São Paulo, terça-feira, 20 de maio de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Masp recebe nova figuração espanhola

Pintores centrais de movimento dos anos 70, Luis Gordillo e Manolo Quejido fazem primeira mostra no Brasil

SILAS MARTÍ
DA REPORTAGEM LOCAL

No subsolo do Masp, o pintor espanhol Luis Gordillo caminha em direção à "Gran Cabeza" (1965), única de suas 33 telas em exposição de que sabe de cor nome e data. Foi das primeiras obras que fez na retomada da pintura que dominou a arte espanhola nos anos 70, a nova figuração de Madri.
Com mais 58 quadros de Manolo Quejido, outro nome importante do momento marcado pela reação figurativa à arte conceitual que se fazia na Espanha, o museu abre hoje a primeira exposição sobre o período realizada no Brasil.
"Vivi toda a minha vida sob a condenação de que a pintura havia morrido", diz Gordillo. "Gran Cabeza" é um rosto colorido -sem olhos e parte do queixo- que parece se dissolver no espaço, uma das primeiras tentativas do artista de redefinir a pintura ante a avalanche de outros suportes. "Todos sabiam que, depois do dadaísmo, não haveria outro Picasso."
Suas telas misturam fotografia e colagem, buscando superar a pintura tradicional pelo desdobramento da imagem, seqüências narrativas capazes de dar maior dinamismo à representação. Nessa linha, a série de telas "Pensamiento en Porciones" (2003) parte de uma fotografia e reproduz na pintura traços rearranjados do original.
Nascido em 1934, Gordillo foi o precursor de uma geração de pintores que liderou, de Madri, a reabilitação do suporte, como o próprio Quejido, Juan Antonio Aguirre, Carlos Alcolea e Guillermo Pérez Villalta, todos nascidos nos anos 40, mesma década em que nasceu Antoni Muntadas, pioneiro espanhol da arte conceitual.
Conviveram lado a lado os experimentos figurativos dos novos pintores e as pesquisas da pós-vanguarda. "Os anos 70 foram uma reação à arte fria", resume o curador da mostra José Lebrero Stals. "Havia um grupo conceitual não-pictórico e um grupo que optou pela pintura de forma consciente."

Pop incendiário
A consciência a que se refere Stals é política. Acusado pelos artistas catalães, entre eles Muntadas, de fazer suas obras com uma ingenuidade incompatível com o regime de Franco, o grupo de Madri teve uma exceção em Quejido.
A série "Sangre", de 1977, retrata objetos do cotidiano em tinta vermelha. São fragmentos da realidade reproduzidos com uma estética pop, porém de teor incendiário contra o cerceamento das liberdades políticas. Um relógio, por exemplo, aparece com a inscrição "tempo parado", alusão ao retrocesso vivido na era franquista.
Na mesma linha, Quejido faz fotomontagens com imagens de operações policiais e fuzilamentos que recorta do "El País" e pinta por cima com tinta colorida, numa operação que remete a Robert Rauschenberg, mestre norte-americano do pós-guerra, morto neste mês.


LUIS GORDILLO E MANOLO QUEJIDO
Quando:
abertura hoje, às 19h; de ter. a dom., das 11h às 18h; qui., das 11h às 20h; até 13/7
Onde: Masp (av. Paulista, 1.578, tel. 0/xx/11/3251-5644)
Quanto: R$ 15


Texto Anterior: Mônica Bergamo
Próximo Texto: Comparado a Pessoa, Oliveira ganha homenagem
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.