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Masp recebe nova figuração espanhola
Pintores centrais de movimento dos anos 70, Luis Gordillo e Manolo Quejido fazem primeira mostra no Brasil
SILAS MARTÍ
DA REPORTAGEM LOCAL
No subsolo do Masp, o pintor
espanhol Luis Gordillo caminha em direção à "Gran Cabeza" (1965), única de suas 33 telas em exposição de que sabe de cor nome e data. Foi das primeiras obras que fez na retomada da pintura que dominou
a arte espanhola nos anos 70, a
nova figuração de Madri.
Com mais 58 quadros de Manolo Quejido, outro nome importante do momento marcado
pela reação figurativa à arte
conceitual que se fazia na Espanha, o museu abre hoje a primeira exposição sobre o período realizada no Brasil.
"Vivi toda a minha vida sob a
condenação de que a pintura
havia morrido", diz Gordillo.
"Gran Cabeza" é um rosto colorido -sem olhos e parte do
queixo- que parece se dissolver no espaço, uma das primeiras tentativas do artista de redefinir a pintura ante a avalanche de outros suportes. "Todos
sabiam que, depois do dadaísmo, não haveria outro Picasso."
Suas telas misturam fotografia e colagem, buscando superar a pintura tradicional pelo
desdobramento da imagem, seqüências narrativas capazes de
dar maior dinamismo à representação. Nessa linha, a série de
telas "Pensamiento en Porciones" (2003) parte de uma fotografia e reproduz na pintura
traços rearranjados do original.
Nascido em 1934, Gordillo foi
o precursor de uma geração de
pintores que liderou, de Madri,
a reabilitação do suporte, como
o próprio Quejido, Juan Antonio Aguirre, Carlos Alcolea e
Guillermo Pérez Villalta, todos
nascidos nos anos 40, mesma
década em que nasceu Antoni
Muntadas, pioneiro espanhol
da arte conceitual.
Conviveram lado a lado os
experimentos figurativos dos
novos pintores e as pesquisas
da pós-vanguarda. "Os anos 70
foram uma reação à arte fria",
resume o curador da mostra
José Lebrero Stals. "Havia um
grupo conceitual não-pictórico
e um grupo que optou pela pintura de forma consciente."
Pop incendiário
A consciência a que se refere
Stals é política. Acusado pelos
artistas catalães, entre eles
Muntadas, de fazer suas obras
com uma ingenuidade incompatível com o regime de Franco, o grupo de Madri teve uma
exceção em Quejido.
A série "Sangre", de 1977, retrata objetos do cotidiano em
tinta vermelha. São fragmentos
da realidade reproduzidos com
uma estética pop, porém de
teor incendiário contra o cerceamento das liberdades políticas. Um relógio, por exemplo,
aparece com a inscrição "tempo parado", alusão ao retrocesso vivido na era franquista.
Na mesma linha, Quejido faz
fotomontagens com imagens
de operações policiais e fuzilamentos que recorta do "El País"
e pinta por cima com tinta colorida, numa operação que remete a Robert Rauschenberg,
mestre norte-americano do
pós-guerra, morto neste mês.
LUIS GORDILLO E MANOLO QUEJIDO
Quando: abertura hoje, às 19h; de
ter. a dom., das 11h às 18h; qui., das
11h às 20h; até 13/7
Onde: Masp (av. Paulista, 1.578, tel.
0/xx/11/3251-5644)
Quanto: R$ 15
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