ficção é ficção e, se admitimos que teledramaturgia é uma
modalidade ficcional, a telenovela
tem, portanto, liberdade de inventar
e criar. No entanto, se a invenção se
atrapalha, de forma às vezes inconsciente, ou afronta, de forma muito
deliberada, a capacidade de crer
do leitor/espectador, ela corre muitos riscos.
O principal deles é não ter fôlego
para sustentar o universo que pretende criar. É o que parece que vai
acontecer com "Eterna Magia", a
não ser que a bruxaria pegue fogo.
Caso contrário, desses anos 40 de
mentira e essa improbabilíssima
comunidade irlandesa, que faz um
Halloween ao gosto americano (e
das escolas de inglês brasileiras) e
em que boa parte trabalha em mi-
nas que parecem saídas de uma versão Disney das minas de carvão da
Revolução Industrial, não sai lá muito caldo.
A feitiçaria, no entanto, ainda não
deu muito o ar da graça. Claro, já
apareceu várias vezes um Paulo
Coelho embaçado, com ar de mistério e aquela solenidade de quem
lida com o oculto, como o Grande
Mago, mas, por enquanto, nada de
fazer ventar.
Na verdade, é a mocinha, a pobre
Nina, cujo destino será vai sofrer justamente por causa da irmã poderosa, linda e predileta do pai, quem
será a principal responsável pela
evocação das forças sobrenaturais
(do bem).
É improvável que a jovem Maria
Flor tenha estofo para enfrentar
uma Malu Mader meio vilã, mas
quem sabe o que pode acontecer
com a ajuda da magia...
biaabramo.tv@uol.com.br
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