São Paulo, terça-feira, 20 de maio de 2008

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Irmãos Dardenne filmam imigrante a partir de caso real

DA ENVIADA ESPECIAL A CANNES

Duas vezes vencedores da Palma de Ouro (com "Rosetta" e "A Criança"), os irmãos belgas Luc e Jean-Pierre Dardenne voltam a competir pelo prêmio no 61º Festival de Cannes, com "Le Silence de Lorna" (o silêncio de lorna), exibido ontem.
Trata-se de um filme "da mesma família" dos anteriores da dupla, como observa Jean-Pierre, o que significa que, "no final, a personagem principal torna-se mais humana".
Lorna (Arta Dobroshi) é uma imigrante albanesa vivendo na Bélgica que faz um acordo com o dependente químico Claudy (Jérémie Renier), para que ela possa obter a cidadania belga.
Os dois se casariam e se divorciariam o mais rápido possível. Ele embolsa um pagamento a cada etapa cumprida do "negócio", gerenciado por Fabio (Fabrizio Rongione). O que Claudy não sabe é que o plano real de seus "contratantes" é matá-lo com uma aparente autoprovocada overdose, para que Lorna, já uma cidadã belga, possa vender mais rápido seu próximo casamento -com outro imigrante disposto a comprar a cidadania européia.
A humanização de Lorna ocorre à medida que ela deixa de compartilhar com Fabio a idéia de que Claudy é "um drogado cuja morte não fará diferença" e tenta mudar o plano.
Os irmãos Dardenne escreveram a trama de "Le Silence de Lorna" a partir de um testemunho real que ouviram de uma mulher. Mas acrescentaram à história outros elementos, como o da gravidez.
Diferentemente de seus dois últimos filmes -"A Criança" e "O Filho"- em "Le Silence de Lorna" a câmera dos cineastas não está colada à personagem.
"Aqui, temos uma câmera mais calma, porque queríamos olhar Lorna. Para isso acontecer, a câmera não podia se movimentar junto com ela. Nossa intenção dessa vez foi mais a de registrar do que a de escrever com a câmera", afirmou Luc.
A Albânia foi escolhida como país de origem de Lorna porque os personagens da história que inspirou o filme eram albaneses. "Queríamos contar a história dessa mulher. O que nos interessava é que ela viesse de um país fora da Europa. Mas poderia ser qualquer outro, como o Brasil, por exemplo", disse Luc.
A atriz Arta Dobroshi, nascida em Pristina (Kosovo), disse que, embora saiba de "pessoas dos Bálcãs que viveram situações semelhantes", procurou enxergar sua personagem como "um ser humano em busca da sobrevivência, que poderia ser de qualquer lugar". (SA)


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